Bem-vindos a mais um texto da série “Gêneros Musicais”! Hoje falaremos sobre o rock, um gênero musical que vai muito além do som — com estilos, melodias e acordes que tocam a alma e fazem o corpo vibrar. Ao mergulharmos na arte dos sons, vamos entendendo como, direta ou indiretamente, as músicas que consumimos em nosso dia a dia nos transmitem muito mais do que ideias ou histórias: elas também nos colocam em contato com emoções e conduzem, sem percebermos, nossa psique para determinados estados emocionais.

Nosso grande objetivo com essa série de textos é causar uma reflexão sobre o modo como consumimos esse tipo de arte e se estamos sendo influenciados inconscientemente pelas músicas que gostamos. Porém, para entender com mais profundidade essa ideia, recomendamos que leiam nosso texto de introdução, pois nele desenvolvemos nossos objetivos e reflexões sobre essa temática.
No texto de hoje, vamos nos dedicar ao gênero “Rock”, que foi criado no século XX e que domina grande parte da cultura humana nos tempos atuais. Apesar de “morto” para alguns críticos, é fato que esse gênero continua a embalar diversas canções e tem milhões de adeptos pelo mundo, que dedicam seus ouvidos a escutarem diferentes gêneros e bandas, transformando o que para muitos é apenas um estilo de música em uma verdadeira conduta social.
O que é rock?
Primeiramente, é fundamental definir o que estamos chamando de “rock”, pois falar sobre esse gênero é mergulhar em um universo onde som e identidade se misturam. Mais do que um estilo musical, o rock se tornou uma forma de expressão quase visceral e moldou grande parte da cultura entre os anos 1950 e 2000. Comecemos então por sua origem: o termo “rock and roll” remonta à década de 1950, nos Estados Unidos, quando o país começava a viver profundas mudanças sociais e culturais. Nesse contexto, a fusão do blues com o country gerou uma nova linguagem musical, diferente de tudo que até então se produzia.
Vale lembrar que nesse período os Estados Unidos viviam sob um forte regime de segregação racial, e isso se refletia profundamente na música. Enquanto o blues era um ritmo majoritariamente tocado pelos negros – assim como o jazz –, o country era dominado pelos brancos, principalmente os que viviam no interior. É justamente desse contato que nasce o rock, como uma forma de expressão que desde sua origem tenta mostrar que não é necessário segregar, e sim unir.

Dentro desse contexto, o nascimento do rock é como uma forma de gerar unidade dentro da música. Ao mesmo tempo, como um gênero novo, era visto como algo marginal, ou seja, que estava à margem da sociedade, e essa pecha ficou durante muitas décadas com o rock. Sempre visto como um movimento de pessoas rebeldes, o “rockeiro” era alguém que, via de regra, buscava subverter a ordem social, seja na sua aparência, nas suas músicas ou mesmo na sua forma de viver.
Assim, naturalmente o movimento atraiu os jovens de cada década, sendo uma forma de manifestar um novo olhar acerca das convenções sociais daquele tempo. Os artistas, portanto, buscavam romper com padrões estéticos e comportamentais. Com guitarras distorcidas, batidas fortes e vocais marcantes, o gênero logo chamou a atenção tanto por seu impacto sonoro quanto por seu efeito simbólico.
Nesse primeiro movimento do rock surgem dois grandes artistas que, de formas distintas, expressam esse espírito revolucionário nascido dentro do rock. Estamos falando de Chuck Berry e Elvis Presley, os dois grandes marcos iniciais da história do rock.
Além da sonoridade completamente diferente do padrão de suas épocas, a forma de dançar e de se comportar revelavam uma nova estética que nascia naquele período, que desafiava as normas e padrões sociais de seu tempo.
Visto isso, já podemos apontar que o rock tem na sua essência uma música que desafia normas, que não aceita o convencional. Assim, de maneira geral, alguém que vibra com tais músicas deve entender que não aprecia apenas canções, mas também adota uma forma distinta de enxergar a vida. Nesse primeiro impulso do rock, como foi possível ver nas canções que colocamos acima, o ritmo é dançante e naturalmente nosso corpo tende a se movimentar. Assim, o rock não nasce sendo apenas uma expressão de ideias, mas também algo que é refletido no próprio movimento do corpo, que, agitado pela distorção das guitarras, produz movimentos espontâneos.
Aqui podemos perceber como a forma de construir uma música afeta direta e indiretamente a nossa psique. Ficamos agitados, com vontade de se movimentar. Diferentemente de um ritmo que pode nos colocar em paz, a acalmar nossa psique, o rock é como uma tempestade que vem para agitar as águas calmas do nosso conforto psicológico.
O papel do rock como influência de gerações
Ao longo das gerações seguintes, o rock influenciou diretamente seus ouvintes. Desde as revoluções estéticas promovidas por bandas como os Beatles ou os Rolling Stones, o gênero nunca ficou preso a uma fórmula, sempre se reinventando e se adequando a novas ideias. Cada época o moldou à sua maneira, mas ele sempre manteve seu espírito de confronto, inovação e liberdade.

Dito isso, o rock não apenas acompanhou transformações históricas, mas foi, muitas vezes, a própria fagulha dessas mudanças. A cada década, serviu como espelho e motor dos anseios sociais, refletindo conflitos, desejos e utopias de uma geração inteira. O que começou como uma música “barulhenta” para adolescentes logo se tornou um verdadeiro fenômeno cultural com o poder de modificar atitudes, comportamentos e até estruturas políticas.
Durante os anos 1960, por exemplo, em plena efervescência da contracultura, o rock se tornou o veículo de protesto e o sonho de um mundo mais livre. As letras falavam de amor, paz, guerra, direitos civis, espiritualidade e experiências alucinógenas. Festivais como Woodstock não foram apenas shows, mas também a expressão de como seria possível um mundo mais livre e sem amarras. Tais eventos representavam uma ruptura com o padrão social, uma tentativa de viver e pensar diferente.
Nos anos 1970 e 1980, sua influência se aprofundou ainda mais. De um lado, surgiram vertentes densas e complexas, como o rock progressivo, que desafiavam os limites musicais com longas composições e estruturas pouco convencionais. De outro, o punk resgatava a simplicidade bruta e jogava o rock de volta às ruas, como linguagem direta da revolta. Apesar de estritamente diferentes, ambos os estilos são formas de apresentar o rock e demonstram uma frase clássica que moldou grande parte das gerações do rock: faça você mesmo, mesmo que ainda não saiba fazer.
Essa liberdade de criar, de testar tudo e de se adaptar foi o que manteve esse gênero musical vivo por tanto tempo e, ao longo de diferentes gerações, ganhando novos ícones.
No Brasil, o rock também desempenhou papel importante na formação da juventude. Bandas como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso deram voz às inquietações da redemocratização e da vida urbana nos anos 80. Suas canções embalaram não apenas festas, mas também manifestações, reflexões e moldaram grande parte do pensamento social. O rock, aqui e em todo o mundo, sempre encontrou uma maneira de dialogar com a juventude, transmitindo o desejo inerente do ser humano por mudança.
Quais sensações o rock transmite a quem o escuta?
Para além das ideias e diferentes tipos de rock, devemos compreender o que esse gênero transmite para seus ouvintes. Essa é, de forma geral, uma tarefa hercúlea a ser realizada, pois os diferentes subgêneros que estão dentro do que chamamos de “rock” tornam essa tarefa quase impossível e generalista. Entretanto, há algo de quase indescritível na experiência de ouvir rock. É como se, em cada acorde, houvesse um pedaço do que não conseguimos dizer em palavras. Rapidamente sentimos que a música invade os sentidos, mexe com o corpo, acelera o coração, e muitas vezes nos leva para lugares internos que nem sabíamos existir.
O ritmo acelerado – na maioria das composições – agita o corpo e isso não é aleatório. Como uma necessidade de expressar o que está reprimido, seja por convenções sociais ou mesmo individuais, o rock funciona como uma válvula de escape, um momento de extravasar e deixar toda energia acumulada sair. Não raramente, por exemplo, vê-se em shows pessoas simulando brigas, empurrões e “batendo cabeça”, apenas para liberar essa energia acumulada. No entanto, não se trata de uma agressividade contra o outro, mas sim de uma maneira de expressar tudo aquilo que no cotidiano fica preso em nosso interior.

Dito isso, há quem encontre no rock um abrigo para a raiva, um canal legítimo para extravasar frustrações que a rotina social insiste em reprimir. Para outros, ele é cura para dores emocionais, com letras que falam sobre perdas, rejeições, ansiedades e medos. Em muitas situações, o simples gesto de colocar fones de ouvido e ouvir um som pesado pode ser terapêutico, funcionando quase como um abraço invisível que nos entende sem julgar.
Essas, porém, não são as únicas expressões que o rock transmite. Há subgêneros que também podem ser leves, eufóricos e que tentam captar um sentido menos revolucionário. Há quem diga, por exemplo, que isso não seja rock, afinal, perde-se a identidade criada desde sua origem, mas essa é uma outra discussão e que não cabe neste texto.
O fato é que, mesmo quando suas letras parecem caóticas ou os arranjos soam intensos demais, há uma sinceridade rara no rock, uma forma de se expressar genuína e que, apesar de não ser tecnicamente perfeita como em outros gêneros musicais, guarda uma marca profunda de sua identidade. Ele não tenta agradar ou se encaixar e talvez, por isso, toque tão profundamente aqueles que o escutam, pois sentem o mesmo sentimento. Em um mundo onde tantas coisas são ensaiadas, o rock ainda soa como algo verdadeiro e ressoa com aquilo que sentimos, mas que muitas vezes não temos coragem ou meios de dizer.
Por fim, atualmente há quem diga que o rock já não é mais o mesmo, que perdeu espaço nas paradas, que os grandes ídolos se foram, que os tempos mudaram. Não por acaso, existe a famosa expressão “o rock não morreu”, pois sua capacidade de se adaptar certamente encontra formas de viver ainda nos nossos tempos; porém, já não tem as mesmas características de outrora. Sendo assim, mesmo que não esteja nas grandes paradas de sucesso ou sendo tocado nas rádios, basta escutar com atenção para perceber que ele ainda está lá, pulsando em algum lugar, mais uma vez à margem, como sempre foi em grande parte do tempo.
Por fim, para os apreciadores desse belo gênero musical, é importante entender que a força do rock está justamente em sua capacidade de não se render à pressão do mundo. Seu espírito de inovação e rebeldia diante das convenções o faz ser eternamente jovem, eternamente enfurecido e capaz de agitar mais uma vez as tranquilas águas da inércia, porque o rock, no fim das contas, não é apenas um som. É uma forma de se posicionar no mundo.
E enquanto houver mundo, haverá espaço para esse som que vibra mais forte do que o silêncio. Além disso, o rock não morreu porque nunca foi só moda. Ele é sentimento. É resistência. É verdade. E a verdade, mesmo abafada, sempre encontra um jeito de voltar a tocar.
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