Bem vindo a série “Celebrações de Ano Novo em Diferentes Culturas” aqui na Feedobem! Aqui você encontrará textos sobre as diferentes celebrações que marcam o início de um novo ano em diferentes culturas, tanto do Ocidente quanto do Oriente. Nosso objetivo é expandir o conhecimento dos nossos leitores acerca dessas celebrações, mostrando que, por mais distintas que sejam as formas que cada cultura encontrou para celebrar essa data, todas buscam, de certo modo, se conectar com esse momento da natureza!
Para aqueles que ainda não conhecem a nossa série, recomendamos fortemente que, antes de mergulharem nas tradições do hinduísmo – que é o tema deste texto em específico –, leiam nosso texto de introdução, pois nele apontamos as ideias gerais sobre o significado do Ano Novo e como pretendemos, ao longo dos próximos textos da série, abordar diferentes festividades e celebrações.
Dito isso, agora vamos embarcar para uma viagem até a Índia e conhecer as diferentes celebrações que ocorrem no período do Ano Novo!
Uma nação, diferentes celebrações de Ano Novo
Primeiramente, devemos entender que a Índia é um dos maiores países do mundo, além de ser um dos mais populoso. Seu vasto território e seus mais de 1 bilhão de habitantes transformam o Ano Novo em um verdadeiro caleidoscópio de tradições, logo, não podemos apontar apenas uma festividade dedicada ao Ano Novo, muito menos uma única data no ano. Devido a diferentes religiões que estão inseridas no subcontinente indiano, há uma certa variação entre essas celebrações, podendo ocorrer inclusive em meses diferentes.

Frente a essa questão, seria injusto apontar nesse pequeno texto apenas uma festividade, assim como seria igualmente impossível abordar todas as dezenas de celebrações. Sendo assim, destacamos duas grandes festas que ocorrem no Ano Novo, celebradas em regiões diferentes; porém, com um simbolismo muito parecido: a Yugadi e a Diwali.
Yugadi: o começo de uma era
A Yugadi é a mais tradicional festa de Ano Novo indiana, sendo a mais celebrada em todo país. O próprio nome já traduz bem o que significa essa celebração, afinal, para os hindus a contagem do tempo se faz a partir dos Yugas, uma palavra em sânscrito que significa literalmente “era”. Para os seguidores do hinduísmo, toda a natureza funciona de maneira cíclica e até mesmo a criação e a destruição do Universo estão ligadas a esse conceito. Nesse sentido, as diferentes eras que nosso cosmos vive são chamadas de Yugas. No plano prático, a festividade de Ano Novo recebeu esse nome porque Yugadi significa “o começo de uma nova era”, sendo o marco de novas celebrações.
Diferentemente do mundo ocidental e do calendário gregoriano, o início desse novo ciclo não é em 01 de janeiro, mas sim em datas diferentes todos os anos, pois os hindus seguem outro calendário, baseado na Lua. Desse modo, todos os anos, entre os meses de março e abril, o Ano Novo é celebrado.
Achou estranho esse tipo de data ser “móvel”? De fato, como estamos acostumados a demarcar o ano por meio da translação da Terra, o que invariavelmente aponta para uma forma solar de marcação do tempo, a Yugadi vai na contramão de nosso senso comum. Entretanto, basta pensarmos em outras celebrações do nosso calendário e percebermos que fazemos a mesma coisa. O Carnaval, por exemplo, todos os anos flutua entre os meses de fevereiro e março e, consequentemente, a Semana Santa, também. O motivo dessa variação também está no calendário litúrgico do cristianismo que também toma por base a Lua.

Uma vez esclarecida essa primeira diferença, a Yugadi tem um símbolo poderoso de renovação. Nessa celebração, é costume os hindus comprarem roupas novas para usarem na festividade, pois o novo simboliza necessariamente o começo de uma nova etapa, uma nova jornada. Além dessa renovação no sentido mais objetivo, o Yugadi simboliza o início da Primavera, o que por si só é a estação da renovação.
Esse é o momento de celebrar o nascimento da natureza física, e também espiritual. Para tanto, os hindus fazem uma grande purificação em seus ambientes: limpam-se as casas e fazem, quando possível, uma decoração nova; começam o dia com um banho ritual, cheio de perfumes e óleos, além do uso das roupas novas que já mencionamos. Tais ações vão além de uma simples prática ritualística: é a busca por encarnar a ideia da renovação em todos os seus sentidos, do mais físico e individual, até mesmo renovação dos espaços coletivos.
Do ponto de vista mais religioso, no Yugadi também se visitam os templos com o intuito de fazer orações e pedidos para que o novo ano traga bençãos e bons augúrios. Assim, as preces são renovadas e a fé mais uma vez ganha um novo sentido, um novo ar perante o momento do Ano Novo. Dito isso, podemos falar que a Yugadi é, acima de tudo, uma celebração ao tempo, esse misterioso fenômeno natural que dá marcha à vida e segue por toda a existência. Enxergar o divino nesses momentos de transição é algo belo e que os hindus alcançam a partir dessa série de ritos durante sua festividade.
Diwali: a vitória do bem contra o mal e o início de um novo ano
Outra festividade importante que celebra o Ano Novo em alguns locais da Índia é a Diwali. Conhecida como “o festival das luzes”, o símbolo principal dessa celebração está na disputa da luz (o bem) contra a escuridão (o mal).

Assim como o Yugadi, a Diwali ocorre em dias distintos em cada ano devido ao calendário lunar, mas sempre ocorre entre os meses de outubro e novembro. Apesar de não ser vivida em todas as partes da Índia como uma celebração do Ano Novo em específico, para algumas religiões advindas do hinduísmo, o Diwali é um momento de recomeço. Para os comerciantes, por exemplo, é nessa festividade que deve se iniciar um novo livro contábil, além de realizar orações e pedidos para que os deuses tragam novos e prósperos negócios. Nesse aspecto, desde o ponto de vista mais elevado até o mais objetivo dos aspectos sociais, o Diwali cumpre com a ideia de recomeço e renovação.
A Diwali também marca um dos mitos mais importantes do hinduísmo, uma vez que é no mito do Ramayana que Rama e sua esposa Sita voltam para o reino após um longo exílio. Para celebrar esse marco mitológico, os hindus celebram a Diwali durante cinco dias, nos quais ocorrem ritos específicos em cada um deles.
No primeiro dia, por exemplo, todas as casas devem ser limpas, e se mostra auspicioso a compra e uso de metais preciosos; já no segundo, a tradição aponta para o rito de acender lamparinas, simbolizando a luta do bem contra o mal; já no terceiro dia, tido como o mais importante de toda a festividade, é onde ocorre os principais ritos e orações, pedindo prosperidade e renovação. É nesse dia também que são lançados fogos de artifício no céu noturno e o máximo de luzes deve preencher as casas e espaços públicos, para iluminar a noite tal como se fosse dia. Entre as pessoas, trocam-se doces e presentes, como um símbolo de concórdia.

O quarto dia é, para alguns, o primeiro dia do ano, sendo o momento de iniciar mais um ciclo; por fim, no quinto e último dia de festividade, celebra-se o vínculo familiar, reforçando os laços entre parentes. Em cada casa, fazem-se orações pela saúde e renovação dos seus irmãos e familiares, garantindo mais um ciclo de prosperidade.
Ao lermos sobre essas tradições de Ano Novo, por mais distintas que possam parecer das nossas, é inegável o sentimento de unidade que percorre esse período do ano. É o momento em que celebramos a união, a busca por um recomeço, a esperança de novos e bons dias em nossas vidas. Esse é o sentimento que, ao que nos parece, permeia todas as celebrações que marcam o Ano Novo. Que possamos, então, fazer desses ritos e celebrações verdadeiras inspirações diárias, pois só poderemos ter um recomeço de fato quando estivermos nos dedicando a isso!