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O temido Hades, Deus dos mortos

A cultura greco-romana é a base da nossa civilização Ocidental. Da filosofia até os nossos idiomas, passando pela religião e pelas formas de organização política, parece que tudo que vivemos hoje tem uma raiz dessa civilização milenar. Talvez por isso admiramos tanto os gregos e suas histórias mitológicas. 

Se observarmos bem, a todo momento estamos em contato com essa rica mitologia. Os livros, filmes, séries de TV e tantos outros meios de comunicação sempre estão, direta ou indiretamente, se referenciando nas histórias contadas por Homero e Hesíodo, dois dos maiores poetas que nos legaram os mitos gregos em seus escritos.

Entretanto, bem sabemos que os mitos não são apenas um apanhado de histórias. Para além disso, os mitos guardam uma visão de mundo, ideias que os próprios gregos buscavam entender e viver cotidianamente. Logo, quando aprofundamos em seus símbolos e ideias, o mito passa a ser um meio de nos conectarmos com aquele povo e sua concepção acerca do Universo. Ademais, ao entendermos as ideias por trás de cada Deus da mitologia grega poderemos compreender um pouco acerca do Mistério que é o Ser Humano e a Natureza que nos circunda.

Pensando nisso, hoje conheceremos um pouco mais sobre um Deus um tanto quanto “temido” por todos nós: Hades, o Deus do mundo dos mortos.

Antes de falarmos sobre Hades, devemos refletir sobre o significado da morte para os gregos. De maneira geral, os gregos acreditavam que a morte e a vida eram duas faces de uma mesma moeda. Ora estamos vivos, ora estamos mortos e eternamente estaríamos oscilando entre esses dois momentos. Nossa Alma, segundo a tradição grega, encarnaria no mundo e depois da morte habitaria o reino de Hades, em que passaria por um processo de purificação e esquecimento para seguir em uma nova vida posteriormente.

Partindo dessas ideias, já devemos considerar que o Deus Hades que conhecemos nos filmes e séries, geralmente retratado como um vilão, não era visto dessa maneira pelos gregos. Ao contrário disso, o submundo representava a entrada nos Mistérios e nele estaria o local mais Sagrado de todo o Universo: os Campos Elíseos, a morada das Almas Puras e das Divindades. Porém, por ser o Deus dos mortos, uma má relação com esse fenômeno da natureza acarretaria, por consequência, em uma má compreensão sobre os símbolos de Hades. Mas afinal, qual a história desse Deus?

Conta o mito que Hades é um Deus da terceira geração Divina. Ele é filho do titã Cronos, o senhor do tempo, e Réia. Por causa de uma profecia, que dizia que o reinado da Divindade do Tempo acabaria pelas mãos de um de seus filhos, Cronos não permitia que seus filhos se desenvolvessem. Assim, no momento em que Réia dava à luz a um novo filho, Cronos pegava o recém-nascido e o devorava. Assim ele fez com diversos Deuses da terceira geração: Poseidon, Héstia, Deméter e também Hades. Somente Zeus, que fora escondido por Reia e cresceu em segredo, pôde viver e ter a chance de desafiar Cronos. 

Em algumas versões, conta-se que Hades e Poseidon foram expulsos do corpo de Cronos após Reia dar ao marido um líquido que o fez vomitar os dois filhos. Após saírem do estômago do pai, Hades e Poseidon se juntaram a Zeus para combater o titã do tempo.  Com a ajuda de seus irmãos mais velhos, Zeus não apenas vence o seu pai no duelo, mas o obriga a vomitar todos os filhos que havia devorado. Assim os Deuses voltam a vida e passam a ajudar Zeus na criação do mundo e no controle das forças da natureza. 

A morada dos Deuses passa a ser o famoso Monte Olimpo, a montanha mais alta do mundo. Entretanto, nem todas as Divindades vão morar nesse local: Hades recusa a vida junto aos outros Deuses para ser o senhor do mundo dos mortos e viver no chamado “mundo inferior”, que passou a ser conhecido também como Hades. Poseidon também recusa a vida no Monte Olimpo para governar os mares e oceanos, sendo, portanto, a Terra dividida em três grandes partes: os céus e a terra, liderados por Zeus; o mundo inferior, comandado por Hades, e os mares e oceanos por Poseidon.

Desse modo, Hades pouco era visto pelas outras Divindades. Raramente o Deus saia de sua morada e quando o fazia, em geral, usava seu elmo que o deixava invisível. Em uma de suas visitas à Terra, o Deus se deparou com uma bela jovem e apaixonou-se à primeira vista. Se tratava de Perséfone, filha da Deusa Deméter com Zeus. Hades, tomado pela paixão, raptou a jovem e a levou para o seu mundo, fazendo de Perséfone sua esposa. 

Após um acordo com Deméter, a Deusa da agricultura, Hades concorda que sua esposa passe seis meses na Terra, na qual daria origem às estações da primavera e do verão, e a outra parte do ano ela viveria no submundo com ele, e esse momento representaria as estações do outono e do inverno. Assim, mais uma vez, vemos a vida e a morte caminhando lado a lado, uma vez que cada estação traz uma tônica acerca dessas duas ideias.

Se pensarmos sobre alguns elementos dos mitos envolvendo Hades podemos extrair deles símbolos e ideias interessantes sobre a morte. O primeiro deles é sobre a arma mágica de Hades: o seu elmo da invisibilidade. Comparado com as armas dos outros Deuses, como o raio de Zeus, por exemplo, o Elmo não parece ter grande potência. Porém, lembremos que Hades é o senhor do mundo dos mortos. A morte vaga pela Terra, de maneira silenciosa e invisível, por isso nunca sabemos quando ela poderá bater em nossa porta. Portanto, por mais raro que seja ver Hades no mundo dos vivos, é possível que ele esteja sempre vagando pela Terra. 

A invisibilidade de Hades é um símbolo de como a morte pode ser imprevisível para nós, mortais, que não a enxergamos. Podemos sair na rua, tropeçar na calçada, bater a cabeça e morrer. Assim como há pessoas que sofrem de diversas enfermidades, mas vivem mais de 100 anos. Portanto, não há como prever quem a morte irá tocar. Por mais que tentemos nos proteger desse destino, ele um dia chegará para todos nós. Muitas vezes, de forma silenciosa e imperceptível, tal qual Hades quando usa seu elmo.

Nos mitos dos grandes Heróis sempre há, em algum momento, uma passagem pelo mundo inferior. Hércules, por exemplo, em um dos seus doze trabalhos, precisa ir até o Hades para buscar o cão Cérberos; Eneias desce ao reino de Hades para encontrar-se com seu pai; Ulisses, voltando para Ítaca em sua Odisseia, observa a entrada do mundo dos mortos e conversa com Aquiles. Por que sempre os Heróis têm esse contato com o mundo de Hades?

Analisando essas passagens, percebemos que o mundo dos mortos tem uma forte relação com a ideia de iniciar-se na Vida Espiritual. Dizem, por exemplo, que cada Ser Humano tem dois nascimentos: um biológico, que ocorre a partir do parto e outro quando estamos conscientemente optando por viver uma Vida Espiritual, ou seja, voltada ao Divino. Desse modo, cada Herói, para ser digno de chamar-se assim, precisa nascer para a Vida Espiritual e, portanto, em sua jornada ele deve “morrer” para o mundo material, dos instintos e desejos. 

Logo, o mundo dos mortos não significa apenas um local em que vamos quando deixamos de viver, mas sim um mundo em que as pessoas mais despertas para uma Vida Espiritual devem caminhar e conhecer. A morte, por si só, é um dos maiores Mistérios do Universo, logo, uma pessoa que pretende caminhar pela trilha Espiritual, ou seja, que quer conhecer os Mistérios do mundo, deve também conhecer o reino de Hades.

Trazendo para a nossa realidade prática, pensemos que para vivermos ideias elevadas, para sermos melhores, mais Bondosos e Justos, é preciso abrir mão de certos comportamentos e atitudes. Por exemplo: se em mim o instinto de violência é forte, se eu gosto de ver filmes violentos, ou mesmo pratico artes marciais apenas com o intuito de expressar essa violência, como serei uma pessoa plenamente Bondosa, que busca ajudar e não machucar os demais? Será preciso, inevitavelmente, mudar essa postura de violência em detrimento de algo melhor, uma Virtude, que nesse caso é a Bondade. Portanto, para sermos melhores e nos dedicarmos a uma vida mais virtuosa, naturalmente algo em nós, que não é bom, deve morrer.

Por isso que os Campos Elíseos, que na mitologia grega é o local mais Sagrado do Universo, ficam no Hades. Lá, nesse mundo de Mistério, apenas as mais Puras Almas podem entrar. Há, portanto, uma parte do Mistério que só poderemos chegar a conhecer se formos bons ao ponto de nos transformarmos em Seres Divinos. Hades, como senhor desse mundo, nos dá a possibilidade de conhecermos o mundo espiritual, que muitas vezes está completamente fechado para nós.

Em nosso cotidiano muitas vezes estamos preocupados apenas com a nossa sobrevivência física: trabalhamos para ganhar dinheiro e nos sustentarmos; desejamos alguém apenas para saciar nosso desejo de reprodução; buscamos o prazer comprando bens materiais e nos jogando em vícios para escaparmos da dor. Logo, grande parte do que fazemos não é buscando nossa Natureza Humana, nossa verdadeira essência Espiritual, mas sim alimentando nossos instintos mais básicos. 

Naturalmente, nesse modo de vida a morte se torna algo a ser temido e evitado ao máximo. Desejamos viver a qualquer preço porque acreditamos que a vida é apenas consumir e sobreviver. Quando, porém, nos abrimos para a ideia de que a vida e a morte são apenas dois lados de uma mesma realidade, e que a morte é tão natural quanto a vida, passamos a buscar entender melhor seus significados. Com o tempo, se realmente buscamos compreender o sentido que há na morte, passamos a compreender melhor a vida. Assim, o reino de Hades deixa de ser assustador e passa a ser um futuro, que um dia estaremos passando por suas portas e atravessando o rio Estige na barca de Caronte.

Hades, enquanto Deus da morte, nos ensina sobretudo acerca da vida. Por isso que um velho ditado diz para levarmos a morte como conselheira, isso significa dizer que a todo momento devemos pensar sobre o que estamos fazendo com a nossa vida. Se soubéssemos, por exemplo, que hoje seria o nosso último dia de vida na Terra, o que estaríamos fazendo? Será que estaríamos comprando o último celular do mercado? Ou se preocupando com uma briga no trabalho? Talvez, ao invés de nos preocuparmos com os relatórios atrasados, estaríamos buscando falar com as pessoas que mais amamos na vida, mostrando assim sua importância e o quanto as admiramos.

A morte é uma excelente conselheira por isso: ela nos revela o que, de fato, é importante em nossa vida. São nesses momentos derradeiros, dramáticos inclusive, que consideramos o quanto devemos ser gratos pelo tempo que ainda temos e que, um dia, estaremos ao lado de Hades nas portas do seu palácio. Por fim, que possamos aproveitar a vida, viver conscientemente os momentos do nosso dia a dia, sabendo que um dia chegaremos ao fim e continuaremos nossa jornada do outro lado. Não deixemos a morte nos temer, mas façamos dela o motor do nosso aprendizado.

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