Apesar de tudo, estamos chegando no Natal de 2020. O mundo não abriu mão de repetir este espetáculo que, desde tempos imemoriais, se celebra em todo o planeta. Este é aquele momento mágico em que as varandas se enchem de pequenas luzes piscando à noite, em volta de pinheiros enfeitados com guirlandas, velas e presentes. Nesta época, o planeta inteiro vira um enorme teatro, onde a peça é o Natal, desde as casas mais simples às mais ricas, do Oriente ao Ocidente, em toda a parte, tudo fica cheio de símbolos, presépios, Papai Noel, ceias, troca de presentes e muitas confraternizações. As propagandas na TV logo entram no clima, os shows, as missas, os cultos evangélicos, o mundo entra no mesmo compasso, na mesma mística e se integra na mesma cerimônia.
É inegável que é algo mágico, um verdadeiro fenômeno. Para tornar esse momento ainda mais significativo, queremos convidar você a refletir sobre o significado de cada símbolo dessa cerimônia universal. Como você acha que isso tudo surgiu? Há quanto tempo está na cultura humana? Como algo assim, tão universal, tão belo, é possível de acontecer? O que significa a árvore, a ceia, os presentes e todos os demais elementos?
Hoje, na atualidade, durante o Natal celebramos o nascimento de Jesus, mas antes de Cristo, nessa época do ano, as culturas antigas do Hemisfério Norte celebravam nesta mesma época do ano a chegada do inverno. Entre os dias 21 e 22 de dezembro ocorrem os chamados solstícios de inverno, que é o momento em que o Hemisfério Norte recebe o mínimo de raios de Sol. Nesse período, as noites são mais longas que os dias, e o inverno começa a surgir. Ao longo dos séculos, essas culturas começaram a perceber que esse era um momento muito simbólico, pois é no inverno rigoroso em que a fé e a espiritualidade se tornam mais intensas, pois a Vida se recolhe para preparar a primavera, todos se recolhem em suas casas e até mesmo o verde exuberantes das plantas se “esconde”. Então, a mensagem que a Humanidade repete, desde tempos tão imemoriais, no período do Natal, é uma mensagem de Renascimento e de Esperança. A síntese do Natal é o renascer, assim como a Natureza parece morrer no inverno para ressurgir na primavera, assim como mesmo a noite mais longa do ano finda com os despontar do Sol no horizonte, o Natal nos lembra que há uma Luz no fim do túnel e que precisamos renovar a Esperança.
Com o surgimento do cristianismo como religião oficial do Império Romano, as cerimônias de solstícios de inverno foram adaptadas para celebrar o nascimento de Jesus e assim foram agregados ainda mais símbolos em torno dessa mensagem essencial. Hoje, o espetáculo do Natal é carregado de símbolos profundos sobre a Alma Humana, que embora tenhamos uma intuição do que representam, quase sempre desconhecemos suas origens. Mas vamos refletir detidamente sobre cada um deles:
Aquela arvorezinha em formato piramidal que usamos para enfeitar a sala é um pinheiro, um tipo de planta que surge em regiões geladas, tem ciclos muito longos e suas folhagens não secam e não caem, mesmo em meio a invernos muito rigorosos. São usadas no Natal para representar esse elemento Divino que habita em todo Ser Humano e que sempre se mantém vivo, mesmo em meio ao inverno, o momento em que tudo se recolhe. Geralmente, os pinheiros usados tem um formato piramidal e no alto é colocada uma estrela. Isso também é simbólico. A pirâmide é uma forma geométrica que nos remete a um tipo de organização em que tudo se verticaliza, convergindo na direção de um ponto, um centro, um vértice. Esse ponto alto, para onde deve se direcionar todos os eixos de nossa Vida representa a Divindade, o Grande Mistério que existe por trás de todas as coisas. No nascimento de Jesus isso está representado na história dos Reis Magos que peregrinaram em uma longa jornada em busca do Filho de Deus. Nessa jornada, o que os auxiliou no caminho foi uma estrela-guia que aparecia no céu. Com esse símbolo, precisamos lembrar que a nossa jornada também precisa ser guiada pela busca do Divino.
O formato dos presépios pode variar muito, mas em geral tem um menino Jesus em um berço no centro, cercado pelos seus pais, Maria e José, pelos Reis Magos, e por animais como bois, cordeirinhos, etc. Nas tradições antigas, o boi representa a matéria que nos sustenta. Por mais espirituais que sejamos, não podemos esquecer que nossa sobrevivência é material. Precisamos de comida, moradia, vestuário, etc. Mas no presépio da Vida, o boi, ou seja, a sobrevivência está em volta do Menino Jesus que representa o aspecto Divino, Espiritual. Como diz a tradição cristã, “nem só de pão viverá o homem”. A Vida é cercada de aspectos que transcendem às necessidades materiais, a Humanidade não se faz apenas com comida, vestuário e moradia, temos necessidade do sublime, do místico e isso não é uma invenção, é uma realidade tão verdadeira como é este mundo concreto. Assim, o presépio reúne essas dimensões da Vida, a matéria, o animal, o humano e o Divino, todos reunidos em um mesmo espaço, o espaço da Vida.
A ceia de Natal representa a grande confraternização Humana, o encontro de todas as pessoas. Dizem que essa tradição começou a ser agregada às cerimônias do Natal na Europa Antiga, pois havia muitos peregrinos que andavam longas jornadas e, ao final do ano, durante o inverno rigoroso, eram acolhidos em casas de pessoas desconhecidas que, envolvidas no espírito do Natal, os recebiam no seio de sua família e comiam juntos. Assim foi se firmando esse rito da ceia de Natal, tão representativo do encontro Humano, da necessidade de todos se verem como uma Família Única.
A neve é utilizada de forma simbólica no Hemisfério Sul, a fim de convocar esse espírito do inverno originalmente do Hemisfério Norte, em que tudo se recolhe para preparar o novo amanhecer. Já os presentes representam as trocas Humanas, a entrega daquilo que temos de melhor. Nesse período do ano, a busca do que há de mais sublime em nós passa pelo desapego, o esvaziamento e ao mesmo tempo, a descoberta do outro. É um momento para demonstrar afeto, acolhida e atenção.
Não deixe que esse momento tão sublime, construído ao longo de milhares de anos, agregando tantos símbolos e tanta profundidade caia na mecanicidade. A cerimônia, essa capacidade de sacralizar e dar sentido para as coisas, é, de certa forma, o que nos faz Humanos. Temos a opção de ignorar isso tudo e repetir as mesmas ações mecanicamente, encarando o Natal somente como um momento para satisfazer os prazeres grosseiros da gula e do conforto. Mas a escolha que nos torna verdadeiramente Humanos é aproveitá-lo para se integrar ao ritmo da Natureza, à História, à Humanidade e a Deus, esse Grande Mistério que brilha em cada estrela que há no céu, que movimenta a vastidão dos Oceanos e que também habita em nossos Corações. Estamos passando uma noite muito escura e longa neste ano de 2020, este é um Natal diferente, nunca precisamos tanto viver a essência deste momento, que é a mensagem de que, por mais longa que seja a noite, o Sol há de vencê-la e brilhará no horizonte no outro dia.
Que possamos vivê-lo com Verdade e Intensidade!