A mitologia, desde sempre, encanta o Ser Humano. Crescemos escutando fábulas, lendas e contos, alguns mais conhecidos que outros, porém, todos guardam em si algum mito que nos marcou. Isso ocorre não apenas por gostarmos de escutar uma boa história, mas principalmente pelas ideias que elas carregam e que nos inspiram. A famosa “moral da história” que nossos pais contavam ao fim de uma leitura, por exemplo, geralmente gravam em nossa memória uma ideia clara de como deveríamos ou não agir diante de um dilema.
Se aprofundarmos um pouco nosso conhecimento acerca das diversas mitologias que existem na História, perceberemos rapidamente que toda cultura humana buscou guardar suas ideias e princípios em mitos. A mitologia, afinal, tinha como finalidade explicar o que, ainda hoje, não sabemos: de onde viemos, para onde vamos e qual a nossa finalidade enquanto Seres Humanos?
Essas são as perguntas existenciais que, provavelmente, todos nós nos deparamos. Por não serem respostas simples, a mitologia pode ser entendida como um conjunto de ideias e símbolos que, cada uma a seu modo, busca apresentar uma percepção da Vida e de como esta surgiu. Assim, as diferentes civilizações apenas buscaram formas distintas (e histórias igualmente distintas) para tentar responder uma pergunta que é própria do Ser Humano.
Não por acaso, quanto mais nos debruçamos sobre as mais diversas mitologias, mais “parecidos” alguns de seus elementos e ideias se mostram. As comparações entre Deuses, heróis e mitos são inevitáveis, uma vez que acabam nos ajudando a compreender um pouco melhor dessa linguagem simbólica utilizada nessas histórias. Percebendo então a necessidade de conhecer cada vez mais sobre mitologia, hoje falaremos sobre uma das Divindades mais conhecidas pelos amantes da civilização Grega: Hermes, o Deus dos viajantes.
Hermes é uma Divindade com vários atributos, porém, a sua mais marcante característica é ser o mensageiro dos Deuses. Filho de Zeus com Maia, uma das filhas do Titã Oceano, Hermes era representado como um homem de porte atlético, com suas sandálias aladas e sempre pronto para criar a comunicação entre os Deuses e a Humanidade. Ele aparece em diversos mitos cumprindo vários papéis: No mito de Eneias, por exemplo, ele aparece levando mensagens e desígnios de Vênus para o herói Troiano e futuro fundador da civilização romana. Em outras histórias, o próprio Hermes ajuda os heróis a superarem suas provas, como no caso de Perseu e a Medusa, quando o mensageiro divino entrega suas sandálias para que Perseu derrote a Mênade.
Os mitos que envolvem esse Deus são variados. Um dos mais conhecidos fala de como Hermes enganou seu irmão, Apolo. Ainda criança, Hermes teria encontrado o gado do Deus do Sol e furtado alguns bois para se alimentar. Apolo, ao saber do roubo que seu irmão cometeu exigiu que o mesmo devolvesse sua propriedade. Hermes, porém, já havia comido a carne dos animais, então ofereceu uma lira para compensar o irmão pela perda. Apolo, apreciador da arte e da música, aceitou de bom grado a lira. Pela sua sagacidade frente a situação com Apolo, foi concedido a Hermes zelar pelos comerciantes, mas também pelos ladrões, uma vez que havia furtado seu irmão.
Esse mito é interessante pois nos mostra que até mesmo os malfeitores, ou seja, aqueles que cometem crimes, têm em si uma ligação com os Deuses. Não significa dizer, obviamente, que os seus atos são justos e dentro da lei, porém, é fundamental perceber que enquanto Seres Humanos todos nós, sem exceção, somos capazes de interagir de maneira profunda com a espiritualidade. Quando fala-se em diversas tradições, por exemplo, que “o divino está em todas as coisas” é, de fato, tudo. Mesmo as pessoas que nos fazem mal, seja em que grau for, ainda têm um aspecto espiritual. A vida, afinal, é uma só e apresenta as mais diversas formas e situações. O que consideramos “bom” ou “ruim” é a maneira que somos afetados por algo. Assim, Hermes vai conjurar em si características bem peculiares, que normalmente não acharíamos conveniente a um Ser Divino. O mensageiro dos Deuses, por exemplo, prega peças em outras Divindades e em mortais, além de colocar os viajantes em caminhos tortuosos.
Para além disso, Hermes também é visto como o Deus dos comerciantes, pois também entendia-se que ele protegia as estradas e conectava diferentes regiões. Como podemos perceber, essa Divindade tem como característica a comunicação, em seus mais diferentes aspectos. Suas sandálias aladas garantiam uma agilidade própria de um Deus, além de carregar consigo o famoso “caduceu de Hermes”, um bastão com duas serpentes se entrelaçando e com asas na sua parte superior. Provavelmente você já o viu, uma vez que o caduceu é o símbolo da medicina, mas na antiguidade ele também era usado por comerciantes. Símbolo da ascensão aos Mistérios Divinos, o caduceu foi representado de diversas maneiras, mas em geral busca mostrar essa evolução espiritual. No caso do comércio, essa evolução estava ligada ao lucro a partir da compra e venda das mercadorias.
Uma outra atribuição de Hermes era o de levar a alma dos mortos até a entrada do submundo. Assim mostra-se uma outra faceta do Deus: guia dos mortos. É interessante notar como os símbolos e ideias representadas por Hermes se misturam. Ele, enquanto Deus dos viajantes, é também aquele que leva nossa alma para uma outra dimensão, pois esse também tem um caminho a ser percorrido. Hermes, simbolicamente, leva os Seres Humanos do mundo material, objetivo, “vivo”, para o mundo invisível, subjetivo, o mundo dos “mortos”.
Não por acaso o seu caduceu representa, além dos atributos que já mencionamos, a ideia da iniciação nos Mistérios. As serpentes, que representam a dualidade humana, sobem até as asas em busca de unirem-se em um único ponto. Assim, aquele que busca conhecer a Verdade e as Leis da Natureza deve buscar unir as diferentes partes que o compõem. Esse nascimento espiritual, simbolicamente falando, representa a “morte” da matéria, dos desejos, dos instintos. Hermes, portanto, em algumas chaves de interpretação pode ser considerado como uma Divindade que representa a ascensão do espírito sobre a matéria.
No Antigo Egito, por exemplo, o culto a Hermes – a partir da dominação de Roma sobre o Egito – esteve diretamente ligado ao culto ao Deus Thot, o Deus da Sabedoria para os egípcios. Um grande Mestre de Sabedoria chamado de Hermes Trismegisto – três vezes iniciado – inclusive, adotou o nome Hermes em referência a essa Divindade e a sua inspiração para conectar os Homens aos Deuses.
Compreendendo todos esses aspectos, podemos refletir sobre o papel de Hermes e, principalmente, sua característica como mensageiro e elo de comunicação entre o Divino e o Ser Humano. Em linhas gerais, quando pensamos na comunicação podemos defini-la, em poucas palavras, como um meio de encurtar a distância entre duas pessoas e estabelecer, acima de tudo, uma ligação entre elas. No nosso mundo atual, as redes sociais, por exemplo, são meios de comunicação que, objetivamente, facilitam-nos realizar a ligação com outras pessoas ao redor do mundo. Porém, nossa comunicação através dos inúmeros meios que temos atualmente só refletem aspectos materiais, ou seja, não nos ligamos às pessoas ou as ideias em busca de nos elevarmos até um patamar espiritual. Na maior parte do tempo, infelizmente, estamos mergulhados na materialidade do mundo, ou seja, resolvendo problemas, discutindo e criando elos que nos mantém presos nos desafios da matéria.
Como o símbolo do caduceu, deveríamos buscar nos conectar com aquilo que nos eleva, que nos tira do “chão” e nos faz voar até os Céus, tal como as sandálias aladas de Hermes. Por isso que essa Divindade tem tantos atributos, pois percorre todos os caminhos que levam da terra ao Céu, do material ao Espiritual. Cabe a nós, portanto, saber criar elos melhores e buscar uma conexão pura com nosso aspecto mais Divino, afinal, esse é o caminho natural do Ser Humano.
Como diz uma antiga frase, “não viemos ao mundo para fazer coisas, mas para evoluir”. Assim, Hermes se torna uma ideia fundamental em nossa jornada, pois mostra que podemos abrir esse canal com o Universo e buscar compreender tais Leis. Objetivamente, se nos inspirarmos nessa ideia poderemos olhar para a vida como um rico e fértil campo de oportunidades em que a todo momento podemos extrair valiosas lições. Assim, quem sabe possamos alçar vôos mais altos e tocar as estrelas até irmos, pouco a pouco, nos elevando até a dimensão Espiritual, guiados pelo Divino mensageiro Hermes.