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Ao longo da história, muitos impérios foram erguidos. Acádios, Persas, Macedônios, Romanos, Chineses, Mongóis. De fato, a experiência de expansão territorial e domínio de um povo sobre outros é tão antiga quanto a própria Humanidade. Há quem afirme, a partir desse fato, que conquistar e dominar fazem parte da Natureza Humana. Afinal, o Homem seria o “lobo do próprio homem”. Apesar da afirmativa de Thomas Hobbes parecer real e cada dia mais atual, pretendemos abordar outros aspectos acerca da história desses impérios que o mundo presenciou. Nesse texto vamos nos deter no Império Babilônico, uma das mais antigas experiências humanas quando se trata da expansão e da conquista de novos territórios.

O Império Babilônico floresceu na região do crescente fértil, entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque), por volta do ano 1790 a.C. Se você prestou atenção às aulas de História na escola saberá que essa região, na antiguidade, também era conhecida como “Mesopotâmia”, uma palavra grega que significa “terra entre rios”. Durante séculos, a região do Crescente Fértil observou a ascensão e a queda de diversos povos: sumérios, acádios, assírios e também os babilônios, que, após o declínio do seu Império, retornariam ao auge no ano de 650 a.C. Essa sucessão de povos que tiveram seus apogeus e declínios foi acompanhada de uma forte troca cultural e econômica. Para citarmos apenas um exemplo, a escrita cuneiforme, inventada e desenvolvida pelos Sumérios em torno do ano 4000 a.C., foi largamente utilizada pelos outros povos mesopotâmicos, inclusive os babilônios. A biblioteca de Nínive, uma das mais grandiosas de toda a Antiguidade, continha mais de 20 mil blocos de argila com escritos em cuneiforme. Graças a esses blocos de argila é que conhecemos com profundidade alguns aspectos da vida na Babilônia.

A palavra “Babilônia”, que também é de origem grega, foi criada a partir de uma adaptação da palavra acádia “babili”, que significa, a grosso modo, “porta de Deus”. Esse é um nome impactante para uma cidade e certamente se deu devido aos famosos portões da babilônia, também conhecido como portal de Ishtar, de 14 metros de altura. Mas a capacidade arquitetônica dos babilônicos não se limitava à construção de pórticos. Foram eles que construíram a torre de Babel, por exemplo, a torre descrita na bíblia, que teria enfurecido Deus e dado origem aos diversos idiomas do mundo. Ela teria cerca de 96 metros de altura e seria, na verdade, um zigurate: uma construção que servia como templo, armazém e observatório astronômico para os sacerdotes e administradores babilônios. Esse é um ponto interessante para refletirmos sobre essa civilização: a capacidade de integrar diversos elementos sociais em um único ponto. 

Réplica do portão da babilônia, no British Museum

Os zigurates são um símbolo de como, para os babilônios, o aspecto religioso não estava desconectado do mundo material. O culto aos Deuses partilhava o mesmo espaço com as relações administrativas, por exemplo. Assim, integrava-se o aspecto espiritual na vida cotidiana. Se fizermos uma rápida comparação, perceberemos que a sociedade atual, adaptada e formatada em um modelo de divisão, separa todos os aspectos da vida: religião, política, economia, arte e o próprio indivíduo. Observamos tudo de maneira fragmentada e não notamos que, na verdade, não existe separatividade: a vida religiosa está intrinsecamente ligada, por exemplo, à nossa conduta enquanto cidadãos e etc. Quando separamos esses aspectos, mostramos, indiretamente, que internamente também estamos divididos. Não sabemos harmonizar nosso pensar, sentir e agir e, tal qual um espelho, refletimos essa incongruência em nosso cotidiano.

Mas qual o legado deixado por essa civilização?

Para respondermos essa questão, devemos adentrar um pouco na História. O império babilônico é dividido em dois momentos: o primeiro império babilônico e o segundo império babilônico, ou neobabilônico. O primeiro império, como citado acima, surge por volta do ano de 1790 a.C. e tem uma curta duração. Sua ascensão se deu quando o rei Hamurabi invadiu outras cidades da região da Mesopotâmia e assumiu o controle de toda a região. Infelizmente, após a morte de Hamurabi, o controle do império se fragmentou e o domínio da maior parte da região ficou nas mãos dos Assírios. Já o segundo império surgiu apenas no século VII a.C., por volta do ano 626 a.C., e só foi derrotado em 539 a.C. pelo exército Persa, comandado por Ciro, o grande. A derrota para a civilização Persa marca o fim das civilizações mesopotâmicas, que passariam a ter sua região controlada, ao longo dos séculos, por diversos estrangeiros, como macedônios, romanos e árabes. 

É interessante notar que, nos dois momentos históricos, o declínio tem como fator a perda do elemento de Unidade entre os cidadãos: no primeiro império, a morte do rei Hamurabi acaba fragmentando a unidade entre os cidadãos; já no segundo, a relação entre governantes e governados mostrava-se tão debilitada e desarmônica que Ciro é aclamado pela população ao derrotar o imperador Nabonido. A perda da Unidade, dessa visão Una, da qual todos os cidadãos fazem parte de um Estado, enfraquece a convicção das pessoas e, por fim, como uma rachadura na parede, a estrutura social começa a ruir. O caso do império babilônico é um dentre vários na história dos impérios que acabam chegando ao fim após uma longa desestruturação de suas bases ideológicas, necessárias para erguer Leis e reger os homens.

Apesar da curta duração, é interessante notar que, em ambos os momentos, os babilônios conseguiram desenvolver aspectos sociais que legaram ao mundo. Uma dessas contribuições foi realizada pelo rei Hamurabi, que criou o primeiro Código de Leis Escritas da Humanidade: o código de Hamurabi. Provavelmente você já escutou a frase “olho por olho, dente por dente”, Essa é a “lei de talião”, na qual se baseia o código feito pelo rei Hamurabi. Apesar de parecer bárbara e ultrapassada, a criação de um código de leis possibilitou, pela primeira vez na História, uma forma sistemática de punições para delitos e infrações sociais. Hoje em dia não se aplicam as leis do código de Hamurabi, mas, assim como as técnicas de construção e a escrita cuneiforme, elas determinaram um passo importante para a construção do Estado.

Outro elemento presente nos dias atuais e que já se encontrava entre os babilônicos é a astrologia. A ideia de que os astros influenciam (mas não determinam) nossas características e tendências pode parecer duvidosa e falha. Entretanto, no mundo atual, milhares de pessoas leem o horóscopo e sabem detalhes do seu mapa astral. Não entraremos no mérito de que a astrologia tem respaldo científico ou não, porém é inegável seu valor na vida de grande parte da população. Esse conhecimento foi construído a partir da observação das estrelas e sistematizado, por exemplo, nos doze signos do zodíaco. Os babilônios, porém, não foram os únicos que se debruçaram sobre as estrelas e sua relação com a Vida Humana: hindus e chineses, no Oriente, também realizaram uma profunda investigação acerca dos astros. Mas a astrologia que conhecemos hoje foi, de fato, a sucessora do antigo conhecimento dessa civilização mesopotâmica.

Apesar de herdarmos esses aspectos do império babilônico, raramente lembramos desse povo como símbolo de uma cultura elevada, muito menos reconhecemos seus avanços tecnológicos como legado para nossa sociedade. Contrário a isso, as narrativas em que comumente encontramos acerca desse povo o retratam como um povo de natureza violenta e pouco amigável. Dentro das narrativas bíblicas, por exemplo, está o cativeiro da babilônia, em que os Hebreus teriam sido conquistados e levados como escravos. Entretanto, devemos compreender que toda civilização tem um apogeu e, naturalmente, uma queda. Se observarmos qualquer civilização em seus momentos mais críticos, podemos encontrar traços negativos e que não refletem seu aspecto mais Humano. Os impérios, da maneira que costumamos retratá-los, em geral são apresentados em suas características mais vis. Porém, não somente pela força é que uma civilização entra para a História. Isso contribui para termos uma visão parcial acerca dessas civilizações, considerando-as como opressoras e naturalmente perversas com seus cidadãos. 

O que nos cabe fazer nesses momentos é retirar os ensinamentos advindos desses momentos históricos e guardar as referências úteis. A maior lição que podemos extrair da ascensão e da subsequente queda da Babilônia é que a causa de seu desmoronamento foi a ruptura da Unidade. Quando quebramos a Unidade, matamos o Ser. Por exemplo, a nossa constituição física é una. Já imaginou o que pode acontecer se começarmos a quebrar a unidade do nosso corpo? Imagine você o que acontece se o nosso coração resolver reter o fluxo sanguíneo só para si, sem bombeá-lo para todo o corpo? E se as células também resolverem trabalhar só para si, sem interação nenhuma com as outras células? Entraríamos em colapso, não é verdade? Assim é com o movimento da história das grandes civilizações. Sempre que rompem com a Unidade, desabam. Foi assim com a Babilônia, com os Persas, com os Gregos, os Macedônios, os Romanos etc. O pior é que, quando olhamos para a nossa civilização atual, o que percebemos de cara? Muita desagregação, muitas rupturas das Unidades. Nossas subestruturas, igrejas, sindicatos, partidos políticos, nações, não servem mutuamente em direção ao Bem comum de toda a Humanidade. Pelo contrário, trabalham diuturnamente em nome dos seus exclusivos interesses, mesmo que, para isso, coloquem em risco os interesses de todos os Humanos. 

Olhando para o exemplo da queda de um império que se elevou a cumes tão altos, como foi a Babilônia, e comparando suas razões de queda com o comportamento atual, inevitavelmente chegamos à conclusão que da mesma forma caminhamos para um abismo. O que fazer diante disso? 

Pouco nos ajuda rememorar momentos de crueldade e de desvalorização humana que, em maior ou menor grau, todas as sociedades viveram.  A receita, tão antiga quanto a escrita cuneiforme, para isso, é: aprender com o passado para não repeti-lo. Ao mesmo tempo, apoiar-se no legado positivo desses povos para impulsionar um novo auge dentro do nosso mundo. Parafraseando Sir Isaac Newton: só poderemos enxergar mais longe se subirmos nas costas dos gigantes. Que possamos, portanto, subir e aprender com esses homens do passado que do deserto ergueram maravilhas no mundo antigo. Aprender com essas experiências que a ruptura com a Unidade nos leva ao desabamento, mas não aprender isso apenas intelectualmente. Precisamos, mais do que apenas enxergar como uma informação, lidar com essa história como um método de existência e praticar a Unidade o tempo todo em todos os aspectos da nossa Vida, lutando diuturnamente pela agregação, pela colaboração mútua e, acima de tudo, por um despertar de consciência em direção à Unidade. Levando-nos a entender que somos uma espécie de circuito integrado em que religiões, culturas, correntes políticas, blocos de opiniões, corporações de todo o tipo, apesar de diferentes, estão integradas em um sistema único, com um fim específico, que é a grande jornada evolutiva de toda a Humanidade. Somente vivendo realmente essa ideia de Unidade, desviamos a nossa Grande Civilização Humana da rota para o abismo e re-direcionamos sua jornada para os cumes mais altos da História.

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