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A Reforma Protestante e a Reforma Dentro de Nós

De tempos em tempos nossa vida necessita de reparos. Tal qual uma casa antiga, em que as paredes necessitam de uma nova pintura, precisamos também ser reformados. Em outras palavras, rever atitudes que já não condizem com o que somos, com nossos gostos e pensamentos; ou até mesmo, em casos mais profundos, mudar o nosso estilo de vida, algumas companhias, e nos refazermos. Apesar de parecer natural, muitas vezes esquecemos que evoluímos ao longo do tempo e que as mudanças são mais do que uma necessidade: uma lei da natureza. Não podemos ter a mesma vida de quando éramos crianças, afinal, por mais agradável que a infância seja, hoje já não somos mais os mesmos. Da mesma forma, durante o século XV e XVI, a religião cristã sofreu uma reforma. Estamos falando da Reforma Protestante, que teve como consequência a fundação do Protestantismo, uma corrente religiosa paralela ao Catolicismo, mas que também segue os preceitos cristãos.

Mas o que foi a Reforma Protestante? 

Antes de tudo, vamos nos situar no tempo: estamos no fim da Idade Média, por volta dos anos 1.510. O mundo já não é mais como  há séculos. As navegações portuguesas e espanholas descobriram um novo continente, e a Terra, ao que parece, não é plana, mas sim um globo. Os monstros que supostamente habitavam o oceano não foram encontrados e talvez nem existam. As histórias contadas pela Igreja acerca disso tudo estavam, aparentemente, equivocadas. Novas linhas de pensamento incentivam o Homem a pensar por si mesmo, e aos poucos começam a surgir movimentos que fazem frente à mentalidade religiosa e voltam-se para a leitura dos antigos gregos e romanos. Apesar desses avanços, não nos enganemos: ainda é uma época perigosa para se falar qualquer coisa. A Inquisição julgava qualquer um que fosse contrário aos dogmas cristãos, acusando-o de heresia. Assim fora com Copérnico, que precisou negar tudo que falara, e assim também foi com Joana D’arc e com Jan Hauss. Mas, mesmo a força da Inquisição não seria suficiente para deter o avanço do novo. 

É nesse contexto que nasce Martinho Lutero, um monge Agostiniano que irá implantar uma profunda reforma na religião cristã. Adepto das ideias de Jan Hauss, um padre que morreu pelas mãos da inquisição em 1.415, Lutero defenderá a liberdade de culto e a liberdade de consciência individual. Em outras palavras, Lutero vai apresentar a ideia de que não é necessário um intermediário para se comunicar com Deus. Cada indivíduo teria capacidade de se ligar ao Divino, não necessitando assim de padres, bispos ou estátuas para quem se deve fazer pedidos. Outro tópico bastante criticado por Lutero foi a venda de indulgências como meio de conseguir o perdão pelos pecados cometidos, de todas as naturezas, para garantir a purificação da Alma e a entrada no Paraíso. Em outras palavras: você poderia pagar para ser perdoado e entrar no céu.

E foi justamente a prática da venda de indulgências que gerou o estopim para a Reforma Protestante. Em 1517, o papa Leão X lançou uma bula papal afirmando que quem contribuísse para a construção da catedral de São Pedro (atual basílica de São Pedro) receberia de Deus o perdão total de seus pecados. Esse acordo foi feito com franceses, ingleses e alemães, de forma que ficou parecendo mais um tipo de “Negócio” em que as pessoas entravam com o capital, e a Igreja, com o perdão. No mesmo ano, Lutero escreveu suas famosas 95 teses e as pregou na porta da Igreja de Wittenberg. 

E o que são as 95 Teses de Lutero? 

Basicamente, as 95 teses formam um documento em que Lutero critica as práticas da Igreja e defende, do ponto de vista teológico, as razões pela qual a conduta do papa e de outras figuras do Catolicismo estavam equivocadas. Peguemos, por exemplo, a tese 27 que diz:

27 – Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

Esta tese admite que a venda de indulgências não garante em nada a salvação da Alma, uma vez que tal prática é uma doutrina dos Homens, e não de Deus. Com a publicação das 95 teses, inicia-se o confronto entre Roma e Lutero. A posição crítica do documento chamou a atenção do papa, que exigiu a retratação do monge. Lutero não se retratou perante a Igreja ou a sociedade, e teve como punição ser excomungado da Igreja. Ele só não foi morto, como tantos outros foram, devido à sua influência na corte alemã, que o protegeu e garantiu que suas ideias continuassem a ser difundidas. Somente em 1530, 28 anos após o lançamento das 95 teses, Lutero fundamentou sua doutrina, a qual se baseava na crença de que a fé era a única e verdadeira fonte de salvação, ou seja, a salvação não podia ser comprada. Lutero também lançou as bases de uma nova Igreja, sem hierarquias religiosas, sem culto a imagens e com uma série de reformas na conduta cristã. 

Concílio de Trento. (Reprodução)

Com o avanço das ideias de Lutero, a Igreja Católica buscou se reposicionar, e em 1545 lançou o Concílio de Trento, que só chegaria ao fim em 1563. A bem da verdade, o movimento chamado de “Contra-Reforma” ou “Reforma Católica” teve início, de forma tímida, no final do século XV, revisando algumas contradições já existentes na doutrina católica. Mas é a partir do Concílio de Trento que, de fato, a iniciativa de reformular ou repensar os dogmas católicos é acelerada. 

O Concílio serviu para reafirmação de alguns dogmas católicos e ajudou com a manutenção da hierarquia dentro da Igreja. Mas, por outro lado, fez surgir normas para proibir a venda de indulgências. É a partir daí que se criam os seminários teológicos, a fim de aumentar o nível de formação do clero. Essas medidas foram importantes para realinhar algumas ideias católicas que, diante de quase mil anos de atividade, estavam a perder de vista suas bases ensinadas pelo Cristo. 

Ainda hoje existe a diferenciação entre Catolicismo e Protestantismo, mas não restam dúvidas que as reformas religiosas ajudaram a estabelecer um novo patamar para o Cristianismo como um todo. Apesar de distintas, ambas buscam chegar ao Sagrado a partir de uma concepção religiosa. Por mais que, infelizmente, ainda ocorram atitudes hostis por alguns membros de cada uma das Igrejas, não podemos desconsiderar o importantíssimo papel destas instituições na Vida de quem busca viver seriamente seus preceitos. Nesse sentido, não devemos enxergar esse momento histórico como uma separação entre os cristãos, mas uma nova maneira de viver as ideias de Cristo a partir de novas interpretações e preceitos.

Entendemos que para muitos religiosos essa quebra de paradigma pode parecer uma imprudência, porém, como já apontamos no começo desse texto, a todo momento a vida exige novas posturas, um novo pensamento e devemos nos adaptar e evoluir conforme as necessidades. Assim, é natural entendermos que não se pode praticar os mesmos dogmas e condutas de 2 mil anos atrás, pois os tempos são outros. A mudança na forma, entretanto, não deve acompanhar uma mudança na essência, que é a parte fundamental de toda religião. Assim, os princípios de fraternidade, amor e piedade, por exemplo, devem seguir sendo a tônica de todo cristão, não importando sua congregação.

Diante de todas essas reflexões, cabe-nos ainda nos perguntar: afinal, quais ensinamentos podemos aprender a partir dessas reformas religiosas para aplicá-los em nossas Vidas? Se considerarmos que nem todos vivem os preceitos cristãos, será que, para uma pessoa de outra religião ou até mesmo para quem não possui uma crença religiosa, essas ideias são válidas?

O primeiro passo para respondermos a essa pergunta é refletirmos se, assim como a Igreja no século XVI, não precisamos de algumas reformas? Será que, com o passar do tempo, em nossa Vida cotidiana, não acabamos nos desconectando dos Princípios que deveriam nortear nossas Vidas? Por vezes, em algumas situações acabamos abrindo mão de nós mesmos para o interesse de outros. Seja fazer algo que vai contra os nossos Princípios, seja moldar a nossa forma de ser somente para tentar agradar aos demais. Quando fazemos isso, acabamos por vender o que acreditamos.

Este é um grande perigo, mas geralmente ele entra em nossas Vidas sem que estejamos conscientes dele. Por vezes, ao entrarmos na vida adulta e sermos sufocados pelas demandas cotidianas, perdemos a pureza e alegria infantil que vivemos em nossos primeiros dias. Essas qualidades, que certamente trazem em nós uma satisfação divina, acabam sendo deixadas de lado em troca do estresse e da desconfiança, que são fomentados a todo momento em nossa sociedade. 

Luther at Worms

Perdemos essa capacidade e olhamos para os mais jovens com a sensação de que eles ainda não sabem o que lhes aguarda no futuro. Mas será que não fomos nós que nos perdemos no caminho? É evidente que a vida adulta nos exige responsabilidade e dedicação; no entanto, não devemos encarar tais questões como um fardo ou mesmo um castigo, mas como um ato de justiça, afinal, como em grande parte de nossas Vidas fomos cuidados por outras pessoas, não seria agora o momento de tomar as rédeas e nos aportar aos demais?

Por isso que, cotidianamente, deveríamos buscar novas reformas, mas não apenas em aspectos externos. Essa reforma deve ser buscada, principalmente, no interior de cada um de nós. Ou seja, devemos rever posturas, conceitos ultrapassados, e sempre se perguntar: O que estou fazendo hoje que me levará para um amanhã melhor? Se não perdermos essa pergunta de vista, poderemos entender melhor o valor dessas reformas. Então, vamos alinhar nosso ponto de vista, ajustar as velas da barca de nossa Vida, para navegar rumo a um futuro ascendente, brilhante e melhor.

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