O que é necessário para um ser humano entrar na história? Alguns podem afirmar que o trabalho é o melhor caminho, entretanto, quantos milhares de trabalhadores diários passam suas vidas na labuta e não têm seus nomes estampados nos livros, ou mesmo em uma praça ou uma estátua? Em geral, eles são representados em coletivo, como “os trabalhadores” ou “a classe trabalhadora”, nunca de forma individual.
Outros podem afirmar que o dinheiro é o responsável por fazer seu nome marcar a história e, talvez, possamos conhecer o nome de alguns bilionários. Mas será que todos são assim? Ou seus nomes aparecem em listas que quase ninguém lê e, em grande parte, os ricos acabam por viver uma vida particular e que não têm por pretensão deixar sua marca indelével nos anais históricos?
A bem da verdade, marcar a história pouco tem a ver com dinheiro e trabalho, mas sim com ideais de vida e realizações coletivas. Se algo marca a história é porque antes disso marcou a sociedade do seu tempo, seja para o bem ou para o mal. É por isso que as guerras, por exemplo, geralmente entram para a história, pois são um trauma coletivo que define, muitas vezes, a continuidade ou não de um povo ou cultura.
Frente a isso, podemos observar o passado e nos perguntar o que fez com que os indivíduos que estudamos arduamente na escola e dos quais vemos os nomes gravados pelas cidades fizeram pelo nosso país. Podemos descobrir boas histórias de verdadeiros heróis que, apesar de serem reconhecidos pela memória coletiva, ainda são quase anônimos em nosso imaginário individual. É o caso de Duque de Caxias, um dos principais heróis militares do Brasil. Podemos ver seu nome em cidades, escolas, praças e avenidas das principais cidades brasileiras, mas será que realmente conhecemos sua história?
Quem foi Duque de Caxias?
Conhecer a história de Duque de Caxias é um verdadeiro passeio pela história do Brasil. Nascido no Rio de Janeiro em 1803, o jovem Luís Alves de Lima e Silva veio de uma família de tradição militar. Seu pai, Francisco de Lima e Silva, chegou ao posto de Marechal e protegia a cidade carioca.
Assim, o caminho das armas pareceu natural ao jovem que ingressou ainda bem jovem na carreira militar, aos 15 anos de idade. Vale ressaltar que estamos falando de uma época bem anterior às normas e leis às quais estamos submetidos; logo, o que nos parece um absurdo é, na verdade, algo comum para a realidade brasileira do século XIX. Os homens começavam a atuar na vida prática muito cedo e a infância tal qual conhecemos hoje era um raro privilégio.
A árdua vida de Luís Alves, porém, não deformou seu caráter, e ingressar tão cedo nas forças armadas lhe permitiu não apenas um grau de autonomia, mas também ser capaz de trilhar uma ascensão importante no meio militar. O primeiro grande triunfo do Duque de Caxias foi justamente poucos anos após sua entrada no serviço militar e, ao mesmo tempo, em um dos momentos de maior tensão na história do Brasil: a Independência.
Como sabemos, em 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, Dom Pedro I declarou a Independência do Brasil, rompendo o pacto colonial com Portugal. Apesar de não mergulharmos em uma guerra contra os portugueses, é verdade que nem todas as províncias aceitaram de imediato a decisão do monarca.
A Bahia e o Grão-Pará (atual estado do Pará, Amazonas e Amapá) se tornaram rebeldes, não aceitando a nova condição. Para a classe dirigente dessas províncias, a relação com os portugueses era extremamente lucrativa e a independência colocava em risco os rendimentos da economia local. Assim, durante dois anos travou-se batalhas pontuais entre a guarda nacional e os exércitos provincianos, aliados aos portugueses.
Essa é a primeira experiência em combate de Duque de Caxias, que mostrou-se um excelente soldado. Além da sua capacidade técnica, sua visão militar como estrategista ganhou notoriedade junto com sua capacidade de liderança. Apesar da pouca idade, o jovem de apenas 21 anos ganhou fama dentro do Exército e, ao longo dos anos seguintes, foi um dos principais militares a manter a paz entre as províncias e estabilizar a unificação do território brasileiro. Mais tarde, graças a essa e outras experiências de apaziguamento dentro do Exército, Duque de Caxias ficaria conhecido como “o pacificador”.
Outro exemplo de grande liderança de Duque de Caxias se deu na guerra da Cisplatina, no Sul do país entre 1825 e 1827. Caxias foi nomeado comandante das tropas terrestres nesse conflito e, por dois anos, atuou em prol do Brasil. No fim da guerra, também articulou o tratado de paz que encerrou o conflito e reconheceu a Independência do Uruguai.
Para alguns, a guerra da Cisplatina é vista como uma derrota brasileira, porém, para Duque de Caxias, foi mais uma prova de sua capacidade como líder. A perda do território foi um preço pequeno frente ao banho de sangue que continuaria a ocorrer caso os exércitos continuassem a lutar. Considerando a quantidade de vidas desperdiçadas, Duque de Caxias ponderou e encontrou a via diplomática como a melhor forma de resolução da guerra.
Esses dois exemplos de guerra mostram o caráter e o humanismo por trás da figura de Duque de Caxias. Muitas vezes, acabamos rotulando alguns personagens pelas características de sua profissão. Assim, comumente associamos militares com figuras embrutecidas, capazes de fazer um exército inteiro sangrar para alcançar suas realizações. Entretanto, esse é um estereótipo que nem sempre reflete – e, a bem da verdade, na maior parte das vezes – o exemplo de líder que foi Duque de Caxias.
Como encontrar heróis em uma guerra?
Um outro ponto que geralmente nos causa conflito ao falarmos de líderes militares é o heroísmo. Esse termo, por vezes, é entendido de maneira errônea, pois como podem existir heróis em um cenário de matança entre seres humanos?
De fato, a face objetiva da guerra é obscura e nos causa, a rigor, estranhamento. Ninguém gosta de – ou deveria – apreciar a guerra em seu caráter mais objetivo. Entretanto, ela é uma realidade humana e própria da natureza. Em toda a natureza existe conflito, e a luta entre opostos é real. Por vezes, a oposição é apenas um aspecto meramente superficial, mas ainda assim o suficiente para gerar atrito e, eventualmente, uma guerra.
Visto isso, como reconhecer heróis em uma guerra? Primeiramente devemos refletir: o que você chamaria de herói? É herói aquele que vence a qualquer preço, ou aquele que sabe a hora correta de parar um combate? É aquele que tem a melhor estratégia para aniquilar os adversários? É aquele que causa pavor em seus inimigos? Quando pensamos em guerra, só lembramos de morte, explosões, vitória e derrota. No entanto, essa linha de pensamento é totalmente errada, e Duque de Caxias sabia muito bem disso.
Como vimos, Duque de Caxias foi convocado para atuar em várias outras disputas (sete, para sermos mais exatos), mas o que o destacou entre outros militares foi a capacidade de resolver os conflitos de maneira mais tranquila e pacificar as regiões marcadas por revoltas separatistas.
Junto às armas de fogo e à espada, Duque de Caxias carregava uma arma extremamente poderosa, que apenas pessoas habilidosas sabem manusear: o diálogo! Obviamente, por muitas vezes, teve que puxar a espada, mas só um líder de verdade sabe a hora de guardá-la e utilizar o diálogo para encerrar os embates. Luís Alves era perito neste quesito.
Quem tem essa característica chamamos de herói(na): a capacidade de saber resolver uma guerra da melhor maneira possível e, acima de tudo, buscar fazer isso de maneira virtuosa. Se a guerra é uma realidade da natureza, cabe aos seres humanos empregar suas melhores virtudes e conseguir manejar todas as distintas forças envolvidas para uma resolução que seja a paz.
Apesar do momento que vivemos, a história do nosso país é cheia de heróis e de grandes exemplos para todos nós. Pessoas que doaram sua vida pelo Brasil, que puseram o bem da população acima de tudo, que foram sábias e souberam levar a paz e o diálogo, mesmo nos momentos mais difíceis.
O vídeo abaixo detalha um pouco mais sobre a biografia de Duque de Caxias, e recomendamos fortemente que você assista: