Cada vez mais pessoas estão buscando alternativas a alimentação industrializada e insalubre dos nossos tempos. Dentre essas, há aquelas que buscam um estilo de vida mais saudável, com exercícios físicos e dieta balanceada, e aquelas que visam o boicote a indústria alimentícia por esta atuar explorando cruelmente os animais, e assim, tornam-se vegetarianos ou veganos.
Estima-se que 5 milhões de brasileiros não consomem nada de origem animal, os veganos, assim denominados a mais de 70 anos pela Sociedade Vegana (The Vegan Society), e este número só tem crescido no mundo inteiro. Apesar de atualmente os motivos pelos quais se buscam uma dieta vegana serem diferentes de outrora, esta prática não é bem novidade, existindo indícios de pessoas evitando consumir produtos animais há mais de 2.000 anos.
Segundo The Vegan Society:
“O veganismo é uma filosofia de vida que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e crueldade com os animais, para alimentação, vestuário ou qualquer outra finalidade; e por extensão, promove o desenvolvimento e o uso de alternativas livres de abuso animal para o benefício humano, animal e ambiental. Em termos alimentares, denota a prática de dispensar todos os produtos derivados total ou parcialmente de animais.”
Os primeiros conceitos sobre veganismo começaram a tomar forma em 1806, com o Dr William Lambe e Percy Shelley que criticaram publicamente o consumo de ovos e laticínio. Percebendo que se tratava de uma nova visão sobre o vegetarianismo, se reuniram e decidiram então adotar um outro termo que definisse uma dieta que não só não consumia carne como também nenhum tipo de laticínio. O nome Vegan surgiu das três primeiras letras de Vegetarian, vegetariano em inglês, e depois juntou-se com as duas últimas.
A definição de veganismo foi aos poucos evoluindo. De uma mera diferença de nome, para uma busca pelo fim da exploração animal pelo ser humano em todas as áreas: na alimentação, no vestuário, nos calçados, em tudo. Um vegano portanto, é um vegetariano por definição, mas um vegetariano não é necessariamente um vegano. Explicando um pouco melhor, existem alguns tipos de vegetarianos, segue abaixo a classificação mais aceita entre os que adotam esta visão de mundo:
1 – Ovolactovegetariano: São as pessoas que optam por não comer nenhum tipo de carne, mas consomem alimentos derivados de animais, como ovos e laticínios.
2 – Lactovegetariano: Aqueles que, além de não consumirem carne, eliminaram o ovo da dieta.
3 – Vegetariano estrito: Além das carnes e ovos, os vegetarianos estritos não se alimentam de nenhum produto de origem animal como os laticínios, mel ou queijos.
4 – Vegano: O veganismo é uma postura diante da vida, e não apenas uma dieta. Então, por motivos para além de uma alimentação saudável, os veganos não consomem nada de origem animal, em nenhuma área de suas vidas: alimentação, vestuário, entretenimento ou qualquer outro tipo de atividade que envolva exploração animal. Todo ingrediente, insumo de origem animal ou testados em animais, são riscados do consumo de um vegano. Os produtos boicotados mais populares são o couro, a gelatina, a lã, o mel e os corantes.
Para os veganos, é importante uma postura ativa na sociedade, pois acreditam que é através do boicote a produtos e serviços obtidos com sofrimento de animais que podem chamar atenção das empresas e da população para a sua causa. A criação industrial de animais traz um impacto ambiental negativo, tanto local quanto mundialmente. São diversos os efeitos da pecuária para os recursos naturais e humanos, principalmente no que diz respeito à devastação de florestas, desertificação do solo, poluição, contaminação de mananciais aquíferos, distribuição e ocupação de terras e por isso, os Veganos acreditam que o boicote pode diminuir os efeitos da exploração dos animais no meio ambiente, que sabemos já estar bastante debilitado no nosso tempo.
Mesmo não sendo o principal motivo do veganismo, mas por consequência da onda crescente de interesses nessa postura diante da vida, vários estudos já foram feitos buscando analisar se é possível mesmo parar de comer carne, e quais seriam as repercussões disso na saúde humana. As pesquisas populacionais que comparam os grupos vegetarianos e não vegetarianos com estilo de vida semelhante, evidenciam que os vegetarianos têm menor incidência de doenças crônicas e degenerativas como diabetes, obesidade, hipertensão, cardiopatia isquêmica e diversos tipos de câncer
Sem dúvidas, o atual modelo de exploração dos animais e dos recursos naturais não é sustentável e nem ético. Dentro desse contexto, é mais do que natural que na população, os mais conscientes busquem alternativas que nos tirem deste estado emergencial. E é aí que surgem os veganos ou vegetarianos, como pessoas que não pensam somente em ter uma vida mais saudável, mas tentam também pensar no mundo, no meio ambiente, nos animais, uma pequena chama de fraternidade que nos inspira a caminhar em prol de um mundo novo e melhor.
Por outro lado, será que o consumo de qualquer tipo de produto animal, ou mesmo fazer uso do trabalho animal (como em carroças), é algo condenável? Será que, por não encontrarmos uma forma harmônica de contato com as outras espécies, estamos nos vendo como seres separados da Natureza? Devemos tomar cuidado para não ir para o outro extremo e passar a ver a humanidade como um mal a ser eliminado para proteger os animais e o meio ambiente.
Muitos chamam de moda, e pode até ser, mas sem dúvidas, essa onda de veganismo nos obriga a refletir sobre a nossa atuação no mundo. Mas o problema é ainda mais complexo, pois não temos como dizer se estamos cumprindo bem ou mal o nosso papel, se não soubermos que papel é esse. O nosso grande desafio é redescobrir o que é a nossa humanidade, o que nos faz verdadeiramente humanos e nos torna seres únicos na Natureza. Essa questão já foi refletida por muitos sábios da história e a resposta que geralmente encontramos é: A Virtude! É isso o que precisamos oferecer ao mundo para podermos cumprir de forma correta o nosso papel no Ciclo da Vida. O que a Vida espera de nós, é que sejamos cada vez mais generosos e justos, ou seja, que sejamos melhores a cada dia. Isto é o melhor que podemos fazer e a melhor contribuição que podemos dar para construirmos uma nova realidade.
Sejamos mais HUMANOS!