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Louis Braille

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Um dos assuntos mais abordados nas tragédias gregas clássicas era o DESTINO. O grande Ésquilo nos ensinou em seu “Prometeu Acorrentado” que todo aquele que se levanta contra as determinações divinas termina por sofrer, e que a Moira (o destino) é superior até mesmo aos deuses! E o que falar do escritor Sófocles? Seus personagens, como Édipo, Antígona e tantos outros, sofreram as consequências de seus destinos, até mesmo quando tentaram fugir dele com todas as forças. Mas, aquele que aceita seu destino muitas vezes é capaz de realizar as proezas mais incríveis, e como Hércules, inscrever seu nome no panteão da história!

Será que essas histórias eram apenas fruto de uma imaginação fértil? Ou será que continham dicas para mostrar aos homens de ontem e de sempre, rotas para a realização humana? Não queremos encerrar esta reflexão neste texto, mas ousamos dizer que algumas personalidades parecem ter suas vidas escritas por roteiristas muito criativos. E que aqueles que abraçaram seus destinos se tornaram verdadeiros Hércules reais.

Uma dessas pessoas é Louis Braille. Nascido em 04 de janeiro de 1809, em Coupvray na França, a cerca de 40Km de Paris. Seu pai, Simon-René Braille, era um fabricante de arreios e selas, um homem do campo, e Louis era o caçula de uma família de quatro filhos. O menino Braille, com três anos brincava na oficina de seu pai, imitando-o naquilo que parecia ser o horizonte de sua vida, tornar-se um fabricante de arreios. Ao manusear uma sovela em um couro seco, num acidente, perfura seu olho esquerdo.

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Naquela época, lesões dessa natureza não eram fáceis de tratar e a infecção terminou se alastrando para o olho direito. Aos cinco anos, nosso herói estava totalmente cego. Provavelmente, seus pais decidiram que o garoto não seria vítima das circunstâncias, pois trataram de apoiar sua integração tão plena quanto possível na sociedade. Ensinaram-no a se locomover sozinho pela cidade, o fizeram trabalhar na selaria, provavelmente, costurando franjas de chicote, o que deve ter ajudado a desenvolver suas habilidades manuais, importantíssimas para sua futura ocupação. Matricularam-no na escola da aldeia e, nesta, Louis demonstrou grande inteligência e uma memória admirável. Com ajuda do padre local, após insistentes cartas, conseguiram que ele fosse aceito na escola de Valentin Haüy, a primeira instituição da França moderna a dedicar-se à educação de jovens cegos. Conta-se que em 1771, Velentin, ao ver uma apresentação teatral de jovens que não enxergavam, teria ficado sensibilizado pela forma rude e desrespeitosa com que foram tratados. Assim, dedicou-se a fazer algo para educar e melhorar as condições de vida dessa população. Fundou uma escola que mais tarde se chamaria de Instituição Nacional de Jovens Cegos, ainda hoje existente.

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O menino entrou na escola contando apenas dez anos em 1819. Neste mesmo ano, um certo capitão resolve interessar-se pela escrita dos cegos, com fins militares. Ele terá um papel fundamental nesta epopeia. Voltando à vida de Braille, lá ele aprendeu a ler no método daquela época que reproduzia as letras em grandes relevos. Era uma estratégia demorada e pouco prática, o que lhe incomodou desde o início. Ele era uma criança de mente astuta, inquieta, curiosa e ávida por conhecimento. Não se contentava com aquela forma de ler, desejava mais.

Dois anos depois, a providência desdobra-se no tempo e o capitão de artilharia Carlos Babier de la Serre, que havia desenvolvido uma forma de escrita chamada sonografia, visitaria o local. O objetivo dele era permitir que combatentes conseguissem enviar ordens que pudessem ser lidas na mais completa escuridão, uma vez que, nestas ocasiões, acender uma luz poderia indicar a localização ao inimigo. Seu procedimento era composto de doze marcas em alto-relevo e em certa altura, ele decidiu colocar seu invento a serviço dos cegos. Porém, as dimensões das letras tornavam muito difícil a leitura com os dedos. Além disso, o sistema era baseado em princípios fonéticos que tornavam a tarefa de memorizar as combinações quase impossível. Não satisfeito, aquele adolescente de doze anos, dedica-se incansavelmente a melhorar o processo. Reduziu as proporções a três pontos por linha apenas, e assim permitiu que fossem lidos em uma única percepção tátil, abandonou a escrita fonética e atribuiu equivalência entre seus caracteres e as letras do alfabeto dos videntes. Esse formidável homem apendeu música, gramática, história, aritmética, álgebra, geometria, geografia e com dezessete anos ele já era professor da instituição!

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Todavia, suas idéias não foram aceitas tão rapidamente. Levaria mais de vinte cinco anos para que o sistema fosse aceito oficialmente na França, e muito dessa conquista deveu-se à insistência dos próprios cegos. Àquela altura, o conceito dominante defendia que não se devia distanciar a educação dos cegos da dos videntes. E adotar o sistema Braille significava deixar videntes à margem do processo. Braille chegou a inventar, algum tempo depois, um sistema matricial de escrita por pontos, que permitia que videntes lessem cartas escritas por cegos.

Ainda que não possamos afirmar que, como nos mitos gregos, alguma deusa enciumada lhes feriu a visão, ou que coube a ele matar o pai e desposar a mãe, ou ainda que teve que trazer o cão Cérbero das profundezas de algum Hades, ainda assim, podemos dizer que ele é o Prometeu, aquele que traz a luz, para trinta e nove milhões de pessoas no mundo inteiro. Se não lhes trouxe uma luz fotossensível, permitiu que saíssem da verdadeira escuridão da falta de conhecimento. Com quinze anos, ele abriu portas de milhares de pessoas para a iluminação, não de seus olhos, mas de suas mentes. E como toda boa tragédia, quis o destino que ele morresse prematuramente, com quarenta e dois anos, sem conviver com o reconhecimento de seu trabalho. Acometido de uma tuberculose que o acompanhou por quase toda a vida, ele pouco a pouco foi abandonando suas ocupações. Terminou seus dias como organista de várias igrejas, reverenciando a providência que lhe deu e lhe tirou tudo o que precisava para cumprir seu papel nesta aventura que chamamos história!

A biografia de Louis Braille é uma inspiração, para cegos e videntes, pois nos dá a confiança de que, independente do que o destino nos traga, nós sempre temos tudo o que precisamos para construir uma vida plena de sentido e de realizações. E o mais importante, sermos um fator positivo na vida dos outros seres humanos.

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