Jane Austen é uma das escritoras mais importantes da história da Grã-Bretanha, somente figurando atrás de Shakespeare nas listas de escritores ingleses mais lidos. Sua obra é referência para todas as gerações ao redor do mundo, não somente por tratar de histórias com finais felizes, mas principalmente por retratar o Ser Humano. Através de seus personagens, muito semelhantes a nós mesmos, nos inspiramos na Nobreza de caráter e nas suas potencialidades, queremos ser como eles, queremos participar da Vida escolhendo o nosso melhor.
A escritora viveu numa época, meados do séc XVIII e XIX, em que se esperava das mulheres um casamento que pudesse dar segurança financeira durante toda a vida, já que não podiam trabalhar ou herdar títulos e propriedades da família. Jane e sua irmã Cassandra eram as únicas filhas do Reverendo de um total de 7 filhos. Jane não teve uma educação formal, tendo acesso a instrução através dos livros que lia e que sempre fizeram parte da sua vida. Também não se casou, apesar de ter recebido uma ou outra proposta, recusadas por não existir amor, ou pela dificuldade financeira do rapaz. Tudo isto chega até nós pelas cartas trocadas com a sua irmã.
Aquarela inacabada de Jane Austen aos 35 anos, feita pela sua irmã Cassandra, 1810
Inúmeras são as adaptações da sua obra e em vários formatos – livros, contos, filmes, seriados – que poderemos citar neste texto como referências para nos aprofundarmos na obra desta grande escritora. Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Emma e Persuasão são suas obras mais conhecidas, onde podemos encontrar uma galeria de condutas humanas, de certa forma até caricatas, contrastando com o exemplo de vida valoroso dos personagens principais.
Um dos Valores abordados pela autora é a importância da Cortesia, como uma ferramenta da Generosidade. Ela auxilia na nossa melhor forma de expressão. Escolher as melhores palavras para falar, agir com decoro, vestir-se apropriadamente para cada ocasião, tratar cada aspecto da vida com uma certa cerimônia, são reflexos da importância que um Ser Humano dá a tudo aquilo que lhe cabe viver, sempre buscando suas melhores formas, as mais Belas e Humanas. Desta forma, conseguimos agir com Cortesia e Generosidade para com os demais, gerando o nosso melhor para dar aos outros.
Durante todas as suas histórias, percebemos que a Nobreza dos personagens não advém da posição social que se encontram, tão importante na sociedade em decadência que Jane vivia. Através de uma ironia sutil e do contraste com as atitudes mais Humanas de seus heróis e heroínas, nos damos conta das debilidades humanas dos diversos personagens considerados nobres, por possuírem exclusivamente um título. A Nobreza está em SER Humano, em agir com Cortesia, com Generosidade, com Justiça, com Humildade, e não somente em ser validado pela sociedade pelos títulos e posições que carrega.
Em “Razão e Sensibilidade”, destacamos a personagem Eleanor Bishop, a “razão” citada no título, enquanto que a “sensibilidade” refere-se a sua irmã Marianne. Apesar das adversidades que enfrenta durante toda a história, Eleanor está sempre buscando ter controle de suas emoções para agir com a razão, para agir em nome do melhor para aquela família. Ela demonstra para os outros familiares o quanto é necessário e importante se manter no centro para tomar decisões mais sábias. Com um sorriso no rosto e palavras justas, Eleanor é um exemplo de Dama, de uma mulher que sabe que para além dos seus rompantes da personalidade: emoções, desejos e frustrações, há em si algo mais Humano capaz de enfrentar as alegrias e as tristezas sem deixar de ser quem é.
No livro “Orgulho e Preconceito”, o mais famoso da autora, conhecemos as personagens Elizabeth Bennet e Jane Bennet. As irmãs são o centro desta história e logo percebemos, através dos diálogos entre as duas, o quanto a busca por Valores Morais, Coerência e Bondade, são questões que fazem com que elas, mesmo algumas vezes se enganando, tornem-se personagens inspiradores para nós e para os demais da história. Diante da descortesia, da vaidade, da covardia, da falta de nobreza dos diversos personagens caricatos que se apresentam na história, o contraste das escolhas de condutas tomadas pelas irmãs torna-se evidente e assim, a escritora nos faz perceber a importância de vivermos Valores Humanos. Em alguns momentos, Jane e Elizabeth tomaram caminhos separados e a força da harmonia entre as duas se quebra, fazendo-as se reposicionar.
Nós, Seres Humanos, quando convivemos com os demais, somos capazes de crescer, de complementar nossas Virtudes, como uma engrenagem que só se movimenta se uma peça se encaixar na outra da forma correta. Como uma orquestra que precisa de diversos instrumentos afinados, mas cada um, dentro daquilo que lhe cabe, fazendo seu melhor. Esta é uma das grandes lições que tiramos de uma boa convivência e só conseguimos chegar nela, se praticarmos todos os dias, se nos abrirmos para concordar com o coração do outro.
As obras de Jane Austen, portanto, nos ensinam a sermos mais Humanos. Com Cortesia, apresentando sempre o nosso melhor como um ato de Generosidade para com os demais. Nos ensina também a importância de uma vida com uma busca sincera por Valores Morais e não simplesmente uma vida de conveniências, formas vazias, e de adequação ao que a sociedade espera de nós. A escritora também nos ensina sobre a Arte de Conviver e o quanto somamos verdadeiramente com os outros.
O mais interessante é notarmos que todos estes elementos estão presentes em uma obra escrita no seu tempo, há séculos, mas que de tão verdadeiros, de tão Humanos, sobrevivem para além daquele período, nos tocando ainda hoje, e sempre, pois tudo o que nos toca o Coração é Atemporal.