Em nossas vidas, transitamos por vários espaços em nossa caminhada existencial, experimentando diversos tipos de momentos. Carregamos conosco diversas memórias, umas boas e outras um tanto quanto dolorosas. Quem nunca sofreu por ter sido injustiçado ou por ter sido autor da própria injustiça? Em geral, todas essas recordações fazem parte de nossa bagagem Humana: lições são aprendidas, sínteses são realizadas e, conscientes ou não, jamais saímos dessas experiências da mesma forma pela qual entramos. Entretanto, por que algumas vezes não conseguimos superar feridas passadas e arrastamos essa dor do passado para o nosso presente?
Pensando sobre essa questão, quando nos fixamos em algo do passado é porque não conseguimos ainda assimilar bem a experiência e acabamos por nos deter apenas aos fatos. A dor que sentimos, nesse caso, vem da nossa ignorância. Se ignoramos a Lei que está por trás de cada fato ou adversidade que nos acontece, não há como ter algum tipo de aprendizado e, consequentemente, tal situação nos gera estado de impotência diante da Vida. Assim, a probabilidade daquela experiência se repetir é muito grande, e, enquanto não aprendermos a lição a ser compreendida, não poderemos avançar para o próximo estágio.
Entretanto, todo esse processo só faz sentido se compreendermos que nossa caminhada como Seres Humanos depende de um aprendizado constante das Leis da Vida. Por isso que não basta apenas existir enquanto Seres Humanos, mas devemos viver como um. De modo geral, o existir está relacionado a um plano meramente de sobrevivência e, nesse sentido, do ponto de vista fisiológico, essa característica não nos difere de um animal, por exemplo. Por outro lado, viver exige escolhas conscientes. Como dizia Jung, somos o que escolhemos ser e para tal postura é necessário ter Coragem, Auto Responsabilidade e uma postura ativa diante de nossas dores.
As pessoas que participam da vida não se permitem ficar ancoradas em algum ponto do passado, pois já compreenderam que o passado não pode ser mudado. E diante desse fato, elas focam no presente porque entendem que é no “aqui” e no “agora” que se encontram as chances para se construir o futuro. Tivemos vários exemplos de pessoas em nossa história que nos inspiraram profundamente pelo seu poder de ação e de Vontade sobre os seus destinos. Um ótimo exemplo disso é o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela que transformou não só seu país, mas o mundo através do seu ideal de vida.
Nelson Mandela dedicou a sua vida para lutar pelo fim do apartheid, o sistema racial que dividia o seu país entre brancos e negros, estruturado pela dominação da minoria branca. Assim como muitos outros homens e mulheres africanas, que também se dedicaram a esse grande ideal, Mandela foi perseguido, torturado e preso injustamente. Recebeu a pena de prisão perpétua em 1964 e ficou preso por 27 anos na Ilha de Robben. As quase três décadas de privação de sua liberdade trouxeram a ele consequências irreparáveis não só materiais, mas emocionais.
Entretanto, quando enfim, consegue a sua liberdade, Mandela surpreende a todos e deixa o mundo perplexo por sua postura fraterna para com os seus opressores. Logo então, passa a convocar todo o seu país para construir uma África do Sul democrática e livre, onde todas as pessoas pudessem viver de maneira harmônica e com igualdade de oportunidades. Enquanto todos esperavam de Mandela uma atitude de ódio, vingança ou revanche, ele simplesmente expressou Amor e Fraternidade e foi graças a essa sua postura que a África do Sul pôde experimentar um sentimento de nação pela primeira vez, após quase 300 anos de dominação e guerras entre brancos e negros.
Em uma de suas entrevistas, Mandela falou da importância de não ter deixado com que a amargura e o ódio por seus julgadores lhe dominassem. Tendo em vista que se acolhesse tais sentimentos dentro de seu peito, ele próprio se tornaria um eterno prisioneiro e não poderia continuar a luta pelo seu grande ideal: ver o seu país unido.
A estatura moral desse homem impactou profundamente o mundo, que ainda vivia na década de 90 sob as sobras de uma experiência histórica, política e ideológica que dividia o mundo entre dois pólos – capitalismo e socialismo. Nelson Mandela não só nos ensinou como ser um bom líder em um mundo complexo, mas nos inspirou a ser melhores Seres Humanos com seus exemplos de superação.
Precisamos olhar para a vida e perceber que todos nós estamos unidos, que todos os aspectos do Universo se correlacionam e com os Seres Humanos isso não é diferente. Não há acasos, mas sim limitação da nossa parte para entender e relacionar as nossas experiências. Como disse o poeta, a vida é mesmo pedagógica e nos ensina o tempo todo, principalmente, através das tensões e das adversidades que nos acontecem.
Nesse sentido, a maturidade é uma questão de escolha e consequência de uma vida consciente de tudo que pensamos, sentimos ou fazemos. Para crescer precisamos desenvolver a Vontade e não podemos ter medo das experiências com as quais a vida nos desafia. Até porque não existe experiência ruim, existem experiências necessárias para o nosso processo de evolução. Se compreendermos essa ideia passaremos a ressignificar as nossas dores sabendo que tem coisas que estão ao nosso controle, nas quais podemos atuar, e tem coisas que estão fora do nosso alcance e, pelas quais não podemos nos angustiar.
Por fim, é importante lembrar que não se aprende a viver lendo as teorias ou observando a Vida. Como toda Arte, viver requer muita prática para se alcançar a excelência. Não há receita de bolo pronta, cada um de nós tem um caminho a ser construído e trilhado, por isso, precisamos ser protagonistas de nossas histórias e, quanto mais conscientes estivermos desse propósito, mais atentos nos tornaremos para recolher todas as nossas experiências. Como consequência maior e mais rica será a nossa bagagem Humana.