A Natureza não se cansa de nos dar exemplos de como praticar a Arte da Vida. Viver em sociedade exige do indivíduo muito mais do que apenas colaborar com o seu entorno. É fundamental que exista entre as pessoas Virtudes como a Solidariedade, a Generosidade e a Empatia. Essas são Leis que não podem ser ignoradas, nem no mundo animal.
Recentemente, cientistas do Centro de Pesquisa do Parque Natural da Comoé publicaram pesquisas sobre o comportamento da espécie “Megaponera analis”, um tipo de formiga encontrada na África subsaariana, no momento do resgate de suas companheiras. Os resultados alcançados afirmam que as formigas feridas liberam feromônios para alertar as demais, similar a um “pedido de ajuda” para que as companheiras possam lhes resgatar e lhes levar até ao seu ninho para a sua recuperação.
Para o pesquisador e responsável pelos estudos, Erik Frank, os resultados desses estudos podem nos ajudar a entender como se desenvolve essa relação de ajudar aos outros insetos sem, necessariamente, passar pela empatia. Ainda segundo o pesquisador, as formigas resgatam as suas companheiras feridas porque isso é o melhor para a colônia, uma vez que após recuperadas, elas voltam a participar das expedições de caças posteriores.
Esse tipo de comportamento das formigas nos faz relembrar uma questão Humana muito antiga e que até os dias atuais se coloca em pauta: a questão dos valores sociais e individuais caminharem em harmonia para o bom desenvolvimento de uma sociedade. Acredita-se que humanidade e sociedade são dois conceitos tão antigos que não se sabe qual nasceu primeiro. Filósofos clássicos como Confúcio afirmavam que sociedade e indivíduo são faces de uma mesma moeda, tendo em vista que um conceito complementa o outro, ou seja, não existe indivíduo que possa se constituir sem sociedade, e não há sociedade que não seja composta por indivíduos.
Para os Platônicos e Neoplatônicos nem o indivíduo, nem a sociedade nascem prontos, mas ambos são constituídos à medida que vão evoluindo a partir das experiências vividas. Embora acreditemos muitas vezes que somos egoístas, individualistas por uma questão de natureza, na verdade, nem sempre foi assim.
Somos produtos de uma geração cultural que cristalizou a liberdade individual como um valor quase vital e que deve ser valorizado acima de qualquer projeto social. Quantas vezes não nos pegamos assustados ao assistirmos filmes ou lermos trechos de obras de nossos “antepassados selvagens” que primavam pelo Estado acima do indivíduo. Um exemplo que vale ser lembrado aqui é a memorável história dos “300 de Esparta” e a sua missão suicida frente a milhares de soldados persas. Para as civilizações antigas e guerreiras a função do indivíduo era servir à sociedade ou ao todo, ou seja, ao Estado. Porém, nas sociedades atuais esse não é um valor que enxergamos facilmente. Hoje, a maioria dos indivíduos em nosso mundo acreditam que o papel do Estado seja apenas de nos servir, mas que pouco (ou nada) estes devem à sociedade.
Perceber-se e situar-se no mundo apenas como um ser que precisa ser servido e ter as suas necessidades atendidas pode nos trazer sérios problemas, tanto a nível individual, como a nível coletivo. Para viver em sociedade é necessário, antes de tudo, compreender que só é possível se constituir a partir do outro, pois não há identidade sem a alteridade. Não há desenvolvimento humano se não houver crescimento e amadurecimento pessoal e isso só é possível a partir da troca e da partilha de experiências, uma vez que ninguém nunca faz nada sozinho.
Nessa caminhada todos são importantes, uma vez que a evolução é coletiva, por isso cuidar do outro é tão importante quanto cuidar de si mesmo. E como podemos fazer isso? A Empatia, a Generosidade e a Bondade são algumas das chaves mais eficazes para uma boa convivência e para a criação de laços benéficos com outras pessoas, pois sem a preocupação com o bem do próximo não existe civilização. Essas são Leis que se expressam em todos os níveis e em todas as hierarquias dos reinos animais, logo, nos parece que a Bondade é uma Lei tão forte quanto a gravidade, e opera em diferentes aspectos da Natureza. Desse modo, para se entender os Mistérios da Vida há que se compreender os pequenos Mistérios que nos atravessam e nos conectam com o outro. Ainda sobre essa questão, há uma máxima indiana muito bonita que diz que toda a humanidade é como um colar de contas unidas por fio invisível. Esse fio, quem sabe, não sejam as Virtudes que residem em cada um de nós e que são a maneira que temos de nos conectarmos profundamente uns com os outros.
Quanto às formigas, já sabíamos que podíamos aprender lições incríveis de planejamento, organização, trabalho em equipe, foco e constância, mas a pesquisa nos traz um elemento riquíssimo quanto ao comportamento desses insetos no que concerne a ajuda das companheiras feridas. O resgate da companheira que ficou ferida pelo caminho surge não só como uma forma de empatia pelo sofrimento, mas também como um propósito maior em nome da colônia que necessitará da participação de cada formiga nas expedições de caça.
Por fim, cabe refletirmos que, sem sombra de dúvidas, deve existir uma Inteligência que rege e une todas as coisas. É assim no Universo, na Natureza e também é assim com toda a Humanidade. Não podemos excluir o Ser Humano dessa Lei Universal, pois se assim o fizermos estaríamos acreditando que somos fruto de um acaso e que tais ideias não participam da nossa realidade. Portanto, viver essa Unidade requer de nós uma consciência que veja o outro não como inimigo, mas como parte integrante do nosso mais profundo Ser.