Todos nós temos uma lembrança de um professor querido que fez parte da nossa educação. Quem não tem uma gratidão escondida misturada com saudade, por aquele que ampliou as nossas lentes para enxergar os objetos e o mundo à nossa volta? Ainda assim, há indivíduos que transcendem o seu papel de educador e se tornam verdadeiros mestres, que sopram sobre as nossas asas e nos impulsionam a voar. Anne Sullivan foi um exemplo vivo do poder transformador que um educador pode gerar na vida de um aluno, no caso, a vida de Helen Keller.
Helen Keller foi nada menos que uma americana cega e surda, que inspirou o mundo com o seu exemplo de superação. Como professora, mestra e companheira de ideal, Sullivan não mediu esforços para ajudar a sua aluna Hellen que, graças a sua dedicação, pôde se formar em filosofia, ser escritora e uma célebre palestrante em defesa das pessoas portadoras de deficiência.
A inspiradora história desse vínculo entre a aluna e a educadora foi eternizada pela sétima arte, na peça “The Miracle Worker” que deu origem ao filme “O Milagre de Anne Sullivan”, lançado em 1962 e dirigido por Arthur Penn. O filme foi relançado no início dos anos 2000 relatando a longa jornada percorrida por elas na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Hellen Keller nasceu em 1880, filha de Kate Adams Keller e de Arthur Keller, capitão do Exército dos Estados Confederados da América. Com 1 ano e meio de idade ficou surda e cega devido a uma doença por nome de “febre cerebral”, equivalente a uma meningite. A sua dificuldade em se comunicar com a família a tornou uma criança indisciplinada e rebelde.
A dificuldade da comunicação entre a família e a criança, os poucos recursos da época que impossibilitava um conhecimento a respeito do que acontecia com a menina, além da escassez de uma especialização da medicina, levou a mãe de Helen Keller a procurar ajuda junto ao médico J. Julian Chisolm. Ele aconselhou a família Keller a falar com o Alexandre Graham Bell, cientista e fonoaudiólogo que trabalhava com crianças surdas na época. Então, Helen com já sete anos de idade, iniciou a sua educação no Perkins Institute for the Blind, escola localizada em South Boston, onde encontrou a educadora Anne Sullivan que mudaria para sempre a sua vida.
Anne Sullivan se tornou professora após muitos sacrifícios e dificuldades. Foi órfã, perdeu a mãe e o irmão muito cedo, conviveu com os abusos físicos e o alcoolismo do pai, ficou quase cega e teve que implorar ao secretário do orfanato para poder estudar. Com esse histórico de determinação e superação, ela sabia melhor do que ninguém, o desafio e a importância da alfabetização para Helen Keller. Por isso, ela não mediu esforços e se dedicou até os seus últimos momentos de vida à educação da garota surda e cega que, anos mais tarde, se tornaria um ícone não só para a América, mas para o mundo.
Anne ensinou a Keller disciplina e regras comportamentais, ensinou a ler e a escrever através de todos os métodos possíveis e, quando foi aos seus limites, encontrou um novo método de ensino. Em um certo dia, percebendo que Helen não conseguia relacionar e entender certos significados das palavras, Anne o levou até uma fonte de água para que ela pudesse sentir a água em suas mãos ao mesmo tempo em que soletrava a palavra. Essa nova metodologia amplia substancialmente a capacidade de Helen em apreender um novo vocabulário. Se pensarmos hoje sobre a dificuldade no ensino de um deficiente visual e auditivo, imagine na época, no início do Século XX, tendo em vista que as pessoas portadoras de alguma deficiência eram enviadas a alguma instituição e esquecidas por todos, inclusive pela própria família.
Vale ressaltar que, na relação entre aluna e professora estabeleceu-se um profundo sentimento de Amor, tendo em vista que Helen, por Amor ao saber, superou todas as suas dificuldades cognitivas e neurais motoras para conhecer e apreender o mundo ao seu redor. Anne, por sua vez, por Amor também, não desistiu de sua árdua missão junto a sua aluna porque acreditava no seu potencial, sabia melhor do que ninguém que Helen podia entregar algo de muito precioso ao mundo.
Ao conhecermos a história dessa professora e de sua aluna, somos especialmente tocados e convocados para refletirmos sobre a importância dos mestres em nossas vidas. Por Amor às suas missões e a nós, eles vão além de seus limites, se dedicam, se comprometem e renunciam a si mesmos em prol de nosso crescimento. Certamente, eles devem ser uma espécie de mágicos pois conseguem trazer à tona, de dentro de nós, coisas inacreditáveis e que nunca pensamos que um dia fossemos capazes. Com o seu Amor, os mestres acendem a nossa chama interna e nunca mais passamos a ser os mesmos diante de sua presença. Helen Keller representa um pouco de cada um de nós que não sabe como ler o mundo à nossa volta, como permitir que o nosso melhor se expresse, e só quem tem o dom do Amor pode nos ajudar e nos fazer voar acima de nossas adversidades. Onde existe o Amor nunca existirá limitações!