O desfile de Múmias: uma conexão entre o passado e o futuro do Egito

Não é surpresa nenhuma o encanto que o Egito nos causa, essa civilização milenar já impactava a Humanidade desde a antiguidade. Não por acaso, o historiador Heródoto disse que os gregos, em comparação com o Egito, não passavam de crianças. Essa afirmação se refere tanto à civilização egípcia, que já existia há pelo menos 3 mil anos antes de Cristo, como também aos conhecimentos que os Sábios da terra do Nilo guardavam. 

Até os dias atuais ainda não sabemos tudo sobre o Antigo Egito, por isso comumente vemos a ideia de que essa era uma civilização envolta em Mistérios e, até mesmo, maldições. As famosas histórias da “maldição do faraó”, por exemplo, surgiram ainda no início do século XX quando descobriram o sarcófago de Tutancâmon. Na época uma série de acontecimentos levaram a mídia a propagar a ideia de que ao abrirem o túmulo do antigo faraó uma maldição havia caído sobre os envolvidos na escavação.

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Essas histórias podem parecer pura ficção aos nossos olhos, mas ainda hoje há quem acredite nisso. Uma prova foi o “desfile de Múmias” que ocorreu no Cairo, capital do Egito, no dia 03 de Abril de 2021. O chamado “desfile”, na verdade, foi o transporte de 22 múmias para o novo Museu Nacional da Civilização Egípcia. As múmias, com mais de 3.000 anos de idade, passaram a ser parte do acervo do novo museu e saíram de sua antiga morada, o museu do Cairo, em que estavam desde o século passado. 

Com um acervo centenário, o Museu do Cairo não estava mais adequado para a preservação das múmias dos faraós, sendo assim necessário levá-las para sua nova morada. Porém, o risco de acidentes que pudessem danificar os antigos faraós levou o governo egípcio a criar um evento com segurança reforçada e cuidado para com as múmias. Além disso, a ocasião foi uma excelente oportunidade de mostrar uma nova imagem do Egito perante o mundo: reconhecendo seu passado e se orgulhando dele. Na última década o Egito sofreu com diversos momentos de tensão política, tornando o país instável frente seus problemas econômicos e sociais. Com isso, o governo egípcio começou uma renovação do seu acervo museológico, que resultou na construção do Museu Nacional da Civilização Egípcia. O museu já havia sido inaugurado parcialmente em 2017, mas somente agora, com a chegada dos faraós, ele está pronto para visitação.

Mas afinal, quem eram essas múmias e por que há tanto valor histórico nelas?

A maioria das 22 múmias são faraós do chamado Novo Império, período este que durou mil anos (1580 a.C – 525 a.C) e que compõe a maior parte do que sabemos sobre essa antiga civilização. Vale lembrar que o chamado “Novo Império” é um período considerado relativamente recente quando comparado a totalidade da história do Egito. 

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Sobre as múmias em específico, algumas delas são bem conhecidas dos egipto maníacos e até mesmo de quem pouco ouviu falar sobre a civilização do Nilo. Um deles, e talvez o mais famoso, é o faraó Tutancâmon, responsável, como já falamos, pelo boato de maldição do faraó. Tutancâmon, apesar de sua fama, foi um faraó que governou por muito pouco tempo e a análise de sua múmia dá indícios que ele tenha morrido devido a um ferimento em sua perna.

Em contrapartida, e igualmente famoso, é o faraó Ramsés II, que também fez parte do desfile. Ramsés fez parte da dinastia Raméssida, sendo seu principal representante. Ele governou o Egito por 67 anos e conseguiu ter grandes conquistas militares, levando o Egito a um apogeu. Ele foi retratado em uma série de livros do egiptólogo Christian Jacq, que busca contar uma ficção histórica sobre o reinado do faraó e como seria a vida no Egito.

Junto à comitiva de faraós, também há quatro múmias de rainhas do Novo Império. Dentre elas estava Hatshepsut, a rainha que se tornou faraó. Ela foi casada com o faraó Tutmés II, porém este fez um breve governo, pois faleceu relativamente cedo. Como não havia um herdeiro pronto para assumir o governo na condição de faraó, a rainha passou a governar. O reinado de Hatshepsut acabou misteriosamente, pois não sabemos ao certo o que ocorreu. Provavelmente ela foi assassinada e seu nome apagado, parcialmente, da História.

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Um outro ponto interessante para refletirmos está no nome do museu em que as múmias foram levadas: o Museu Nacional da Civilização Egípcia, como foi nomeado, busca ressaltar a ideia de que o Egito seria a mãe da civilização, ou seja, que ali teria nascido as bases de uma estrutura social que permitiu à Humanidade buscar Valores Transcendentais como a Amizade, Solidariedade, Justiça, Cortesia e a busca pela Verdade. Se nos debruçarmos em uma análise acerca da história e das Virtudes praticadas por essa civilização perceberemos que, de fato, a cultura egípcia exerceu forte influência sobre o pensamento Ocidental. Retomando a frase de Heródoto, ela não foi dita a toa: era comum que grandes filósofos e sábios fossem até o Egito em busca da Sabedoria. Alguns exemplos famosos foram Platão, Pitágoras e Plotino que, até os dias de hoje, exercem grande influência em nosso modo de pensar. 

Quando pensamos na Justiça do Antigo Egito não temos como não lembrar da Deusa Maat, que além de Justiça tem como atributos a Ordem e a Verdade. O papel dos faraós, em grande parte, era dedicado em manter o Espírito de Maat presente em todo o Egito, ou seja, zelar pelos Princípios que regem a Deusa. Por isso que o cargo de faraó, diferentemente do que o senso comum nos apresenta, é permeado por uma série de deveres e tarefas a serem cumpridas e não apenas direitos e regalias. O faraó, por exemplo, deveria ser o primeiro a acordar e o último a dormir, pois como governante, sua responsabilidade era de fazer o Sol despertar e só repousar quando todos os seus governados estivessem em repouso. Desse modo, o faraó era, antes de tudo, o próprio exemplo da Ordem, da Verdade e da Justiça, e antes de cobrar tais Virtudes de seu povo se colocava à serviço deste. Esse é, certamente, um exemplo para nossa sociedade, uma vez que, na maioria dos casos, desejamos cargos apenas pelos seus benefícios e cada vez menos pela responsabilidade que aquela função nos traz. 

Um outro valor fundamental dentro da sociedade egípcia na antiguidade era a Amizade. Para os egípcios, um amigo não era apenas alguém que compartilhava alegrias e bons momentos, mas sim alguém tão Honrado e Virtuoso que pudesse ser considerado como um membro da família. A Amizade seria, antes de tudo, uma conexão de Almas e Princípios, e a palavra “amigo” só poderia ser usada para se referir a alguém que fosse confiável e que você não tivesse vergonha das atitudes. Trazendo para os dias atuais, esse tipo de Amizade, baseada em Virtudes, se apresenta cada vez mais rara. As relações de Amizade de hoje geralmente permeiam uma série de gostos e afinidades que temos com outras pessoas. Somos amigos de pessoas que gostam do mesmo tipo de música, que assistem às mesmas séries ou que gostam de frequentar os mesmos lugares, entretanto, raramente escolhemos nossas Amizades pelas Virtudes que aquela pessoa apresenta. 

A busca pela Verdade, que podemos resumir na prática da filosofia, também foi um pilar da civilização egípcia. Como já citamos, na antiguidade o Egito foi um centro de Sabedoria em que diversos filósofos e amantes da Sabedoria buscaram formação.  Além disso, um dos maiores centros de produção de conhecimento da Antiguidade, a cidade de Alexandria, também estava situada no Egito. Com sua famosa biblioteca, a cidade destacava-se no campo científico e na investigação acerca do Universo. Ainda hoje bebemos dessa fonte, pois livros de Sabedoria como o Caibalion, do filósofo Hermes Trismegisto, estão presentes em nossas bibliotecas e guardam em si um profundo conhecimento acerca das Leis da Natureza. 

Ademais, a cultura egípcia estava presente nos cultos religiosos de outras civilizações, como a grega e a romana. Os romanos, por exemplo, cultuavam a Deusa Ísis, assim como alguns Deuses próprios da cultura egípcia foram mesclados com elementos gregos. É o caso do Deus Toth, que os gregos relacionavam com Hermes. Visto isso, parece contundente a afirmação de que o Egito foi a mãe das Civilizações, uma vez que sua influência e Sabedoria foram levadas para outras partes do mundo. 

O “desfile das múmias”, portanto, foi, acima de tudo, uma aula viva sobre a História do Egito. Um momento fundamental para (re)concectar seus cidadãos com o passado e mostrar ao mundo a grandeza do milenar Egito. É preciso, entretanto, não apenas exaltar o seu passado, mas aprender os Valores e Princípios que levaram o Egito a esse patamar civilizatório. Do mesmo modo, em nossa vida não basta apenas relembrarmos com saudosismo do nosso passado, mas retirar desses momentos as Virtudes que foram necessárias para realizarmos os feitos que consideramos importantes. Assim, tal qual o Egito busca reconectar-se com sua História, também podemos aprender com a nossa e caminhar, conscientemente, em direção ao nosso futuro. 

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