Você já ouviu falar do efeito placebo? Ele ocorre quando tomamos um medicamento acreditando que ele fará o efeito que desejamos, mesmo que não seja um remédio. Pelo fato de creditar que estamos tratando de uma doença ou algum tipo de dor, nosso cérebro acaba fazendo com que o corpo seja curado mais rápido, ou pelo menos que tenhamos essa sensação.
Provavelmente, você já ouviu falar de alguém que se curou “sozinho”, ou você mesmo já tenha passado por essa experiência. Diante da recorrência de casos dessa natureza, o efeito placebo é uma realidade no mundo da medicina, sendo usado como principal forma de teste na eficácia de um medicamento. Os testes feitos com esse tratamento usam uma metodologia simples: divide-se os pacientes em dois grupos. Um receberá o medicamento que está sendo testado; e o outro, o placebo — que, em geral, são comprimidos de açúcar ou farinha. A eficiência do medicamento é colocada à prova quando tem que superar o efeito placebo, mostrando assim que sua atuação não é puramente psicológica, mas também tem um efeito somático no corpo.
Dessa maneira, a medicina busca “burlar” nossa capacidade psicológica de se curar para atestar o valor dos remédios que são fabricados. O efeito placebo, porém, pode apresentar uma evidência ainda mais interessante e profunda acerca da nossa psique, uma vez que esse poder de autocura através da crença mostra, de maneira prática, a força das nossas convicções diante de limitações físicas que podem expressar cansaço, doença, fadiga e demais sintomas.
Pensemos da seguinte maneira: imagine que chegamos em casa depois de um longo e exaustivo dia de trabalho. Sentamos no sofá quase sem forças para se levantar e observamos que há, na cozinha, uma pilha de pratos e panelas esperando para ser lavada. Essa imagem por si só alimenta a nossa fadiga e, para muitos, a montanha de louça suja será uma tarefa para o dia seguinte, depois de uma boa e merecida noite de descanso, correto? Agora vamos imaginar que exista um prêmio caso terminemos de lavar a louça antes de ir dormir e que este prêmio seja um milhão de dólares. Provavelmente, todos nós estaríamos dispostos a lavar essa imensa pilha, por mais demorado, difícil e árduo que fosse, não é mesmo? O que aconteceu com o cansaço, então? Ele certamente continua conosco, mas agora temos uma motivação para completar nossa tarefa. Essa motivação é, grosso modo, psicológica, pois nos coloca em um estado enérgico capaz de realizar essa e tantas outras tarefas que nos demandarem.
Esse pequeno exercício mostra, portanto, o quanto nossas emoções e pensamentos nos comandam. O senso comum, por vezes, nos faz pensar que é o corpo que manda em nós, pois quando nos machucamos ou estamos doentes, não conseguimos fazer mais nada; entretanto, isso não é a realidade. No fundo, nossa energia está diretamente ligada à nossa psique, como no exemplo que acabamos de usar. Se isso, portanto, é uma realidade no nível energético, será possível que a nossa psique tenha um efeito direto em nossas doenças?
O efeito placebo, certamente, é uma evidência disso. Somente o fato de acreditar que estamos lutando contra uma doença, que não estamos à mercê dos seus sintomas, já nos coloca em uma postura — tanto psicológica como física — mais combativa, e isso contribui para nossa reação frente à enfermidade. Além do efeito motivador, o efeito placebo também parte de um princípio puramente biológico, que é a homeostase. A homeostase nada mais é do que a capacidade do corpo de buscar um equilíbrio interno constante. Desse modo, quando estamos doentes, uma série de fatores internos (como a temperatura, pressão e quantidade de hemácias/plaquetas) pode estar alterada. Para se autorregular, nosso corpo já atua sobre a doença sozinho, tendo um sistema somente dedicado à essa função: o imunológico. Entretanto, por vezes, o corpo pode ter uma reação lenta quando comparada ao efeito de um remédio; mas, de fato, ele deve se curar sozinho. Considerando essa realidade, podemos dizer que o efeito placebo se beneficia com o tempo, uma vez que o corpo já tem (em certos casos) ou desenvolve uma defesa contra a doença que o acomete.
Tanto por razões físicas ou psicológicas, o efeito placebo ocorre. Devemos, porém, refletir um pouco mais a fundo sobre a relação da mente com o corpo. Se olharmos para a história da humanidade perceberemos que diversas culturas compreenderam a máxima do poeta romano Juvenal: “mente sã, corpo são”. Hipócrates, o famoso médico da Grécia Antiga, sempre antes de atender seus pacientes, perguntava-lhes se estavam comprometidos a largar os pensamentos e hábitos que geraram aquela doença. O pai da medicina sabia, assim, que nossas doenças físicas eram, em maior ou menor grau, um reflexo de nossos pensamentos e emoções; pois, afinal, nosso corpo é um só, e todos os seus aspectos — dos mais densos aos mais sutis — estão interligados.
Voltando para a ciência atual, um ramo da medicina concorda com a perspectiva de Hipócrates quanto a um tratamento integral do Ser Humano. Isso significa que não se deve tratar as doenças apenas pelo seu efeito somático, ou seja, pelos seus sintomas e efeitos físicos; mas também identificar a causa dessa enfermidade, que também está refletida em aspectos psicológicos do paciente. Desse modo, além do acompanhamento dos sintomas apresentados e dos efeitos dos remédios tomados, o tratamento abrange uma avaliação psicológica para compreender por completo o paciente.
Essa visão integral da medicina ajuda a perceber que nosso corpo físico não é uma máquina biológica, muito menos uma equação matemática com resultados sempre exatos. Dentre as reações que um remédio pode nos causar, por exemplo, há uma série de fatores psicológicos que podem ou não se manifestar, a depender da subjetividade de cada um. O efeito placebo, portanto, atua nessa esfera menos palpável da medicina, em que não há previsibilidade. De igual modo, outros tratamentos alternativos também podem estar ligados a esse efeito, pois sugerem ao paciente uma melhora e este, ao acreditar, acaba reagindo positivamente aos procedimentos realizados.
Visto isso, parece-nos, mais uma vez, que uma antiga lei descrita no livro “Caibalion” mostra-se verdadeira em seus mais diferentes aspectos. Conta-nos esse tratado de sabedoria que uma das principais leis universais é a de que o “Universo é mental”, ou seja, que tudo nasce em nossa mente e, a partir disso, se expressa no aspecto físico. Platão, filósofo da Grécia Antiga, traduziu essa lei com sua teoria das ideias, na qual tudo que existe seria apenas um reflexo imperfeito de uma ideia.
Para entendermos isso, pensemos que todas as nossas ações, das mais banais até os grandes planos de nossa vida, começaram com uma ideia. Antes de construir uma casa, fazemos o seu projeto e, antes disso, vislumbramos a nossa ideia de uma casa perfeita. Do mesmo modo, acontece também com o nosso trabalho, nossas relações e tudo que pode ser construído. Em nossa mente, as ideias são perfeitas. Mas, quando resolvemos colocá-las em prática, naturalmente acabamos tornando-as distorcidas de como pensamos. A casa dos sonhos, portanto, nunca é igual à casa real, assim como o trabalho e as relações.
Dito isso, Platão nos mostra que tudo nasce de uma ideia. O Caibalion, de modo similar, vai dizer que a realidade também é fruto de um pensamento (no caso, um pensamento divino), que, quando expresso na matéria, torna-se o Universo. Tais ideias, se pensadas no devido contexto, também mostram que a nossa psique acaba determinando — em algum grau — a maneira como nos relacionamos com nossa doença ou saúde, e isso impacta diretamente em nossa melhora ou piora. A saúde do corpo, logo, está diretamente ligada à saúde da mente. Por isso, acreditar que está sendo curado é tão importante quanto receber o tratamento adequado.
Por fim, lembramos que nenhuma dessas ideias invalida o tratamento convencional que seu médico sugeriu. A medicina está pautada na ciência, sendo testada e comprovada há séculos e sempre se desenvolvendo. Temos que, portanto, compreender que não basta apenas tomar o remédio, mas também nos livrar das causas que nos fizeram adoecer. Isso depende exclusivamente de nós, pois devemos ser donos da nossa própria vida. Lembremos, então, de nos manter saudáveis não apenas fisicamente, mas também psicologicamente cultivando bons pensamentos e sentimentos, além de uma inspiradora forma de vida. Assim, nossa maior cura não será um milagroso remédio, muito menos um placebo ilusório, mas o próprio desejo de viver com profundidade todos os momentos de nossa existência.