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Helena Petrovna Blavatsky e sua missão no mundo

Acreditamos que todo Ser Humano tem uma missão no mundo, algo que cada um nasceu para realizar. Ao tratar disso normalmente falamos sobre nossa vocação ou mesmo destino, entretanto, será que estamos cumprindo com o nosso destino? E se estamos, como sabemos se o que fazemos está, de fato, alinhado com o que nos cabe? Essas não são perguntas fáceis de responder e provavelmente você já se pegou pensando sobre isso em algum momento da sua vida. Hoje falaremos de uma pessoa que dedicou a sua vida à sua vocação e não mediu esforços para cumprir com seu dever. Estamos falando de Helena Petrovna Blavatsky.

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Para contar a história de Blavatsky precisamos retornar para a Rússia do século XIX, mais precisamente no ano de 1831 na região de Ekaterinoslav. Blavatsky nasceu em uma família nobre da região, tendo, desde cedo, acesso a uma vasta biblioteca na casa de seus avós e uma infância agradável e sem problemas. Apesar de ter uma vida “comum” para a nobreza, Helena estava longe de ser uma criança como outra qualquer. Desde pequena seu fascínio pelos livros e sua capacidade psíquica, expressa em alguns fenômenos parapsicológicos, a destacavam de qualquer outra jovem. 

Apesar de mostrar-se extraordinária desde cedo, a jovem Helena não podia fugir das regras do seu tempo. Lembremos que não era uma tarefa fácil ser uma mulher no século XIX, uma vez que a cultura no antigo Império Russo ditava que o papel das mulheres era apenas o de cuidar do lar e ter filhos. Uma mulher letrada, mesmo na nobreza, era um fato pouco comum para a época. Somado a isso, a natureza aventureira de Blavatsky e sua sede por conhecimento a levaram a “rebelar-se”, de certo modo, com o que se esperava dela enquanto mulher.

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Após um casamento fracassado de poucos meses com um velho general da guarda real Russa, Helena resolve fugir da vida que a sociedade havia lhe dado e parte em busca da sua verdadeira missão: a de conhecer os Mistérios da Vida e trazer Sabedoria ao mundo.

Antes de falarmos sobre seus feitos, devemos refletir sobre até que ponto vivemos pelo que acreditamos ou apenas aceitamos o que nos é imposto. Quando pensamos nas atividades que fazemos como, por exemplo, nossos empregos: será que atuamos nas áreas que gostamos porque realmente acreditamos ser essa nossa missão ou será que, em algum grau, abrimos mão de decidir e seguimos o que nos mandaram fazer? Em grande parte essa não é uma escolha consciente, porém, somos induzidos, seja pela pressão social ou algum outro fator, a fazermos o que os outros esperam de nós e não o que acreditamos ser nossa vocação.

Visto isso, só pelo fato de romper um casamento arranjado, algo comum e esperado para a época, Blavatsky já nos seria um exemplo de verdadeira autenticidade. Entretanto, essa é apenas uma singela parte de sua biografia, pois sua verdadeira contribuição para a Humanidade começa a partir daí.

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Blavatsky viajou ao redor do mundo em busca de Sabedoria. No seu itinerário estão visitas à Índia, ao Egito, à Grécia, ao Peru, ao Tibet, entre tantos outros países. Ela dizia ser orientada por mestres, também conhecidos como Mahatmas, e tornou-se uma discípula para poder auxiliar no processo de evolução da Humanidade. Para tanto, ela visitou diversos centros de Sabedoria e recolheu o máximo de informações possíveis. Dentre todos esses locais, entretanto, um tem uma importância fundamental em sua Vida: o Tibet.

Orientada por um de seus mestres, Blavatsky tentou entrar no Tibet por duas vezes, entretanto, não foi aceita nos antigos mosteiros. Somente em sua terceira tentativa foi que os monges, ao reconhecerem ela como uma verdadeira amante da Sabedoria, permitiram que ela tivesse acesso ao conhecimento que guardavam.

Para compreendermos a razão pela qual Blavatsky foi rejeitada por duas vezes, precisamos recorrer à história e compreender que o Tibet, desde a antiguidade, foi um país fechado e pouco receptivo. Essa atitude garantiu que seus conhecimentos fossem preservados, sendo um ambiente propício para se guardar as chaves para a Sabedoria. Nos dias atuais, entretanto, o Tibet, ainda mais sob influência do domínio da China, passou a ser um local mais aberto e esse conhecimento adquirido nos tempos de Blavatsky já não é mais guardado a sete chaves.

Entretanto, no século XIX as restrições a esse conhecimento eram inúmeras. Tanto que, segundo os biógrafos de Blavatsky, ela dedicou três anos de sua vida nos mosteiros do Tibet. Os monges, em contrapartida, exigiram que ela não copiasse nada enquanto estivesse sob a tutela deles, ou seja, ela deveria absorver o conhecimento apenas memorizando-o e vivendo suas lições, sem poder fazer anotações. Ela cumpriu o que lhe fora ordenado e apenas memorizando as informações obtidas em sua jornada no Tibet ela foi capaz de escrever diversos livros como, por exemplo, “A Doutrina Secreta”, “Isis sem véu” e “A voz do silêncio”.

A missão de Blavatsky não era reter o conhecimento para si, mas sim difundí-lo no Ocidente, como seus mestres haviam lhe falado. Por isso, após sair do seu período de estudos no Tibet, a Madame Blavatsky, como agora era conhecida, foi até os Estados Unidos e fundou, em 1875, a Sociedade Teosófica. Para essa nova empreitada ela contou com um valioso companheiro chamado Henry Olcott, um general da reserva americana que tinha ótima relação pública e que fez com que a Sociedade se difundisse na América.

A proposta da Sociedade Teosófica, afinal, era simples e, ao mesmo tempo, impressionante: mostrar ao Ocidente a Sabedoria milenar e atemporal advinda do Oriente. Parece algo “simples” e que, nos dias atuais, qualquer pesquisa rápida na internet nos daria acesso. Entretanto, há quase 200 anos atrás esses recursos não estavam disponíveis e quase nada se conhecia do Oriente, ainda menos ao se tratar de filosofia. Se hoje entendemos ideias como Karma e Dharma, reencarnação, reta-ação entre outros conceitos próprios da filosofia oriental, devemos, em quase sua totalidade, a Blavatsky e seus companheiros da Sociedade Teosófica.

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Agora devemos refletir sobre o impacto dessas ideias na mentalidade Ocidental. Pensemos no seguinte: imaginem uma pessoa que cresceu aprendendo sobre a ciência e que acredita que somente o método científico é capaz de explicar as grandes questões da Humanidade. Para essa pessoa a frase “eu só acredito vendo” é como um mantra, que permeia sua vida em diversos aspectos. 

Imaginemos agora que ela entra em contato com a ideia de Dharma, ou seja, que há um caminho de realização do Ser Humano, que esse caminho, também traduzido como destino, existe e que devemos segui-lo. Ao mesmo tempo, fala-se sobre Reencarnação, uma doutrina que explica como nossa Alma vive diversas experiências humanas e evolui um pouco em cada uma dessas vidas. 

É razoável imaginarmos que essas ideias não seriam facilmente aceitas. E, tal qual imaginamos, foi o que ocorreu no começo da Sociedade Teosófica. Poucas pessoas interessaram-se pelos ensinamentos de Blavatsky, que tentava ensiná-los, mas quase ninguém a escutava verdadeiramente. A maioria, a bem da verdade, estava mais interessada em alimentar a curiosidade acerca de seus dons parapsicológicos, amplamente divulgados até os dias atuais. 

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Mesmo assim, as ideias apresentadas pela Sociedade Teosófica ganharam força, pois apesar de diferente do modelo de pensamento Ocidental da época, pautado exclusivamente no cientificismo, ela carregava consigo uma Sabedoria que está para além de um método de investigação. Assim, as pessoas que antes se aproximavam apenas pela curiosidade acerca dos poderes de Blavatsky foram assimilando suas ideias e, principalmente, vendo que elas faziam sentido em suas vidas. A Sabedoria Ocidental, tão conhecida por nós atualmente, começou a espalhar suas sementes e a criar raízes no mundo Ocidental.

Aos poucos a Sociedade Teosófica ganhou força e diversas personalidades passaram a conhecer as ideias da Sabedoria Oriental. Uma dessas figuras conhecidas, por exemplo, foi o inventor Thomas Edison e o poeta William Butler Yeats. Além destes, outros intelectuais afirmaram que o conhecimento trazido por Blavatsky influenciou diretamente em suas obras. O poeta Fernando Pessoa e o educador Rudolf Steiner são exemplos notáveis do reconhecimento de Blavatsky frente à Sociedade Ocidental do século XIX e XX.

Atualmente a Sociedade Teosófica ainda existe e tem sua sede em Adyar, na Índia. Para os indianos a influência da Teosofia tem um valor ainda mais importante, uma vez que seus participantes ajudaram diretamente na formação de uma luta contra o colonialismo inglês na Índia. Desse modo a Sociedade Teosófica mostrou ao povo indiano o valor da sua cultura e religião, que à época estavam controladas e desvalorizadas frente à dominação inglesa. Essa relação com o processo de independência da Índia se mostra tão forte que dizem que Gandhi, ainda um modesto estudante de Direito na Inglaterra, teria se encontrado e conversado com a Madame Blavatsky, esta já estando nos seus últimos dias de vida. Sendo apenas um mito ou não, o fato é que a Teosofia na Índia resgatou não apenas a cultura e Sabedoria desse povo, mas principalmente lhes deu a força necessária para ajudar a enfrentar seus problemas enquanto nação.  

Já Blavatsky, após anos à frente da Sociedade Teosófica, retirou-se para Londres e viveu até 1891, em um pequeno apartamento em que acabou falecendo, sozinha. Há quem diga que este é um final triste para alguém que dedicou sua vida a reunir conhecimentos dos quatro cantos do mundo e entregá-los para o Ocidente, porém, não nos restam dúvidas de que Madame Blavatsky cumpriu sua missão.

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Isso nos leva, finalmente, ao ponto inicial deste texto: Como saber se estamos no nosso Dharma? Talvez uma maneira seja enxergarmos a marca que deixaremos no mundo e o quanto estamos dispostos a nos sacrificar para realizar essa missão. Só podemos nos sacrificar por algo que enxergamos valor, ou seja, que acreditamos e nos satisfaz. Se observarmos nossas ações e percebermos que elas estão nos tornando melhores, ou seja, nos realizando enquanto Seres Humanos, então provavelmente estamos caminhando dentro desse fluxo da vida. Isso não significa dizer que não sentiremos tristezas, dores ou mesmo causaremos problemas, pois a vida está repleta desses acontecimentos e não há como evitá-los. A diferença, talvez, seja a de que quando vivemos algo que nos realiza, toda a dor vale a pena.

Como diria Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Há quem diga que há grandes missões a realizar, como Blavatsky. Há quem se realize com pequenas missões, e tudo bem. Não estamos competindo, mas sim cooperando para a evolução da Humanidade. Cabe a nós, portanto, enxergarmos qual o tamanho da missão que nos realiza e batalhar por ela até o fim.

Quem sabe poderemos, ao fim do nossos dias, olhar para trás e pensar tal como Blavatsky ao responder sobre o seu trabalho:

“Fui apenas o laço que reuniu todos os ramos em um único buquê”

Sejamos, portanto, Autênticos. E que o exemplo de Blavatsky nos dê forças para enfrentar com Honra e Coragem as provas, e que nada seja capaz de parar nossa evolução, afinal, essa é a nossa verdadeira missão: evoluir enquanto Humanos.

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