Uma antiga frase nos conta que a música é o alimento da alma. Se para alguns isso é um exagero, em diferentes culturas humanas se constatou o valor da música para além do seu papel artístico. De fato, quando olhamos para os antigos gregos, por exemplo, é perceptível o valor que a música possuía, ganhando espaço na educação, inclusive, de todo cidadão da Hélade e tendo um status quase divino, uma vez que existiam deuses que representavam a música.
Apolo, uma das principais divindades do panteão grego, tocava uma lira e era o patrono das belas artes. Também podemos citar Calíope, a musa da música, que inspirava os artistas a aprenderem as mais distintas melodias. Indo para o Oriente, podemos constatar na cultura védica o valor dado à música. O próprio Bhagavad Gita, um dos textos sagrados dos hindus, tem como tradução “a canção do senhor”, e a música está presente em diferentes pontos da sua narrativa.
Podíamos citar outras dezenas de aspectos fundamentais da música, porém, o mais importante não é saber que outras culturas observavam o seu valor na formação humana, mas sim entender o que torna a música tão especial. Será que há uma base científica que sustente o valor psicológico da música, ou, como alguns pensam, música é apenas uma entre tantas outras expressões da arte, a rigor, não transforma a nossa biologia?
Para refletirmos sobre essa questão, trouxemos uma área que tem expandido os horizontes da medicina tradicional: a musicoterapia! Vamos conhecer um pouco mais sobre ela?
O que é musicoterapia?
A rigor, podemos afirmar que musicoterapia é uma forma de terapia que utiliza a música para ajudar na promoção da saúde mental e física. Mas como isso é possível? Apesar de ser uma prática tão antiga quanto a humanidade, como disciplina da medicina atual, a musicoterapia é relativamente nova. Seu uso se deu primeiro no campo da psicologia para tratar veteranos de guerra e ajudá-los a superarem traumas do campo de batalha. Porém, hoje já é possível perceber os benefícios psicossomáticos desse tratamento.
Algumas pesquisas recentes, por exemplo, apontam o uso dessa terapia como uma prática auxiliar para recuperação e preparação para cirurgias como meio de apaziguar e relaxar o paciente. Assim, antes e após algum procedimento, verificou-se que colocar músicas que agradam o paciente e com melodias suaves tornam-o mais receptível à cirurgia e à ajuda, consequentemente, nos níveis de estresse no pré e pós-operatório.
Assim, apesar do seu uso ser voltado para práticas integrativas no campo da psique, também já há meios de utilizar a musicoterapia como auxiliar em questões diretamente ligadas ao corpo. Visto isso, é natural refletirmos sobre como a música é capaz de alterar nossos estados psicológicos. Não precisamos ir tão longe para confirmarmos essa ideia, afinal, quem de nós nunca percebeu os efeitos que a música produz em nós?
Se vamos praticar um exercício físico, por exemplo, a música muitas vezes é mais do que uma mera distração: ela é um poderoso aliado para manter nossa vitalidade em alta. O mesmo também ocorre em momentos em que precisamos de foco e concentração e colocamos uma música “ambiente” para estudarmos ou realizar algum trabalho. Esses exemplos básicos são provas de como já utilizamos a música para diversos fins em nossa vida, e agora aprenderemos como podemos adequar essa poderosa ferramenta a diferentes tipos de tratamento.
A musicoterapia na medicina
Um dos principais usos da musicoterapia, como já apontamos, está na área da psicologia. Entretanto, além de combater a ansiedade e traumas, a musicoterapia também é uma aliada na construção da comunicação e ajuda no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. Nos dias atuais, já se usa a musicoterapia como uma auxiliar no desenvolvimento de crianças com autismo, por exemplo, para ajudá-las na construção de suas habilidades motoras como a fala.
Sabemos que a música, quando praticada, não ajuda apenas no desenvolvimento da sensibilidade, de entender o que é uma nota afinada ou desafinada, mas também no refinamento da coordenação motora, no ritmo e na velocidade com os dedos, mãos e pés, a depender do instrumento que se usa. Assim, como uma ferramenta de desenvolvimento dessas habilidades, a musicoterapia é excelente e recomendada não apenas para crianças com dificuldade nesses aspectos, mas também para toda e qualquer pessoa que deseja ampliar suas capacidades.
A musicoterapia ainda pode ser empregada na fisioterapia, auxiliando na reconstrução de movimentos a partir de ritmo e melodias a serem seguidas. Assim, as possibilidades continuam a expandir seus horizontes nessa nova ferramenta, que, a bem da verdade, já está à disposição da humanidade há muitos milênios.
De um ponto de vista mais filosófico, não nos surpreende que o benefício de uma arte reflita também nos aspectos mais objetivos de nossa vida. Para Platão, um dos maiores filósofos da Antiga Grécia, a arte e a ginástica andavam juntas e jamais poderiam ser separadas. Assim, todo exercício físico deveria preparar o corpo para atuar em prol da alma, e o contrário também era real, ou seja, o desenvolvimento da arte traria benefícios físicos. Um artista, portanto, a partir dessa perspectiva, não era apenas um expert em música, dança ou poesia, mas também fazia da sua própria vida sua principal obra.
Por fim, levando em consideração os pontos que apresentamos, percebemos que é fundamental ampliarmos nosso campo do conhecimento e integrar diferentes práticas em nossa vida. Costumamos dividir e seccionar a vida, entretanto, essa é apenas uma forma de organização e entendimento do nosso entorno. Na prática, a vida é uma só, uma mesma expressão que vibra por todo o cosmos. Assim, a música não está isolada e não atua apenas em nosso aspecto sensível, mas também nos traz benefícios visíveis. Desenvolver essa perspectiva perante a vida pode nos revelar a principal e mais bela lei da natureza: a de que tudo está unido e participa dessa bela dança do Universo.
Veja também a música como remédio.