Todos nós acreditamos possuir Bom Senso, isso é um fato. Raramente, encontraremos alguém que falará abertamente sobre a dificuldade de tomar decisões sensatas pois, a rigor, do nosso ponto de vista, todas as nossas decisões possuem, em algum grau, uma lógica.
Apesar disso, a realidade prova o contrário. Se analisarmos bem, é natural enxergarmos situações que fogem – e muito – do Bom Senso! Basta observarmos exemplos cotidianos e corriqueiros: uma pessoa que dirige sem cinto de segurança, que ingere bebida alcoólica e dirige seu carro, que deixa para entregar tarefas em cima do prazo quando, não raramente, perde estes prazos e pede um tempo a mais para realizá-la.
Por trás dessa falta de Bom Senso se esconde muitos defeitos: a vaidade, a preguiça, o orgulho… apenas para citar alguns. Será, portanto, que possuímos tanto Bom Senso assim? Ou para algumas áreas da vida, agimos corretamente, e em outras, somos levados por emoções diversas, que arrastam nossa razão e nos fazem agir de maneira desmedida?
Se você se identificou um pouco com esse dilema, hoje trouxemos quatro dicas importantes para aprendermos a tomar Boas e Sábias decisões. Estas, na maior parte das vezes, nos parece óbvio e, de certo modo, até são, mas suas aplicações nem sempre são tão simples de se executar. Vamos a elas?
O dilema de decidir bem
Antes de mergulhar em nossas dicas práticas, é necessário refletir sobre o que estamos falando com o termo “decidir bem”. Sabemos que a toda hora estamos deliberando sobre algum assunto, precisando tomar decisões – por vezes rapidamente –, e isso se tornou natural em nossa vida adulta. Uma das grandes diferenças, inclusive, entre adultos e crianças é o fato dos adultos serem responsáveis pelos seus atos e, portanto, devem, em teoria, saber tomar Boas decisões. Uma criança, ao cometer um erro, é extremamente perdoável, afinal, ainda estão em fase de formação e aprendizagem; já o adulto é punido com um rigor maior da lei, visto suas responsabilidades.
Sendo assim, podemos afirmar que tomar decisões todos nós fazemos, desde a juventude, mas será que temos a capacidade de tomar as decisões corretas? Decidir é uma coisa, decidir acertadamente é outra totalmente diferente. O que queremos aprender, portanto, é decidir Bem. Mas qual o critério para isso? Como saber se a decisão é Boa ou não?
Para responder a essas questões, precisamos recorrer à Filosofia. Platão, um dos mais influentes Filósofos da Grécia Antiga, na obra “A República”, fala que tomar decisões corretas é fruto da Virtude da Prudência, própria dos Sábios! A Prudência, a rigor, nada mais é do que “a capacidade de escolher corretamente, sem se deixar levar por fenômenos afetivos”. Assim, uma pessoa prudente sempre irá decidir com base no Bom Senso, na lógica, e não de forma espontânea, levada pelo “calor do momento”.
Quantas vezes já tomamos decisões impulsivas ou contaminadas por um desejo que não sai da nossa Mente? Quando esses estados emocionais nos dominam, acabamos perdendo um pouco nosso Bom Senso e acabamos agindo mal, notadamente imprudentes.
As quatro dicas abaixo vão nos ajudar, portanto, a nos aproximar da Prudência e tê-la como um farol para as nossas decisões e dilemas diários. Confira!
1 – Nunca decida nada no calor do momento!
A primeira dica para tomar Boas decisões é a de não decidir nada com a cabeça quente. A cólera, a ira e a tristeza são emoções muito fortes que alteram nossa visão da realidade. Nada como uma noite de sono para acalmar a Mente e as emoções, e assim enxergarmos melhor o que fazer.
No mundo atual, que estimula nossas emoções e sensações, é extremamente comum tomarmos decisões impulsivas, baseadas apenas em nossos desejos e emoções momentâneas. Entretanto, à medida que os ânimos diminuem e voltamos a pensar racionalmente, percebemos que tomamos decisões completamente equivocadas. As emoções nos influenciam fortemente, e, por mais que sejamos uma espécie racional, nosso campo emocional é tão poderoso que por vezes consegue nublar nossa percepção e lógica. Assim, por mais absurda que seja aquela tomada de decisão, que certamente ninguém em condições normais faria, no “calor do momento” acabamos realizando-as.
A forma mais prática que podemos dar nessa dica é perceber seus estados emocionais e observar para quais decisões elas lhe levam. Para essa dica ser válida, é preciso usar a vida como um grande laboratório e experimentar alguns cenários. Perceba, por exemplo, quais atitudes ou desejos vêm à sua Mente quando se encontra triste e reflita se, ao fazer aquilo que está desejando, sua tristeza aumentará ou diminuirá. Se essa ação vai ampliar aquela emoção ou vai ajudar a combatê-la.
Assim você perceberá, de modo prático, como nossas ações estão diretamente associadas ao nosso campo emocional e que, na maioria das vezes, o que decidimos fazer não é bom para nossa vida, mas ainda assim somos conduzidos a agir de modo contrário ao Bom Senso.
2 – Você controla as suas atitudes, não as dos demais
Muitas vezes, somos tomados por um sentimento de injustiça ao ver alguém fazendo algo errado ou que foge do Bom Senso. Julgamos, criticamos, mas no fundo tais reclamações têm uma raiz mais profunda: a da injustiça. Se há uma regra, por exemplo, e alguém a descumpre, imediatamente pensamos que essa pessoa foi “beneficiada” ao cometer esse ato, enquanto nós, os que seguem a regra, somos injustiçados.
No fundo, toda injustiça que vemos fora nos soa como um desejo de querer realizar aquilo, mas que sabemos que não é o correto. Deveríamos ficar felizes em não apoiar a injustiça, e mesmo que só uma pessoa seguisse as regras, ainda assim deveríamos fazê-la por Bom Senso, por entender o que é o melhor, e não sentir-se injustiçado perante o todo. Nesse sentido, de nada adianta julgar a falta de Bom Senso dos demais, ou colocar-se numa posição de vítima ou mártir, de que “só eu sigo as regras”. Num mundo em que falta Bom Senso e Justiça, é fundamental sermos, acima de tudo, um exemplo de Retidão e Prudência.
Assim, é fundamental não nos deixar abalar por esse Sentimento, que pode nos fazer cair em outro ainda mais perigoso: o efeito manada. Uma vez que percebemos que “todos” estão agindo de forma errada, acabamos indo no “embalo” e agindo também de forma errada. Assim, em um ambiente, por exemplo, em que todos bebem e dirigem, podemos acabar sendo influenciados a fazer o mesmo, pois internamente nos sentimos injustiçados por não poder fazer o que todos fazem.
Além disso, há uma carência de querer pertencer a um grupo, logo, quando se une essas duas perspectivas, acabamos perdendo a noção de nós mesmos, nossos Valores e nossa Prudência, e somos levados a cometer erros. Portanto, saber que você é o único responsável pelos seus atos é fundamental. Não podemos controlar nosso ambiente e as ações alheias, mas perceber como estamos agindo, se é apenas por convenção social ou por pressão do meio, é essencial.
3 – Viva um momento de cada vez
Uma antiga frase diz: “Um dia vale por três para quem faz cada coisa a seu tempo.” Muitas vezes, deixamos de agir com Bom Senso porque antecipamos um problema que ainda não existe. Criamos ansiedades desnecessárias, fantasiamos com cenários dando errado, sem nada ter sequer acontecido!
Ao invés de focar no momento presente, nos perdemos num futuro inexistente. Com essa frase, o Filósofo Romano Epicteto nos ensina que fazer o que nos cabe, no momento presente, é muito mais útil e nos gera muito mais benefícios, inclusive no aproveitamento do dia.
De maneira prática, devemos observar se, no nosso dia a dia, estamos vivendo de maneira consciente. Muitas vezes, antecipamos o futuro ou ficamos presos no passado e isso nos rouba o Bom Senso. Quando, por exemplo, uma pessoa que nos magoou em algum momento de nossa trajetória volta à nossa convivência, é comum ficarmos relembrando do que aconteceu, sem perdoar e tratando a pessoa em questão de maneira ríspida ou com indiferença. Sabemos que essas atitudes não ajudam na boa convivência, mas como estamos condicionados pelo passado ou com medo do futuro, perdemos o momento presente de viver com Paz e Tranquilidade na relação com a pessoa em questão.
Nesse sentido, é fundamental aprender a deixar o passado no passado e fazer o presente valer. Com mais consciência no que precisamos estar vivendo naquele momento, seremos capazes de agir com Bom Senso, vendo as verdadeiras necessidades.
4 – Saiba diferenciar o que depende e o que não depende de você
Por fim, mais uma frase de Epicteto para nos inspirar a agir com Prudência: “Não importa o que esteja acontecendo ao seu redor, faça o melhor que estiver ao seu alcance e aceite o resto como vier”. A melhor maneira de agir com Bom Senso é aceitar os problemas como desafios a serem superados e encará-los de frente, e o que vier servirá de aprendizado!
Devemos lembrar que não podemos controlar a vida. Haverá situações que nos atravessarão, nos deixarão mal e que roubarão nossa Paz. Isso é um fato. Não podemos controlar o que nos acontece, mas podemos controlar como nos portamos diante dessas dificuldades. É aqui que surge a verdadeira Prudência: saber diferenciar o que podemos fazer daquilo que não podemos mudar. Aceitar essa Verdade Universal nos colocará num caminho de mais Paz Interior, sabendo equilibrar essa balança difícil e nos manter focados em nosso momento presente. Sem isso, jamais conseguiremos agir com lucidez perante a vida.
Seguindo essas orientações desses grandes Mestres, até mesmo nós, que não somos Sábios, podemos aprender a tomar decisões de forma mais acertada. Experimente!