Imagine que você pode descobrir o exato momento da sua morte. Você gostaria de saber? Será que esta é uma curiosidade sadia que nos faria repensar e planejar melhor a vida? Ou seria uma informação que traria muito mais dor e peso para o restante dos dias? Nos tornaríamos mais sábios ou mais imprudentes em nossas ações a partir de então?
Falar sobre a morte não é nada simples. Por mais que convivamos com ela o tempo todo a nossa volta, por mais que leiamos livros sobre o assunto ou busquemos respostas nas filosofias e religiões, esse tema continua como um grande mistério para o ser humano. E aí está o grande questionamento: ele deve manter-se como um grande mistério inalcançável ou podemos lidar com o tema de forma mais objetiva e até mesmo felizes?
Há quem diga que, ao perceber a morte, encontrou alegria na vida. Que contraditório, não é mesmo? Ao ver a face da morte de perto, muitas pessoas se reposicionam, aproveitam os dias com mais profundidade, vivem mais intensamente os sentimentos e não guardam nada para si, um verdadeiro processo de libertação. Muitos casos são observados em pacientes com doenças terminais que, ao ver o fim próximo, aproveitam da melhor forma os dias restantes.
É por esse motivo que indicamos o filme “Antes de Partir”, do diretor Rob Reiner. Lançado em 2007, estrelando dois grandes atores de Hollywood, Jack Nicholson e Morgan Freeman, o filme, com a dose certa de comédia e drama, nos inspira a refletir sobre a morte. A narrativa gira em torno de Edward e Carter que se tornam amigos da forma mais improvável possível, no leito do hospital. Ambos com doenças graves, não lhes resta muito a não ser esperar a temida hora de partir.
Edward, por ser muito rico, resolve proporcionar a Carter todos os momentos que ele sempre quis viver mas que nunca teve oportunidade. Então eles criam uma ‘bucket list’, uma expressão do inglês que significa uma lista de coisas que a pessoa quer fazer antes de morrer. Cumprindo fielmente a lista, os dois personagens não só aproveitam mais seus dias, como refletem sobre a vida, a morte e suas famílias. Para não dar spoiler, não contaremos aqui como o filme termina, mas vale a pena conferir!
A postura que os dois amigos tomam ao longo do filme, lembra alguns conselhos do imperador e filósofo Marco Aurélio. Na sua obra “Meditações”, o autor cita que devemos caminhar na vida de mãos dadas com a morte e tomá-la como conselheira de nossas ações. Ou seja, sempre que for agir, pense: e se eu morrer amanhã? Fiz tudo que podia? Dei o meu melhor? Fui amoroso com quem eu amo? Já pensou se tivéssemos esse ‘filtro’ em nossa mente? Provavelmente, teríamos muito menos arrependimentos e pendências em nossas vidas.
A sabedoria do Imperador Romano nos remete a uma célebre expressão, também de origem latina: Memento mori, que significa “lembre-se de que é mortal”, ou, “lembre-se da morte”. Curioso existir uma frase para nos lembrar de algo óbvio, não é mesmo? A forma como conduzimos nossa vida, muitas vezes, demonstra que esquecemos desse fato inevitável. Postergamos nossos sonhos, nossas metas de vida, esquecemos de partilhar momentos especiais ao lado de quem amamos, sempre por achar que teremos mais tempo. Ao final, nos sentimos como o personagem da música “Epitáfio” de Titãs, “devia ter amado mais”, “devia ter chorado mais”, “ter visto o sol nascer” (…). Se tivéssemos em mente sempre o Memento mori, com certeza, postergaríamos menos e aproveitaríamos com mais significado a vida.
Uma outra frase do filósofo Marco Aurélio que nos faz refletir sobre esse assunto diz que “Não é a morte que um homem deve temer, mas ele deve temer nunca começar a viver”. E esse é um aprendizado que o personagem Edward tem no filme. Próximo da morte, ele percebe que trabalhou sempre pela sobrevivência, a tal ponto de se separar de toda a família, mas nunca viveu de verdade. Por “sorte”, seu diagnóstico de fim de vida lhe dá uma nova oportunidade para tirar do atraso tudo que ele negligenciou por tantos anos, mas que verdadeiramente era o mais importante.
Além de nos emocionar, o filme traz boas risadas e nos faz refletir sobre como estamos conduzindo nossas vidas. Você, que agora está lendo este texto, está em paz com tudo que fez e conquistou na sua vida até agora? Como está sua Bucket list? Ou melhor, você tem uma, ou sequer passou pela sua cabeça uma lista dessas? “Antes de partir”, além de entreter, nos traz um aviso importante: não deixe de viver sua vida, aproveite os momentos com intensidade, por mais simples que sejam, e nunca deixe para depois para pensar sobre a morte. Pense nela agora, não de forma mórbida ou triste, mas como Marco Aurélio disse, como uma conselheira, uma ideia que vai validar e ressignificar nossos atos. Se fizermos isso de verdade, talvez nem precisemos de uma Bucket list no final de contas, pois teremos feito tudo o que queremos para a nossa felicidade.