A história da humanidade é marcada por bons e maus exemplos civilizatórios. Um dos grandes dilemas que enfrentamos é a da igualdade, pois, apesar de nos parecer óbvio que todos nós somos seres humanos, que compartilhamos o fato de sermos desta mesma espécie, não raramente vemos grupos sociais e pessoas sendo excluídas por causa de alguma característica ou formação.
Dentre esses grupos, talvez o mais perseguido tenha sido o de pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência. A história nos mostra que, por exemplo, nas sociedades antigas, pessoas que nasciam com alguma deformação física eram descartadas. O caso mais conhecido é o da sociedade espartana, mas essa não era uma exclusividade dessa pólis grega, sendo um traço cultural comum em todo o Mediterrâneo.
Já pessoas que nasciam com alguma deficiência no campo psicológico também eram marginalizadas, geralmente colocadas sob cuidados específicos ou abandonadas. Esses exemplos, infelizmente, podem ser vistos ainda nos dias atuais, em uma escala menor, mas não tão raros de ocorrer. O fato da não aceitação de pessoas com deficiência talvez seja uma prova de como precisamos evoluir enquanto humanidade, aprendendo a aceitar todas as pessoas, independente de suas formas.
Para conquistar tais objetivos, entretanto, é preciso lutar. Não falamos em uma guerra armada contra o preconceito e a intolerância, mas uma postura ativa para abrir espaço para todos os tipos de pessoas, afinal, somos todos partícipes de uma mesma experiência humana. Não por acaso, no dia 21 de setembro, é comemorado, no Brasil, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência.
Essa data foi oficializada em 2005 pela Lei Nº 11.133, entretanto, já era comemorada desde o ano de 1982. O 21 de setembro foi escolhido porque está próximo do início da primavera, coincide também com o dia da árvore, estação conhecida pelo aparecimento das flores. Esse fenômeno representaria o nascimento e a renovação da luta das pessoas com deficiência, que simbolizam o sentimento de reivindicações em prol da cidadania, inclusão e participação plena na sociedade.
A primavera é um símbolo poderoso. Assim como as flores voltam a surgir, a nossa sociedade deve abrir novas possibilidades de acessibilidade e aceitação, nas mais distintas esferas, para pessoas com algum tipo de deficiência. Para tanto, esse processo não pode depender apenas da força governamental, pois, antes de tudo, é preciso uma mudança na mentalidade de toda população. Muitas vezes, somos ensinados a encarar algo “diferente” como negativo ou ruim, e comumente ainda pode-se ver que pessoas com deficiência são rebaixadas a cidadãos de segundo escalão, como pessoas quem devem ser apenas cuidadas, mas nunca colocadas em posições de protagonismo e de responsabilidade.
Visto isso, nos cabe perguntar: será que conhecemos profundamente o universo das pessoas com deficiência? Em geral, conhecemos muito pouco, e, por isso, hoje a Feedobem resolveu escrever um texto para refletirmos sobre essa questão.
O que é a deficiência?
Primeiramente, devemos entender que o termo “deficiência” é um nome genérico para definir uma limitação, a longo prazo, de natureza física, mental, intelectual e sensorial. Por isso, não podemos dizer, por exemplo, que uma pessoa que sofreu um acidente e quebrou as duas pernas é uma deficiente, pois sua condição é temporária e tem resolução a curto ou médio prazo.
Sendo assim, a deficiência física atinge diferentes níveis e pode ser classificada em quatro tipos: a física, a auditiva, a visual e a mental. Vale ressaltar que nenhuma deficiência deve ser motivo para exclusão ou marginalização, uma vez que a condição humana se preserva e é inalienável. Mesmo que a deficiência limite a pessoa em questão em algumas áreas da vida, ela continua a exercer seu direito enquanto cidadã, e pessoa.
Ressaltar esses pontos é fundamental em nossa reflexão, pois durante praticamente toda a história da humanidade, esse grupo foi excluído e estigmatizado. Não é à toa que no mundo em que vivemos, esta comunidade exerce uma luta perene para a manutenção de direitos e respeito perante a sociedade.
Através de sua luta, por exemplo, as pessoas com deficiência conquistaram alguns direitos, como, por exemplo, o direito de dirigir para os surdos, a obrigatoriedade de ambientes adaptados para pessoas com dificuldade de locomoção em todas as universidades, assistência especializada em voos, descontos em ingressos de eventos culturais, entre outros.
Os desafios que ainda precisamos enfrentar
A adaptação dos espaços é uma das pautas mais urgentes nesse momento, uma vez que apesar de já conquistarem protagonismo em diferentes áreas, o acesso e a vida cotidiana da pessoa com deficiência ainda é custosa e cheia de barreiras. Assim, criar ambientes adequados, que garantam a acessibilidade, deve ser uma obrigação de toda e qualquer instituição, afinal, todos possuem o direito de frequentar os espaços públicos que, como o nome já pressupõe, são uma propriedade coletiva, do bem comum.
Mesmo com vários direitos já concedidos aos deficientes, essa é uma causa que requer um olhar empático; na medida que nos colocamos no lugar das pessoas, sentimos um pouco de suas necessidades. O que para você pode ser algo tão absolutamente normal, como andar até uma padaria na esquina de casa, para outra pessoa pode ser a maior dificuldade que ela vai enfrentar no seu dia.
Afinal de contas, a deficiência que acomete o corpo de alguns indivíduos é uma fatalidade que afeta o plano físico e que tem origem, muitas vezes, em fatores que não dependem de nós, como doenças ou acidentes, por exemplo. Por outro lado, a maior força que o Ser Humano tem, são as suas virtudes, e o maior poder que ele pode desenvolver é o poder de ser Bom, de ser generoso.
Nesse sentido, nenhuma limitação física pode impedir a alma humana de expressar sua beleza, sua bondade e sua verdade. O que nos cabe fazer é tornar a vida acessível a todos, pois a cortesia e a empatia para com o próximo devem ser algumas das virtudes exercidas em nosso dia a dia. Sem elas, jamais conseguiremos desenvolver uma verdadeira igualdade entre os seres humanos e poderemos acabar repetindo os problemas que tantas civilizações já presenciaram. Que possamos, portanto, ser pontes que conectam uns aos outros; que sejamos construtores de um mundo melhor para a humanidade, deixando verdadeiros exemplos de virtude e vitória perante todas as nossas barreiras.