Leonardo Fibonacci foi um dos matemáticos mais importantes da história. Filho de um funcionário de comércio e alfândega, acompanhou seu pai e aprendeu desde cedo a lidar com os números. Através de suas viagens ao mediterrâneo entrou em contato com avançados conhecimentos matemáticos vindos do oriente, que lhe despertaram profundo interesse no assunto.
Em sua principal obra, o Liber Abaci, contribuiu com a difusão dos numerais arábicos expondo suas vantagens sobre o sistema de numeração romana que veio a ser substituído dois séculos e meio mais tarde em toda a Europa. No décimo segundo capítulo deste mesmo livro, Fibonacci apresenta um problema peculiar que até hoje desperta curiosidade não só em matemáticos ou biólogos:
Um homem pôs um par de coelhos num lugar cercado por todos os lados por um muro. Quantos pares de coelhos podem ser gerados a partir deste par em um ano se, supostamente, todo mês cada par dá à luz um novo par, que é fértil a partir do segundo mês.
Através deste inocente problema, o matemático apresenta uma importante sequência de números que posteriormente foi batizado com seu nome, a Sequência de Fibonacci. A solução deste problema é relativamente simples quando obtemos seus componentes:
1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 144 233 …
Desta forma, observamos que cada termo na sequência é igual à soma dos dois números que o antecedem.
Ok.. mas onde vamos chegar com isso?
Talvez você não saiba, mas essa sequência de números se relaciona não apenas com a população de coelhos, mas com uma infinidade de elementos presentes na natureza. Como a distribuição das pétalas de uma flor, ou das sementes de um girassol, o formato de um furacão ou uma concha de um gastrópode.
Sim, nesta sequência de números nos deparamos com uma fórmula divina, conhecida como razão áurea (ou proporção áurea) que imprime harmonia em nosso mundo. Desde o DNA que compõe o seu corpo até às estrelas da Via Láctea, a natureza através da busca pela harmonia e eficácia, nos presenteia com belas imagens.
E nós humanos, como peças dessa natureza, participamos desta lei. Não apenas no que diz respeito às proporções de nosso corpo físico, como na obra “Homem Vitruviano”, idealizada pelo arquiteto Marcos Vitrúvio e desenhada por Leonardo da Vinci, mas também nos padrões psicológicos de nossos comportamentos. Especialistas do mercado financeiro descobriram que o padrão de Fibonacci está presente nos movimentos de retração e expansão da bolsa de valores, e assim, hoje utilizam do conhecimento para realizar projeções de investimento e multiplicar seus ativos.
Não por acaso, a Humanidade já empregava esta razão divina em suas obras científicas e artísticas desde épocas remotas. Como a arquitetura dos templos egípcios, a matemática dos filósofos gregos, as pinturas renascentistas, as obras de Mozart, Beethoven, Satie, Debussy, etc. Hoje, fotógrafos, designers, ilustradores e demais profissionais das áreas visuais se apropriam desse conhecimento para criar e inspirar pessoas.
A Beleza estética da simetria nos toca, pois reflete a justa Ética que reside dentro de nós, e ambas são expressões da Harmonia divina presente em toda a Natureza. Por mais que as teorias mais modernas busquem relativizar os conceitos de Bem, Beleza e Justiça, é inegável que existe uma ordem em todo o Universo, e todos nós somos capazes de percebê-la pois é essa ordem que alimenta nossa alma e fortalece os nossos sentimentos mais profundos. Quando estamos diante dela, nos sentimos plenos, pois é como se estivéssemos encontrado o nosso lugar na existência, é como se o nosso Ser tivesse encontrado o seu caminho de volta para casa.
Sobre essa ordem divina e a verdadeira Beleza que nos toca a alma, a filósofa e poetisa Lúcia Helena Galvão, sintetiza isso de uma forma simples e profunda, em sua obra “Como sempre, à Beleza”:
É de onde nasce a poesia e a canção.
Nenhuma alma permanecerá sombria
se varrida por ela,
tão hábil artesã de almas belas,
tão ágil em preencher almas vazias.