O mundo, à primeira vista, pode parecer assustador! Imagine todas as possibilidades que encontramos em nossa existência. O mundo, por mais belo que seja, também nos causa grande temor. Não por acaso, ao longo da evolução humana, desenvolvemos um dos mais importantes instintos, que é o de sobrevivência. Esse mecanismo super elaborado é quem nos faz tomar precauções antes de qualquer aventura e, em grande medida, nos protege dos riscos em que podemos ser expostos.
Por outro lado, quando ficamos presos apenas nesse tipo de instinto, podemos desenvolver algumas patologias psicológicas. Síndrome do pânico, paranoia e um medo excessivo de tudo que seja novo para nossa psique podem paralisar nossa evolução ao invés de causar sua promoção. Como balancear esses dois mundos? O que fazer quando precisamos arriscar e sair de nossa zona de conforto, mas, ao mesmo tempo, o medo nos prende em nossas raízes?
Curta Piper e a necessidade de superar nossos medos
Sobre esse assunto, hoje trouxemos o curta “Piper” para nos ajudar a refletir sobre essas ideias. Produzido pela Pixar, a animação mostra a trajetória de um filhote de passarinho que tem que aprender a sair de seu ninho e ir atrás de alimento. Curta e profunda, a animação nos mostra que em qualquer passo que tivermos que dar em nossas vidas surgirão desafios, os quais serão difíceis ou aterrorizantes, como o primeiro contato do passarinho com o mar, mas que são essenciais para nosso crescimento e aprendizado.
Ao assistirmos o curta com atenção, poderemos tirar poderosas lições a partir da saga do pequeno Piper. Vamos nos restringir, porém, há duas ideias (ou cenas) que sintetizam perfeitamente o que queremos abordar: a saída do ninho e as ondas que derrubam nosso protagonista.
Na primeira é como nos posicionamos quando temos de “sair de nossos ninhos”. Toda pessoa que já deixou a casa dos pais sabe o quanto é difícil dar este passo. Não é por acaso: após viver toda sua vida junta aos seus progenitores, na certeza de que sempre poderá contar com um teto, um prato de comida e algum conforto, ter que abrir mão de tudo isso não é simples.
Além disso, nem sempre os pais têm boas reações quando os filhos começam a alçar seus próprios voos. Sabemos que esse é o desejo de todo pai e mãe, porém, mesmo sendo algo racional, nem sempre as emoções acompanham os nossos raciocínios. Assim, sair do ninho não é fácil para ninguém, afinal, quem vai querer sair de um local tão confortável e seguro para ir em direção ao incerto?
Num determinado momento, somos forçados pela vida a sair do ninho e essa saída envolve o medo, a insegurança de não saber o que vai acontecer e a falta de fé em nós mesmos. Ainda bem que Piper sente fome e sai à procura de alimento, senão ele definharia no ninho esperando a comida cair em seu bico! E aí, quando finalmente criamos coragem, saímos do ninho, entramos em contato com a vida e ficamos felizes, começam as provas e os desafios, e então levamos um belo “caldo”, como Piper.
As ondas simbolizam, de forma didática, os problemas que enfrentamos ao sair do ninho, ou de qualquer tipo de zona de conforto. Não há escapatória: o novo sempre trará novos desafios. Talvez isso seja o mais assustador e o que faz travar grande parte das pessoas: o medo de lidar com problemas novos. Nosso instinto, mais uma vez, grita pela rotina, pela previsibilidade do mundo, afinal, uma vez que tudo segue como sempre foi, não é preciso estar atento ou preocupado em sobreviver. Na zona de conforto não há dúvidas ou angústias, apenas certezas vazias e opiniões formadas.
Desse modo, ao colocarmos o pé para fora de nossas casas, seremos bombardeados com uma nova dinâmica social. Agora precisamos lidar com todas as tarefas domésticas, as contas e tudo que clamamos por afirmar que é a “liberdade”. A vida, sábia como sempre, nos impõe desafios, os “caldos” que Piper sofre ao longo de sua saga. Mas por que isso acontece? Será que só podemos aprender desta forma?
A onda serve como uma mensagem para mostrar que não devemos nos acomodar nunca, e que experiências novas abrem as possibilidades para o nosso crescimento. Mas, se a experiência gera um trauma, surge o medo da “onda”, que nos aprisiona, impedindo a vivência de novos desafios. No entanto, se aprendemos com a experiência, nos tornamos pessoas melhores e mais fortes, capazes de mergulhar de cabeça na “onda”! Na hora do mergulho, dá um frio na barriga, mas, logo em seguida, vem uma nova descoberta, um despertar e um novo aprendizado sobre si mesmo.
O mistério de dar o primeiro passo
Em um antigo livro de fantasia, fala-se do perigo de dar passos fora da sua zona de conforto. Conta-se que esse é um momento perigoso, pois, quando começamos a caminhar, nossos pés não querem parar e não sabemos para onde eles podem nos levar. Apesar de ser uma frase de um livro de ficção, seu conteúdo é extremamente relevante.
Quando nos direcionamos para um novo objetivo, uma nova conquista, o passo mais difícil é o primeiro. Quebrar a inércia e o automatismo cotidiano está entre as tarefas mais difíceis de serem feitas, pois a grande maioria das pessoas já não sabe por qual pé começar a andar.
Em nossa forma atual, acabamos falando muito sobre o termo “sair da zona de conforto”, mas não nos revelam que a intenção dessa frase é cair em outra zona de conforto. Com isso, podemos entender que não se trata apenas de caminhar ou fazer uma série de coisas, mas sim de fazer aquilo que é necessário. No caos de Piper, sua necessidade era o alimento e por isso dedicou-se a isso, mas será que nós também só possuímos essa escolha? Evidente que não.
O ser humano veio ao mundo para desvelá-lo e quando nos concentramos no outro – e não em nós –, poderemos vislumbrar uma pequena conquista em direção a si mesmos. Só assim a Vida se revela para nós, só assim adentramos em seus Mistérios e podemos ver a sua Beleza oculta. Oculta pois não é óbvia, segue guardada por detrás das provas e desafios do nosso dia a dia. É isso que o curta nos ensina quando Piper aprende com o caramujo a enfrentar a onda. Olhando por baixo d’água, ele descobre um mundo que não conhecia, com muito mais oportunidades.
Daí surge o verdadeiro propósito da saída do ninho, encarar as experiências, crescer com os desafios e usar o aprendizado para somar na vida dos demais, tornando o mundo à nossa volta melhor. Somente enfrentando as adversidades é que crescemos e nos aproximamos do que há de mais valioso em nós mesmos, a nossa Alma, a nossa parte mais divina.