Conhecendo Nosso Cosmos: O Significado dos Nomes dos Planetas

As estrelas sempre fascinaram o Ser Humano. Desde a pré-história olhamos para o céu noturno e imaginamos os corpos celestes com formas, significados e, em algum grau, uma profunda relação com nossa vida cotidiana. A astrologia, por exemplo, tão em alta nos dias atuais, nasceu desse vislumbre que temos pelas estrelas ainda na antiga Suméria, há mais de 6 mil anos.

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Ao longo da história passamos a observar cada vez mais o Cosmos, não apenas por sua beleza nos encantar, mas principalmente por buscarmos respostas. Desenvolvemos uma ciência para estudarmos o seu movimento, forma e composição: a astronomia. Hoje, esse é o principal meio que utilizamos para compreender mais sobre o Universo físico e procurar formas de vida que habitam fora do nosso sistema solar. A maior parte dessas buscas concentram-se nos planetas, corpos celestes que estão orbitando estrelas, tal qual a Terra faz com o Sol. 

Sobre isso, os planetas do nosso sistema solar, alguns visíveis e conhecidos desde a antiguidade, foram motivo de inspiração, sendo como Deuses em diversas civilizações, dando sentido e explicação para eventos da vida cotidiana. Por se diferenciarem em brilho e forma, os antigos os observavam com bastante curiosidade e reverência. O próprio Pitágoras, filósofo grego do século VI a.C. afirmava que os planetas emitiam sons, uma vibração própria e que isso os distinguiria dos outros corpos celestes. Tais percepções mantiveram a mística em relação aos planetas e sua influência direta com a Terra, porém, em pleno século XXI já sabemos que Marte e Vênus não são Deuses, mas planetas similares à Terra que estão orbitando ao redor do Sol. Por qual motivo então ainda continuamos a chamá-los com o mesmo nome que os antigos romanos?

Para entendermos as razões que nos levam a manter o nome dos planetas tal qual são é preciso, primeiramente, entender que não trata-se apenas de uma questão científica. Nossa cultura Ocidental é, em grande parte, herdeira das tradições greco-romanas que, apesar de bem distintas da nossa civilização, ainda nos influencia diretamente. Seja no idioma (o português, afinal, é uma língua latina), na religião e até mesmo no Direito, é possível enxergar o legado romano em nossa vida prática. 

Visto isso, em 1919, a União Astronômica Internacional tornou oficial os critérios para nomeação de corpos celestes. As estrelas, por exemplo, por serem quase infinitas, seguem uma sigla padronizada para melhor mapear o Universo e sua localização. Já os planetas, principalmente os encontrados em nosso sistema solar, por serem corpos mais “raros” dentre o escopo que é o Cosmos, manteve-se com a tradição de usar nomes de Deuses de antigas civilizações. 

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O nosso sistema solar, além dos oito planetas conhecidos, também conta atualmente com cinco planetas anões, sendo eles: Plutão, Éris, Ceres, Haumea e Makemake. Os três primeiros foram nomeados a partir da mitologia greco-romana, já os outros dois planetas tiveram seus nomes das tradições havaiana e dos povos nativos da Ilha de Páscoa. A partir dessas informações, podemos achar que a escolha destes nomes se dá de modo aleatório, porém, cada um dos planetas guarda símbolos e ideias que correspondem às suas características. Iremos, portanto, conhecer um pouco mais a fundo os elementos de cada planeta do nosso Sistema Solar para entendermos sua nomenclatura.

Começando por Mercúrio, o primeiro planeta do nosso sistema, ele é o mais “rápido” de todos os planetas. Completando sua órbita em apenas 87 dias terrestres, seu nome se relaciona ao antigo Deus mensageiro dos romanos. Mercúrio na mitologia era o encarregado de criar uma ponte entre os Deuses e os Homens, interagindo diretamente com os mortais. Com suas sandálias aladas percorria toda a Terra para levar os desígnios Divinos. Os gregos antigos, ao perceberem que o planeta mudava sua posição no céu mais frequentemente do que os demais, deduziram que esse movimento se dava pelo constante trabalho entre o Céu e a Terra.

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Já Vênus, que é um dos primeiros pontos brilhantes no céu quando o Sol se põe, também carrega um nome de uma importante Deusa romana. Também conhecida como Afrodite, Vênus é a Deusa da Beleza e do Amor, sendo conhecida como uma protetora dos romanos desde a antiguidade. O nome do planeta se alinha com essa Deusa devido ao seu brilho, que até os dias atuais cativa os que olham para o céu noturno. É visto como o ponto mais brilhante do céu, sendo associado à Deusa da Beleza devido a isso. Refletindo sobre esse detalhe, é interessante notar a relação que existe entre o brilho e a Beleza ou mesmo a sedução. Quando estamos apaixonados, por exemplo, é comum dizermos que a pessoa que gostamos tem “um brilho especial” ou expressões similares. Isso porque algo brilhante naturalmente nos desperta atenção. Assim, o planeta Vênus arrebata olhares e amantes por toda a Terra, nos fazendo cair de amores por seu brilho intenso.

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O nosso querido planeta Terra, porém, nem sempre chamou-se assim. Para os antigos gregos, seu nome era Gaia, a Deusa do solo e esposa de Urano – que falaremos mais na frente. Gaia era vista como toda a parte rochosa do planeta, sendo esta uma mãe amorosa, que dava frutos e abrigo a todos os seus habitantes, no caso animais, plantas e Seres Humanos. Entretanto, os romanos associaram o nosso planeta à palavra “Telo” e após a queda do Império, a tradição germânica o rebatizou de “Terra”, que nada mais é do que “Solo”. Apesar de ser composto por 70% de água, a tradição manteve-se e até os dias atuais o chamamos assim.

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Marte, o “planeta vermelho”, é um dos corpos celestes que mais permeiam a imaginação dos Seres Humanos. Nas histórias de ficção científica, por exemplo, Marte era o lar dos “marcianos” que invadiriam a Terra e escravizariam toda a Humanidade. Por ser o planeta mais próximo a Terra, também foi em Marte que conseguimos lançar nossas primeiras expedições com robôs, fazendo estudos do seu solo e composição enquanto planeta. Porém, na antiguidade, o planeta vermelho foi associado ao Deus da guerra, um dos principais e mais venerados pelos Romanos.

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A cor vermelha, própria das legiões romanas, emanava esse espírito guerreiro e ao verem, a noite, o ponto vermelho no céu os antigos cidadãos romanos acreditavam que aquela seria a pupila de Marte, vigiando atentamente as batalhas e o destino destes homens e mulheres. O Deus marte, tão inspirador para essa civilização, ainda hoje encontra seu nome gravado não apenas no planeta, mas tem até mesmo um dia da semana dedicado a ele na língua espanhola: Miércoles, que seria, para nós, a quarta-feira. 

Outro planeta com uma representação enorme para os antigos romanos e para nós é Júpiter. O gigante gasoso é o maior planeta do nosso sistema solar, e seu nome nada mais é do que a principal Divindade da civilização romana. Júpiter, ou Zeus para os gregos, representava a força criadora, por isso era o maior dos céus. Hoje, porém, sabemos que não apenas o tamanho desse planeta impacta nossa vida cotidiana, mas que é graças a ele e suas 79 luas, que diversos meteoros não atingem o nosso planeta. Servindo como um protetor da Terra, tal qual um pai que zela pela segurança dos filhos, Júpiter é o responsável por garantir que a Terra não sofra constantemente com meteoros e outros corpos que viajam pelo nosso sistema solar. 

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Já Saturno, com seus anéis, foi relacionado ao antigo Deus do Tempo. Cronos para os gregos, o planeta Saturno foi visto como esse Deus por sua proximidade a Júpiter, sendo parecidos (vale ressaltar que na antiguidade não se conhecia os anéis de saturno, logo, os dois planetas se confundiam). Na mitologia, Cronos é destronado da sua posição por Zeus, que o expulsa e toma o lugar como principal Divindade do Cosmos. Assim, Saturno, por ser menor do que Júpiter, foi assimilado como o titã do tempo. Os antigos romanos tinham, inclusive, a tradição de celebrar as “saturnálias”, que nada mais era do que o solstício de verão, para comemorar a colheita e ser mais uma época de semear o que, no futuro, eles deveriam colher. Essa ideia remete-nos ao tempo, sempre cíclico e traduzido pela relação de causa e consequência. Assim, todas essas ideias são relacionadas a Saturno, que até na astrologia tem um papel similar ao de Cronos.

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 Até então todos os planetas que citamos eram conhecidos pelos antigos gregos e romanos. Isso porque eles, em maior ou menor grau, podem ser identificados a olho nu, porém, como bem sabemos, existem outros dois planetas em nosso sistema solar: Urano e Netuno. Estes, por sua vez, foram descobertos graças à tecnologia do século XIX e XX, com a ajuda de telescópios. Seus descobridores seguiram a tradição, em alguns casos a contragosto, de nomeá-los como antigas Divindades romanas. No caso de Urano, o planeta foi descoberto pelo inglês William Herschel, no final do século XVIII. Herschel pensou em nomeá-lo de “Planeta Jorge III”, em homenagem ao até então rei do Reino Unido. Entretanto, a comunidade científica não agradou-se do nome e assim manteve-se a tradição de usar nomes de Divindades Romanas.

O nome “Urano” foi baseado no Deus dos céus na mitologia greco-romana. Por ser pai de Cronos, e este ter uma órbita após Saturno, achou-se por bem colocar o nome do novo planeta como o desta Divindade. Urano, por estar distante do Sol, tem uma superfície gelada, chegando a – 244°C. Sua aparência é de um azul claro e junto com Netuno são conhecidos como “os gigantes gelados”. Por não ter sido nomeado pelos antigos gregos e romanos, o nome do planeta Urano hoje guarda pouca relação com a Divindade dos céus, mas eternizou-se dentro da tradição astronômica como sendo o primeiro planeta a ser descoberto utilizando um telescópio.

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Por fim, temos Netuno. Descoberto em 1846 em meio a diversas polêmicas, o oitavo planeta do nosso sistema solar teve seu nome dado em homenagem ao Deus dos mares, também conhecido como Poseidon. A estrutura física de Netuno, diferentemente de Urano, mostra uma intensa atividade em sua superfície, com tempestades e fortes ventos. Similar à fúria de Poseidon nas epopeias gregas, Netuno não se mostra um mar calmo para viajar. Inicialmente seu nome seria “Oceano”, uma antiga Divindade greco-romana, mas após intensas disputas por sua nomenclatura, Netuno sagrou-se vencedor.

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Para além de nomes e relações, cabe a nós refletirmos sobre o valor dessas ideias para a nossa vida. Ao olhar as estrelas não estamos enxergando apenas pontos brilhantes no céu, mas sim pedaços do Mistério do Cosmos. Não por acaso os antigos acreditavam que estes eram Deuses, que de uma outra dimensão nos observavam e nos ajudavam em nossa caminhada, pois a Beleza e encantamento que o Universo nos promove é de igual magnitude. Quanto a isso, Platão, o famoso filósofo grego, dizia que descobrir os segredos do Universo era um tipo de prazer muito especial aos Seres Humanos e, portanto, só seria possível com o uso da razão. Este prazer – o de conhecer e buscar a sabedoria – era chamado de “prazeres inteligíveis”.

Apreciar um céu estrelado e tentar desvelar o que há por trás dele é, sem dúvida, uma tarefa árdua e que exige bastante investigação. Não somente no sentido racional, ou seja, de criar elementos para decodificar o movimento e ação dos astros, mas principalmente uma investigação interna. Isso significa, a grosso modo, buscar a relação que há entre o Universo, também chamado de macrocosmos, e o Ser Humano, o microcosmos. Esses dois mundos, separados fisicamente por milhares de anos-luz, ressoam em nossos sentimentos e ideias sempre que entramos em contato com ele. Portanto, mesmo que os planetas e estrelas estejam tão distantes de nós, a todo momento eles participam da nossa vida, sejam inspirando sentimentos ou percepções. 

Visto tudo isso, é inegável que os planetas fazem vibrar em cada um de nós algo especial. Talvez nem todos consigam escutar essa vibração, mas se estivermos abertos para enxergar – e não apenas ver – esse Mistério, certamente poderemos apreciar de forma profunda todos os momentos celestes. Portanto, que ao olharmos as estrelas não pensemos somente que são pontos distantes do Cosmos, mas que cada um destes pontos tenham um símbolo, uma ideia que nos movimente em direção a nossa evolução. Assim, mesmo em uma noite sem estrelas todo o Universo estará dentro de nós, iluminando nossas decisões e nosso caminho.

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