Como Lidar com Idosos: Cuidado, Respeito e Envelhecimento com Dignidade

Como lidar com idosos é uma questão que atravessa a vida de todos nós, afinal, o tempo devora a todos. Os gregos já simbolizavam essa ideia com o mito de Cronos, o titã do tempo que engolia seus filhos. Simbolicamente, percebemos essa ideia diariamente ao envelhecermos. Não ficaremos mais jovens e os dias que passaram já estão enterrados nas areias do passado. O que cabe a nós fazer? Como lidar com esse destino inexorável, que é a velhice? Para muitos, essa pergunta causa temor; porém, é fundamental entendermos sobre nós mesmos e como podemos cultivar uma vida saudável e consciente, lidando com nossas limitações e necessidades nesta etapa da vida.

Homem idoso olhando para o horizonte ao pôr do sol
Reflexão sobre a passagem do tempo na velhice

Dito isto, devemos entender que envelhecer é uma experiência universal e inevitável. Desde o momento em que nascemos, cada um de nós caminha em direção à velhice. Esse processo, no entanto, é vivido de maneira única por cada indivíduo, marcado por histórias pessoais, circunstâncias sociais, condições de saúde e vínculos afetivos que moldam a experiência da idade avançada. Nesse sentido, apesar de todos nós vivenciarmos a velhice – e a própria vida –, ninguém é o mesmo e cada experiência é única.

Apesar desse caráter individual, há circunstâncias e ideias que tornam, em parte, a experiência de envelhecer comum a todos nós. A velhice, muitas vezes, é associada a perdas: perda de vigor físico, de autonomia, de papéis sociais que antes garantiam a nossa identidade. Do ponto de vista biológico, o envelhecimento traz transformações significativas, pois o corpo passa a responder de forma mais lenta, a pele perde elasticidade, os ossos e músculos tornam-se mais frágeis, e algumas funções cognitivas podem sofrer alterações. 

No entanto, esses sinais não significam, necessariamente, incapacidade, pois a depender de como cultivamos nossa vida até o início da fase de envelhecimento, poderemos ter mais condição (ou não) de viver de maneira saudável e funcional. O modo como envelhecemos depende de uma combinação de genética, hábitos de vida e cuidados recebidos ao longo das décadas. Socialmente, o envelhecimento também é um reflexo da cultura em que vivemos.

Em sociedades tradicionais, o idoso ocupa posição de respeito, sendo guardião da memória e dos saberes. Já em contextos mais modernos, muitas vezes a velhice é associada à inutilidade, o que pode gerar isolamento e desvalorização. Essa diferença de percepção mostra o quanto o envelhecimento não é apenas biológico, mas também cultural e simbólico, sendo algo desejado em algumas culturas e quase um tabu em outras.

Círculo de idosos conversando em um parque
Socialização e vínculos afetivos na terceira idade

Entendendo tais questões iniciais, devemos compreender que a velhice é uma etapa legítima da vida, com suas belezas e particularidades. Não deveríamos temê-la ou rejeitar a experiência que ela proporciona, visto que sua chegada é inevitável, mas entender como podemos extrair sabedoria desses momentos em que a vida parece diminuir e o inverno da existência se mostra cada vez mais próximo. Além disso, é fundamental compreender que as pessoas que amamos também envelhecem, o que nos leva a necessidade de aprender a lidar com suas angústias e dependência física.

A velhice como etapa natural da vida

Essa é uma constatação óbvia, mas, ao mesmo tempo, necessária e que deve ser feita. Cada vez mais, percebemos que não aceitamos o processo de envelhecimento, e isso ocorre por vários motivos: desde o medo da morte, evidenciado com a longevidade do nosso corpo físico, até mesmo a busca pela juventude eterna, de manter-se sempre jovem. Entretanto, a natureza não permite esse tipo de ação, logo, o desejo da eternidade é uma ilusão.

Sendo assim, quando pensamos em idosos, a primeira imagem que vem à mente costuma estar relacionada à fragilidade física. De fato, com o avanço da idade, as necessidades de cuidados com a saúde aumentam em todos os aspectos: a alimentação precisa ser balanceada, as consultas médicas se tornam cada vez mais regulares, o uso de medicamentos é uma rotina comum e os exercícios físicos são adaptados e essenciais para a manutenção da saúde. Tudo isso se torna parte da rotina.

Entretanto, além da dimensão física, há o aspecto emocional a ser levado em consideração. Ao envelhecermos, comumente enfrentamos a solidão e sensação de abandono, aspectos que, infelizmente, se tornaram comuns em nossa sociedade. O afastamento dos filhos, a perda de amigos e companheiros de vida e a diminuição do convívio social contribuem para quadros de tristeza e depressão na terceira idade. Junto a isso, o crescente medo da morte, que se torna palpável a cada dia que passa, é uma companheiro indigesto na psique das pessoas que envelhecem.

Idosa sozinha olhando por uma janela em um ambiente doméstico
Solidão e abandono na velhice

Outro ponto essencial é o respeito à autonomia. Mesmo quando o corpo apresenta limitações, muitos idosos desejam participar das decisões sobre a própria vida. Retirar deles esse poder de escolha pode gerar frustração e sentimentos de inutilidade. Portanto, o cuidado deve sempre buscar o equilíbrio entre oferecer suporte e respeitar a liberdade do idoso. Logo, o cuidado com idosos exige naturalmente dos cuidadores paciência, atenção e dedicação. Mais do que apenas garantir que suas necessidades básicas sejam atendidas, é preciso criar um ambiente de acolhimento e valorização, uma vez que envelhecer não significa apenas sobreviver, mas continuar vivendo com dignidade e sentido.

Como podemos perceber, apesar de ser algo natural na humanidade, a velhice nos confronta com duras realidades, tanto físicas como psicológicas. Por isso, é uma etapa da vida tão temida, ao ponto de algumas pessoas acreditarem que o ideal da vida seria chegar a morte ainda na juventude, pois evitaria todos os “problemas” que a velhice nos faz enfrentar. Não precisamos apontar que esse tipo de pensamento é, no mínimo, absurdo e que toda etapa da vida, quando vivida com plenitude e consciência, se transforma em um grande manancial de experiências, sínteses e transformações que podem mudar o curso de nossa existência.

Visto isso, fica nítido que a vida humana é marcada por ciclos. No início, somos crianças frágeis que dependem integralmente de nossos pais ou responsáveis para sobreviver. Graças a eles, aprendemos a caminhar, a falar e adquirimos outra infinidade de habilidades que nos tornaram parte do que somos hoje. É nessa etapa inicial da vida que precisamos de grandes cuidados físicos, emocionais e sociais para crescer. Com o tempo, conquistamos autonomia, amadurecemos, formamos nossas próprias famílias e assumimos responsabilidades.

No entanto, ao chegarmos à fase adulta, especialmente na meia-idade, ocorre uma mudança profunda: muitas vezes passamos a cuidar de quem, no passado, cuidou de nós. É a chamada inversão de papéis, um processo natural que, embora esperado, costuma surpreender pela intensidade de suas demandas. A partir daí, é a nossa vez de cuidar de quem dedicou grande parte de suas vidas a nós. Essa reciprocidade é parte do laço afetivo que une gerações.

Cuidar dos pais na velhice é, para muitos, uma forma de gratidão, e também um dever como filho. Esse é um gesto que fecha o ciclo: assim como fomos amparados na infância, oferecemos amparo na velhice. Contudo, isso não significa que o processo seja simples. O choque entre os papéis de filho e de cuidador pode provocar estranhamento, desconforto e até conflitos familiares.

Filha adulta cuidando de mãe idosa com carinho mostrando Como Lidar com Idosos
Inversão de papéis e o cuidado intergeracional

Quando os filhos se tornam cuidadores, enfrentam uma série de desafios, visto que precisam manter o ritmo de suas vidas e, ao mesmo tempo, estar cada vez mais juntos dos seus amados pais e parentes, que agora encaram a velhice. Nesse cenário, é comum que muitos adultos sintam-se divididos entre duas obrigações: a de cuidar de sua própria família e a de acompanhar os pais em suas necessidades. Essa situação é conhecida como “síndrome da geração sanduíche”, em que a pessoa está no meio de duas demandas igualmente intensas.

Outro ponto delicado é a mudança na dinâmica familiar. Filhos que antes recebiam orientações e cuidados precisam assumir decisões importantes sobre a vida dos pais. Isso pode provocar conflitos internos, já que nem sempre é fácil dizer ao pai ou à mãe o que ele(a) deve ou não fazer. Já do ponto de vista emocional, os sentimentos também são complexos. Muitos cuidadores relatam sentir culpa por não conseguirem dedicar tempo suficiente, ressentimento pela sobrecarga e até mesmo raiva em alguns momentos de exaustão. Ao mesmo tempo, há amor, gratidão e desejo de retribuir. Essa mistura pode ser desgastante e, se não for bem administrada, comprometer a saúde mental de quem cuida.

O olhar do idoso diante da dependência

Enquanto os filhos lidam com a responsabilidade de cuidar, os idosos enfrentam outro desafio: o de depender. Como podemos imaginar, não é simples viver em uma situação limitante, ainda mais após décadas de independência e autonomia. Para quem trabalhou, criou filhos e tomou decisões, aceitar a fragilidade de ser cuidado pode ser doloroso, um golpe direto no orgulho e na vaidade de quem acha que não precisa de ajuda. É comum escutar relatos de idosos afirmando ser um fardo para a família. Esse sentimento pode gerar tristeza, isolamento e até resistência ao cuidado. 

Normalmente, queremos apresentar força e nunca demonstrar que precisamos de ajuda. Logo, ao chegar à velhice, momento em que, obrigatoriamente, vamos precisar cada vez mais de auxílios, essa máscara de autossuficiência deixa de existir. Para muitos, precisar de ajuda é quase um sinônimo de perder a dignidade. Desse modo, quando o idoso precisa de ajuda para tarefas básicas, como se alimentar, tomar banho ou se vestir, sua autoestima pode ser abalada ao ponto de desejar escapar da existência para não passar por esse “constrangimento”. Nesses momentos, é fundamental ter cortesia, doçura e respeito com a dor que o outro está sentindo. Não é simples lidar com tais emoções, pois exige, acima de tudo, muita parcimônia de ambos os lados.

Como um efeito dominó, outro aspecto muito evidenciado na velhice são as reflexões existenciais. O idoso passa a confrontar a finitude da vida, lembrando que o envelhecimento é um prenúncio da morte. Essa consciência, embora dolorosa, pode ser uma chave para encontrar respostas profundas dentro de si. Porém, quando mal compreendidas, essas dores levam a arrependimentos e desgostos, como se a forma como a vida foi levada até aquele momento fosse sem sentido e, em última instância, inútil.

Como podemos perceber, para cuidarmos de pessoas idosas não basta garantir medicamentos e consultas. O verdadeiro cuidado exige empatia, cortesia, paciência, generosidade e outra série de virtudes que devemos desenvolver ao lidar com o outro e suas dores. Dentro desse processo de cuidado, é fácil esquecer que o idoso, hoje depende, já foi alguém autônomo, cheio de sonhos e realizações. Ele foi criança, jovem, trabalhador, pai ou mãe, amigo, companheiro. Carrega histórias, memórias e experiências que merecem ser valorizadas.

O dilema de envelhecer

O envelhecimento não é apenas uma questão individual ou familiar, mas  também um fenômeno social. A expectativa de vida da população tem aumentado significativamente nas últimas décadas, resultado do avanço da medicina e dos novos estilos de vida que priorizam a longevidade, e isso traz desafios para governos, instituições e comunidades.

Um dos desafios atuais quanto a velhice é o mundo do trabalho. Em uma sociedade que vê a taxa da natalidade caindo, torna-se necessário manter pessoas trabalhando por mais tempo, e isso reflete no fato de termos pessoas idosas ainda ativas em seus empregos. Se por um lado isso representa um avanço no aspecto de sermos capazes de ter mais anos de produção, por outro, há o preconceito de ainda trabalhar em uma idade avançada e a concorrência com os mais jovens, que geralmente são mais antenados nas modernas tecnologias e ganham mais espaço, naturalmente, no mercado de trabalho.

Homem idoso recebendo cuidados com dignidade em clínica moderna
Cuidado humanizado e digno na terceira idade

Outro ponto que devemos considerar é a necessidade de ampliação do sistema de saúde, uma vez que estamos vivendo por mais tempo e, consequentemente, precisamos de mais profissionais capazes dessa demanda crescente. Em nossa realidade atual, não é raro a falta de atendimento a pessoas idosas que, via de regra, necessitam de profissionais especializados de maneira mais recorrente. Esse aspecto está intrinsecamente ligado às políticas públicas do Estado, uma vez que a saúde é um direito universal.

Esses são apenas alguns pontos objetivos de como a velhice da população reflete, consequentemente, no âmbito social. Entretanto, há outros dilemas que são intrinsecamente humanos e individuais, que nada têm a ver com o mundo coletivo. O principal deles – e não podemos nos furtar de falar sobre o assunto – é a morte. À medida que envelhecemos, ficamos, a cada novo dia, mais próximos de encerrar essa forma de existência. Isto é um fato. Há quem lide bem com a própria finitude e há quem não suporte pensar no assunto. O que difere esses dois grupos de pessoas? A maneira de encarar a própria existência.

Montaigne, filósofo francês da modernidade, descreveu que o papel da filosofia é nos ajudar a morrer. Em poucas palavras, refletir sobre a vida é saber lidar com a própria finitude, e isso, em muitos sentidos, é um grau elevado de espiritualidade. Queremos destacar que a espiritualidade não precisa ser entendida apenas como fé religiosa, ou mesmo ter uma religião ou acreditar em uma vida pós-morte para ter um grau de verdade com isso. No fundo, a espiritualidade pode estar presente na valorização das pequenas coisas, no contato com a família, na arte, na música ou na contemplação do cotidiano.

Assim, podemos cultivar a espiritualidade em todas as fases da vida, mas é principalmente em nossos últimos anos, quando enxergamos a cortina da existência se fechar aos poucos, que podemos entender com profundidade quem somos, o que realmente importa e aquilo que dentro de nós jamais acabará. Nesse aspecto, alimentar uma percepção interna sobre nós mesmos, ter bons hábitos conscientes e nos dedicar mais ao que é atemporal, como nossos valores e ideias, são pequenas formas de viver a espiritualidade em detrimento dos aspectos objetivos da vida, que muitas vezes são como uma névoa e dissipam-se aos primeiros raios de realidade.

O futuro do envelhecimento na sociedade moderna

Visto tais questões, podemos chegar a uma conclusão óbvia, porém necessária ao olharmos o mundo ao nosso redor: estamos envelhecendo. Não falamos apenas no sentido individual, mas coletivo. Segundo estimativas da ONU, até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos deve dobrar, algo até então inédito na história da humanidade. O comum dentro da nossa experiência enquanto humanidade é o de ter mais pessoas jovens e adultas do que idosos, porém, com os avanços e práticas sociais atuais, esse cenário deve se inverter em poucas décadas.

Ao mesmo tempo, ao criarmos novas tecnologias, é fundamental pensarmos nesses dados. É comum associarmos o avanço tecnológico ao novo, ao moderno, ao jovem; porém, se faz cada vez mais necessário pensar na população idosa que será a maioria no futuro. Assim, uma área que deve se desenvolver ao longo das próximas décadas é a tecnologia assistiva, com robôs cuidadores, casas inteligentes e dispositivos de monitoramento de saúde em tempo real.

Com isso, será natural uma mudança cultural, com maior valorização da experiência e sabedoria da terceira idade, algo que no mundo em que vivemos ainda não é uma realidade. Infelizmente, o que se percebe é um tabu em encarar a velhice, tanto pelos jovens como por aqueles que já vivem essa etapa da vida. Entretanto, pela força da própria natureza, será necessário aprender com os mais velhos e, assim como as primeiras culturas humanas, voltaremos nosso olhar para a sabedoria da terceira idade.

Consequentemente, isso implica na necessidade de um envelhecimento ativo. Atualmente, isso já é uma realidade, visto que os idosos são um público cativo em academias, consultórios e estilos de vida cada vez mais saudáveis, sem se deixar vencer pelo sedentarismo. Talvez a imagem comum de um velhinho sentado em sua poltrona, apenas assistindo TV ou apreciando a paisagem em uma cadeira de balanço, não exista mais daqui a alguns anos e seja substituída por um idoso ativo, praticante de esportes, correndo maratonas e, ao seu modo, conseguindo envelhecer de maneira mais sustentável, física e psicologicamente.

Idoso praticando corrida em parque urbano
Envelhecimento ativo e saudável

Dito isto, é fundamental começarmos a repensar a forma como vemos a velhice. O idoso não deve ser visto como um peso, mas como parte essencial da sociedade. Investir no cuidado é investir em todos nós, pois cada geração chegará a essa fase. Que possamos, portanto, olhar para a velhice não com medo ou preconceito, mas com respeito e amor, pois, ao cuidarmos dos idosos, estamos não apenas retribuindo o cuidado que um dia recebemos, mas também semeando a forma como gostaríamos de ser cuidados no futuro.

Por fim, lembremos que envelhecer é inevitável, mas a maneira como vivemos essa etapa da vida depende de nós. Não deixemos que as virtudes, as sementes mais belas que a humanidade possui, sejam regadas apenas no final da existência, mas que se tornem uma prática cotidiana. Assim, ao chegarmos no inverno da existência, poderemos olhar para trás e perceber que plantamos uma floresta de bondade, generosidade e amor no coração de todos que passaram por nós. Envelhecer, a partir dessa ótica, jamais será um fardo ou um temor, mas apenas o reflexo do sublime fluxo da vida, que, como um rio, sempre corre para a mesma direção.

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