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A Harmonia na Música e na Vida

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Para os antigos filósofos da Grécia a matemática era uma linguagem universal, capaz de expressar toda beleza e harmonia do cosmos. Pitágoras, um dos grandes defensores dessa perspectiva, falava que “Deus geometriza”, uma vez que todas as formas do universo seguem um padrão, uma relação de proporção tão bela que é capaz de gerar todas as formas. No mundo moderno, conhecemos essa mesma perspectiva pela famosa sequência de Fibonacci, que demonstra as relações matemáticas na construção de todas as formas da natureza.

Ilustração da sequência de Fibonacci aplicada à música e natureza.
A sequência de Fibonacci demonstra a harmonia universal presente na música e na natureza.

Nesse aspecto, a harmonia sempre foi o verdadeiro tom que a Vida encontrou para expressar suas formas. Qual a diferença entre uma casa bela e uma casa feia? Em uma encontramos harmonia com os mais diferentes materiais que a compõem, na outra é visível um grau de desorganização, seja na disposição dos objetos ou mesmo na condição em que se encontra. 

Essa harmonia, porém, não está apenas nas formas geométricas, mas em todos os campos da natureza. A música, por exemplo, é um símbolo perfeito dessa temática, uma vez que suas melodias buscam sempre uma relação harmônica entre si. A música, assim como os demais elementos da natureza, também segue uma relação matemática, e, por isso, é essencial que um artista musical seja, acima de tudo, um ser que entenda das relações matemáticas que existem na produção de uma bela canção.

Como enxergar essa relação na vida? É o que vamos descobrir no texto de hoje.

O poder da música

“Escuta a canção da vida. Guarda na memória a melodia que ouvires. Aprende com ela a lição de harmonia”. Mabel Collins

A música faz parte de todos os momentos da nossa vida. Temos as nossas melodias prediletas, temos as músicas próprias para os momentos de festa, para os momentos de se emocionar, para os momentos de sentir saudades… Não passamos um único dia sem ouvir música! Mas você já parou para pensar na relação entre as músicas que gostamos de ouvir, aquelas que agradam os nossos sentidos, e a harmonia entre suas notas?

Em post anteriores, falamos sobre o poder vibratório que a música tem, e como ela pode afetar nossos estados mais sutis de pensamentos e emoções. Mais além das vibrações, sentimos também o poder harmônico de seus acordes. A maioria de nós não possui o ouvido treinado para escutar uma nota musical e saber se ela está afinada, ou, apenas pelo som, identificar qual o acorde está sendo tocado. Deixamos esse dom para os músicos e maestros. Mas, mesmo sem conhecimento técnico, quando a música está sendo tocada de forma desproporcional ou aleatória, sentimos algo estranho no ar.

Imagem de artista tocando violão, simbolizando a conexão emocional com a música.
A música, através da harmonia, influencia nossas emoções e estados psicológicos.

O fato é que a música tem um poder sobre todos nós. Ela desperta sentimentos, emoções e sensações quase involuntárias em nosso corpo e mente, nos fazendo mergulhar em um novo mundo, em um verdadeiro espaço-tempo de emoções e percepções. Basta refletirmos por um segundo como o nosso corpo reage a um som dançante, que faz quase que involuntariamente nosso corpo se mexer. Há estilos musicais, inclusive, que têm por foco fazer vibrar o nosso corpo e, com isso, despertar diferentes estímulos, como o desejo. Por outro lado, há alguns gêneros musicais que nos convidam a uma reflexão profunda, uma introspecção para nosso mundo interno, e que não fazem vibrar nosso corpo, mas nossos estados psicológicos. Quando escutamos um Noturno de Chopin, por exemplo, não nos imaginamos em uma roda de frevo, dançando de forma enérgica, não é? E o contrário também é real: ao escutarmos uma marchinha de carnaval, não somos levados a um estado de reflexão, mas sim de expansão e expressão corporal. O que faz, de fato, isso ocorrer? A explicação mais direta está na harmonia em que as notas são dispostas e no seu ritmo, construindo assim um som que ora envolve nossos aspectos mais expansivos, ora nos coloca em estados de maior reflexão. 

Visto esse poder que a música tem sobre nós, não seria interessante refletirmos sobre como podemos usar essa capacidade para mudar nossos estados psicológicos? De maneira objetiva, podemos instrumentalizar a música para nos fazer sair de um momento “triste”, por exemplo, ou para nos ajudar a focar em uma tarefa. Há, por exemplo, quem coloque música para conseguir trabalhar ou estudar de maneira mais focada. Há também pessoas que quando sentem-se mal colocam uma música enérgica para poder mudar o seu estado emocional. 

É evidente que esse uso da música está para além de uma questão mecânica e que a música em si não fará um “milagre” em nossa capacidade de foco ou nos tirar de uma melancolia. Precisamos, antes disso, desenvolver nossa consciência para perceber de maneira mais objetiva esses estados e notar quais músicas agem de maneira mais eficiente em nossa personalidade. Tal qual um remédio que reage de maneira distinta em diferentes pessoas, a vibração da música também tem um efeito personalizado, pois interage com outros aspectos de nossa psique que são profundamente individuais.

A música como elemento de formação humana

Utilizar a música para conhecer um pouco mais de si mesmo e dominar-se não é uma ideia nova para a humanidade. A bem da verdade, Platão em seu livro “A República” já comentava sobre o papel de formação humana que a harmonia possui. Para o filósofo, todas as artes, principalmente a música, tinha um único papel a cumprir: mostrar ao ser humano o valor da harmonia. Percebemos quando uma música está harmônica ou não, correto? O que diferencia batidas aleatórias nas cordas de um violão para o chorinho brasileiro? Sem dúvida, a composição harmônica em que as notas são tocadas.

Dessa maneira, a música pode ser um elemento formativo em nossa construção humana, pois, a partir da harmonia musical, poderemos encontrar também novas relações de harmonia dentro de nós. Quando começamos a sentir uma emoção que quebra nossa harmonia interna, podemos ajustá-la para voltar a um estado de equilíbrio.

Gráfico das frequências musicais e sua relação com a harmonia.
A harmonia musical explicada através das frequências e proporções matemáticas.

Como podemos perceber, a música pode ser utilizada para diversos fins e representa, em seu aspecto mais amplo, uma verdadeira forma de viver em harmonia com a natureza. Escutar a música da vida, percebendo seus diferentes tons e ritmos, nos faz seguir a dança do universo, que a toda hora nos convida para bailar. Porém, como, cientificamente, se explicam essas ideias? O que faz, de fato, a harmonia da matemática está diretamente relacionada com a música e com a vida?

A ciência por trás da música

Os fatores envolvidos nas notas musicais, para que as mesmas se tornem harmônicas, são tão profundos, que foram explicados pela primeira vez por um filósofo matemático, Pitágoras! Ele viu que cada nota possui uma frequência de onda específica, e um acorde é composto pela união de duas notas musicais. Sendo assim, um acorde vai apresentar uma razão, fração ou divisão das frequências das duas notas. E aí, brilhantemente, ele viu que quanto menor o número do denominador da fração, maior será a harmonia, a sonoridade e o ritmo. Dessa forma, ouvimos falar de uma oitava perfeita, que é a razão 2:1, ou a quinta perfeita, que é a razão 3:2. As oitavas, quintas e quartas soam perfeitamente harmônicas para nosso cérebro. Soam de forma agradável, e conseguimos identificar um ritmo, uma melodia e um padrão musical, diferente do som gerado pela razão 256:243 como mostra o vídeo abaixo:

E no meio de tantos acordes, frequências e frações, qual a moral da história para nós, leigos da música? Pitágoras traz através dos cálculos a comprovação de que a harmonia é uma Lei. Uma música não se torna harmônica simplesmente porque tem uma melodia agradável, mas porque segue uma Lei Universal. Todas as antigas tradições ensinavam que o Universo atua de forma equilibrada e justa, onde tudo cumpre com sua exata finalidade. Por exemplo, os planetas se movem ao redor do Sol de forma equilibrada, as formigas montam suas colônias de forma harmônica. E o Homem? Por que geramos desarmonia e caos na natureza? Talvez porque não entendemos de verdade as leis que regem o universo, e a nós mesmos. Quem sabe, quando compreendermos de verdade essa Lei da Harmonia, passemos a atuar de forma consciente em nossas vidas para participar desta música da natureza?

A música nos acalma, nos alegra, nos emociona e nos inspira. E, a partir de agora, podemos ver essa nova faceta que a música tem a nos oferecer: um ensinamento sobre a Lei da Harmonia.

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