Nos pegamos sonhando, planejando, tentando realizar o que desejamos, e, às vezes, falhando por autossabotagem. Buscamos explicação fora, tentando entender quem ou o que nos impediu de conseguirmos o que queríamos tanto. Mesmo que a ideia não seja de apontar culpados, mas de apenas resolver o problema e tentar novamente, nem sempre encontramos os responsáveis.
Temos duas forças conflituosas dentro de nós, que ao olhar desatento, nos parecem apenas uma, intercalando momentos de fraqueza e força. Uma dessas forças nos mantém conscientes do nosso corpo, da nossa personalidade, dos nossos desejos e emoções. A outra nos eleva, nos coloca em contato com o que de mais Justo e Bom há na Humanidade, em nós mesmos, e na Natureza.
Enquanto uma delas quer nos trazer “para cima”, nos lembrando qual o verdadeiro sentido de nossas ações, a outra nos ilude, mostrando vitrines de emoções, sensações, medos, paixões, que não falam com a nossa Alma, mas falam conosco em um nível subconsciente, nos fazendo criar barreiras, expectativas, anseios e receios que, conscientemente não sabemos que possuímos. No Oriente, especialmente na Índia, essas forças são conhecidas como Manas, a mente pura, e Kama Manas, a mente dos desejos.
Estamos em constante processo de aprendizado, desde a infância até a mais derradeira maturidade, embora quando jovens estejamos mais receptivos às novas experiências. Como nem tudo sai como desejamos, podemos criar memórias de traumas e eventos fatídicos que aconteceram conosco, mas, de uma forma que não lembramos necessariamente o que aconteceu.
Geralmente só fica gravada em nossa memória a emoção ou sentimento que tal experiência nos trouxe. Esses gatilhos podem ser ativados, por exemplo, quando se vê alguém que se parece com uma pessoa que nos assustava na infância. Mesmo sem lembrar exatamente o porquê, isso pode despertar o medo dentro de nós. Outro exemplo é quando alguma sensação ruim se manifesta internamente quando estamos fazendo algo que nossos pais desaprovavam quando éramos crianças. Isso acontece porque algum elemento dentro de nós ainda está dizendo que aquilo é errado.
Dentro dessa lógica, quando planejamos algo de maneira consciente, e no decorrer de sua realização, falhamos por falta de disciplina, comprometimento, podemos estar diante da auto sabotagem, ou seja, algo dentro de nós está indo contra o que foi planejado e sabotando nossa experiência.
A autossabotagem não está só relacionada à memória pessoal, mas também à crenças, pré conceitos, características de nosso temperamento que não conseguimos abandonar. Além disso, a auto sabotagem costuma ser furtiva. Não a percebemos, ou receamos em acreditar que somos os responsáveis por nossos próprios insucessos. Contudo, o primeiro passo é sempre identificar. Se soubermos onde falhamos, podemos buscar o que nos levou a isso, e então, surge uma oportunidade de subir um degrau na realização do que queremos.
Adiar a solução de uma tarefa até o último dia do prazo, a famosa procrastinação, pode ser o primeiro indício. Insegurança diante do que precisa ser feito, ou insatisfação, por exemplo, podem nos fazer dar mais prioridade a compromissos menos importantes, para justificar nossa relutância. Quando temos que estudar mas dizemos a nós mesmos que é urgente acompanhar mais um episódio de nossa série favorita, ou quando temos que tomar uma decisão difícil no trabalho, que poderá deixar algum colega descontente, e rapidamente nos tornamos o empregado mais solícito da empresa, aceitando qualquer atividade que aparecer, em troca de adiar aquele momento indesejado.
Entre tantas outras coisas, a autossabotagem acontece porque deixamos “pontas soltas” em nossos problemas do passado. Algo que não ocupa seus pensamentos de forma clara, mas ocupa sua mente de maneira oculta, é algo que não foi resolvido. Pensar a respeito e atribuir o devido valor às coisas pode nos ajudar a reatar essas pontas. Somos ensinados desde sempre a não pensar bobagens, não discutir certos assuntos, e não questionar certas pessoas ou métodos, mas, se isso cria um conflito interno em nós, que opõe às duas forças que nos equilibram, enfrentaremos uma ruptura, onde acreditaremos conscientemente em algo do qual duvidamos secretamente. A Harmonia é sempre a opção mais sábia.
Imagine que tenha uma oportunidade de promoção em sua empresa, que você busca há algum tempo, mas que lhe tornará um viajante frequente, mas, você, no fundo, nunca superou seu desconforto com aviões. É possível que você falhe em algumas etapas do processo seletivo, sabotando a si mesmo, pois quer e não quer a promoção, ao mesmo tempo. Se apenas se dedicar menos a isso, já estará se trapaceando de alguma forma, sem perceber.
Todos temos alguma sujeira embaixo do tapete, que em algum momento não tivemos condições de enfrentar. Levantar esse tapete pode ser mais uma tarefa sujeita à autossabotagem, mas, precisa ser feita. Nosso senso de Responsabilidade precisa aliar-se à Disciplina, e se algo precisa ser feito, deverá ser feito, desde que entremos em Harmonia Interna, coincidindo o que sentimos, com o que pensamos e como agimos. Lembre-se que nossas realizações não precisam ser materiais, ou descartáveis.
Nossas maiores realizações não impactam apenas a nossa Vida, mas também a Vida daqueles que nos amam, e seguem nosso exemplo. Não podemos ser o motivo da auto sabotagem de nossos amigos, filhos e netos. Sejamos a solução de seus problemas, sejamos o Bem que vai construir, e reunir a todos. Façamos de nós pessoas melhores, para que o mundo conheça um futuro melhor.