Os querubins aparecem nos textos sagrados de diversas tradições, como seres de um plano mais sutil do que este em que nós vivemos e de uma moral elevada. Pertencentes não ao reino dos animais ou dos homens, mas sim ao reino dos anjos. É como se o cristianismo, o islamismo, o espiritismo, o hinduismo, e tantas outras religiões nos dissessem que existem outras linhas de evolução além da nossa e que estes seres angelicais também participam disso. Apesar de ainda os enxergarmos como coadjuvantes dos Seres Humanos, eles seguem diferentes propósitos, possuem seus próprios sentidos de existir e de evoluir.
O nome “anjo” é atribuído a distintas classes de seres, nas diversas tradições da humanidade. Muitas vezes são tidos como servos de Deus, ou de Deuses, e ajudantes dos Seres Humanos em suas jornadas de evolução. Outras vezes aparecem com características e funções distintas das que são apontadas pela tradição judaico-cristã, a qual o ocidente tem mais influência e que servirá de referência para a descrição que se segue. Nos escritos de Paulo, contido nas suas cartas aos Efésios e aos Colossenses, são nove os coros ou classes angélicas: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potestades, Virtudes, Principados, Arcanjos e Anjos. Dentro da hierarquia dos Anjos, teríamos então uma tríade principal composta pelos Serafins, logo depois os Querubins e por último os Tronos (ou Ofanins).
Para entender melhor os querubins e o reino angelical, vamos trazer um pouco das outras classes de anjos desta tríade. Os Serafins, vem do hebreu saraf (שרף), e do grego, séraph, que significam “abrasar, queimar, consumir”, são considerados os anjos de maior evolução e emanam, portanto, a essência Divina em maior grau. São descritos na Bíblia, em Isaías, como os que cantam perpetuamente o louvor de Deus e possuem seis asas. O filósofo renascentista Pico Della Mirandola fala em seu Discurso sobre a Dignidade do Homem como os Serafins, oriundos do mesmo arquétipo que os homens, ou seja, a imagem e semelhança de Deus, servem de inspiração para nossa trajetória rumo ao contato com o Divino. Já os Tronos têm seu nome derivado do grego thronos, que significa “anciãos”. Segundo o livro de Apocalipse, também na Bíblia, eles se prostram perpetuamente diante do Divino lançando suas coroas aos seus pés como símbolo da humildade de seus corações.
Os Querubins, em segundo na hierarquia angelical, são os mais conhecidos, mais presentes nos livros sagrados de diversas tradições e no nosso imaginário. A origem do seu nome nos dá indícios de quem eles são. Do hebraico cherubim, singular cherub, do assírio kuribu, do acadiano kuribu e do babilônio karabu, podendo significar no hebraico “os protetores”, no assírio “grande” ou “poderoso”, no acadiano e babilônico “propício”, “abençoado”. Estes foram termos frequentemente usados na antiguidade para se referir a imagens que apareciam guardiões esculpidos nas entradas de templos e palácios, com corpos de touro (shedu) ou de leão (lamassu), com cabeça humana e asas. Podemos ver figuras semelhantes a estas na Grécia, os grifos, e as próprias esfinges egípcias também nos remetem a estas imagens dos querubins, sempre apresentados como estes seres que trazem proteção.
Voltando para a tradição judaíco-cristã, na Bíblia, os querubins aparecem pela primeira vez como protetores da entrada do jardim do Éden com uma espada flamejante. Aparecem novamente no êxodo como esculturas em volta da Arca da Aliança que será construída por Moisés e também no livro dos Reis. Durante um bom tempo, como diz o historiador Flávio Josefo, os querubins foram esquecidos, ganhando pouco tempo depois uma descrição mais complexa, como vemos no trecho do livro de Ezequiel:
“E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem. E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas. E os seus pés eram pés direitos; e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra, e luziam como a cor de cobre polido. E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas. Uniam-se as suas asas uma à outra; não se viravam quando andavam, e cada qual andava continuamente em frente. E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro. Assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas por cima; cada qual tinha duas asas juntas uma a outra, e duas cobriam os corpos deles.”
Esta foi a imagem dos Querubins que predominou durante toda a Idade Média e podemos encontrá-las em diversas representações artísticas. Eram representados cheios de olhos e com imensa complexidade, pois são conhecidos como aqueles anjos que possuem muita Sabedoria, de tal maneira que conhecem os Mistérios Divinos e os guardam. A partir do Renascimento, porém, para simbolizar uma ideia de Pureza e de mensageiros de Deus, aparecem como bebês alados, como vemos na famosa pintura de Rafael Sanzio. É a representação que predomina até os tempos atuais. Vale salientar que todas estas representações são tentativas de mostrar o que são os Querubins em sua essência.
A nossa dificuldade de descrevê-los, e até de acreditar nesses relatos, nos remete justamente ao pouco contato que temos com ideias profundas, abstratas e sutis como Justiça, Amor, Bondade, e até mesmo a pouca capacidade que temos de nos conectar com a nossa Alma, com a Essência de quem somos. Existe uma realidade sutil da Vida a qual fomos perdendo contato ao longo da história, substituindo pelo que é concreto e prático, e pelo que é captado apenas pelos sentidos. Daí nasce a nossa incapacidade de imaginar e nos conectar com estes aspectos da vida que vão para além de nós mesmos e desta realidade imediata. Daí vem nossa incapacidade de perceber que a vida vai além do Ser Humano, que ela não está aqui para nos servir, que nós não somos o centro do Universo, mas sim fazemos parte dele.
Por fim, para perceber essa realidade sutil é preciso ter sensibilidade e buscar compreender os Mistérios que cercam o nosso Universo. Não podemos limitar nossa visão do mundo baseando-se apenas nos nossos sentidos, mas sim temos que estar abertos à possibilidade de existirem outros seres, que agora não somos capazes de compreender somente com os nossos sentidos. A vida, afinal, existe em diversos modos e formatos, não seremos nós que iremos encaixá-la em um modelo. Ao buscarmos entender a Vida sob esse ponto de vista, quem sabe, não sejamos capazes de compreender melhor suas expressões.
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