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O Simbolismo das Hespérides: As mudanças ao longo do dia

Qual o seu momento favorito do dia? A manhã e os primeiros raios de sol? O fim da tarde e o seu crepúsculo? Ou talvez seja a tarde, quando o sol está em seu máximo esplendor? Todos nós podemos apreciar esses momentos e percebemos suas diferenças ao longo da jornada diária. Para os antigos Gregos, tais momentos eram fruto do Divino e por isso diversas Divindades participavam dele. Tínhamos, por exemplo, a Deusa Eos que representava a aurora, Hélio era a personificação do Sol e também as Hespérides, que juntas iluminavam todo o mundo no período da tarde.

Aqui no portal Feedobem, já falamos sobre Eos e Hélios, por isso hoje nos debruçaremos um pouco mais sobre as Hespérides, essas Divindades primitivas e tão especiais que seguiam o Deus Sol em sua carruagem e o auxiliavam na tarefa de cumprir o ciclo solar diário. Antes de começarmos, cabe uma importante reflexão sobre a mitologia Grega e a maneira que os antigos habitantes da Hélade se relacionavam com a natureza. Como podemos perceber, o panteão de Divindades ligadas ao dia e a noite são diversos. podemos citar as Horas, por exemplo, que eram Divindades que marcavam o tempo e as estações; Nix e Hemera correspondiam à noite e à luz do dia, além do Sol e da Lua, representados por Hélios e Selene. Por que os Gregos cultuavam tais Divindades?

A resposta, talvez, seja mais simples do que possamos imaginar: para estes homens e mulheres do passado, a vida, em suas mais diferentes formas e experiências, eram uma dádiva dos Deuses. Assim, a Divindade estaria expressa em tudo e a natureza seria, em síntese, um grande templo no qual toda a manifestação seria fruto do Divino. O Ser Humano, inserido dentro desse grande mistério, poderia perceber o sagrado em todas as suas formas. Todos os momentos do dia, portanto, eram formas de expressão do Divino, assim como os oceanos, os rios, as florestas e as cavernas. 

Essa visão de mundo para a nossa cultura moderna, permeada de ceticismo e materialismo, nos é estranha. Observamos o mundo, principalmente em nossas experiências mais banais, apenas sob o ponto de vista científico, sendo assim, uma percepção objetiva desses fenômenos. Ao olharmos para os céus, então, não buscamos pensar em Hélio correndo com sua carruagem dourada e puxando o Sol, mas apenas consideramos o movimento de translação que a terra faz ao redor do astro-rei. Talvez por isso achemos que as civilizações antigas sejam “primitivas”, que seus mitos eram somente histórias que tentavam parcamente explicar o funcionamento do mundo e que, quando comparada com a nossa civilização, estamos anos-luz à frente deles em nível de entendimento e respostas sobre o Universo.  

Entretanto, o que ocorre são apenas diferenças de percepções. Mesmo que pensemos que sabemos muito sobre a vida, seu funcionamento e o cosmos, o fato é que, assim como os Gregos, os Egípcios e todos os outros povos da antiguidade, ainda tentamos encontrar respostas para as nossas questões fundamentais: quem eu sou? Para onde vou e de onde vim? Qual meu papel nesse mundo? 

Visto isso, talvez deixemos de lado a presunção de pensarmos que estamos à frente dessas outras experiências civilizatórias e, a partir disso, poderemos estar abertos a agregar o ponto de vista alheio, mesmo que hoje já não cultuemos tais Divindades.

Dito isso, vamos conhecer um pouco sobre as Deusas Hespérides. Uma importante diferenciação que devemos fazer neste momento é que na mitologia Grega há dois grupos de Deuses que são mencionados como Hespérides: o primeiro deles são as três Deusas da tarde, que será o nosso foco principal aqui. As outras Hespérides não são Deusas, mas ninfas, que habitavam no extremo Ocidente do mundo, perto do Monte Atlas. Elas seriam sete, ao todo, e sua beleza e jovialidade encantam a todos, tendo também sobre sua responsabilidade o famoso “Jardim das Hespérides”. Esse jardim, também conhecido como o jardim dos imortais, guardaria em si as maçãs douradas, um fruto mítico que daria a imortalidade a quem o comesse. 

Para não nos enganarmos com nossas referências, começaremos falando sobre as Deusas Hespérides e não as ninfas. Elas eram três: Egle, Eritia e Hespéra. Cada uma delas representava um momento da tarde, esse período do dia que faz a transição entre a manhã e a noite. Egle, também conhecida como “a radiante”, era tida como a Deusa que trazia a cor avermelhada da tarde, a luz que se diferencia da manhã. Eritia era tida como “a esplendorosa”, e iluminava a tarde em seu auge. Já Hespéra era responsável pelo crepúsculo, transicionando assim a tarde com a noite, na qual Nix assumiria com suas sombras e estrelas esse novo momento da natureza.

Um ponto interessante para refletirmos sobre as Hespérides é o seu papel de intermediário entre o dia e a noite. Como fazem essa divisão entre o claro e o escuro, essas Deusas são, por vezes, atribuídas como filhas da noite (Nix) e da escuridão (Érebro), e outras vezes como filhas da luz celeste (Éter) com a luz do dia (Hemera). Talvez não seja por acaso essa distinção, visto que o período vespertino, de fato, compõe-se desses dois extremos. O começo da tarde é marcado por uma forte incidência de sol, que vai diminuindo gradativamente ao passar das horas. Ao entardecer, próximo do crepúsculo, já sentimos que a luz do sol já se despede de nós e a noite começa, minuto a minuto, a ganhar terreno no céu.

Pensando em nossa vida, muitas vezes relacionamos o dia e a noite de maneira dual. Falamos que o dia é a vida, a noite é a morte, assim como usamos o dia para realizações externas e a noite para as internas. Entendemos bem essa dualidade e concordamos em fazer tais relações, entretanto, é fundamental percebermos que a Vida, com “V” maiúsculo, não funciona de maneira tão definida. Existe, entre os dois opostos, uma série de matizes que vão servir de pontes para a mudança entre esses momentos. Do mesmo jeito que não vamos dormir crianças e acordamos adultos, a vida também não dá saltos repentinos, por isso os momentos de transição são tão importantes quanto as mudanças em si.

Em nós, sentimos o entardecer como a maturidade. A energia do começo da tarde, que em seu auge, de fato, se mostra radiante, vai sendo substituída por uma silenciosa energia bem canalizada, bela em suas expressões, mas que já não precisa se exibir para encantar. Ela anuncia a noite, que nos leva a momentos de vida interior. É na noite que buscamos descansar, em que a energia que outrora se manifestava em excesso passa a ser agora uma pequena chama interna, que produz a luz e nos aquece em meio a escuridão. Esses ciclos da natureza se repetem inúmeras vezes, tanto fora de nós, como também nas nossas mais íntimas experiências.

As Hespérides são, portanto, as representantes dessas mudanças que carregam consigo a doçura, a leveza e a força de cada um desses momentos. Por isso não podemos menosprezar os Gregos e seus mitos, pois mesmo que distantes do nosso tempo eles ainda nos podem ensinar valiosas lições sobre a vida, sobre o Universo e sobre nós mesmos. Basta percebermos o quão ricas são as formas de aprendermos a respeito dessas ideias para aceitá-las e vivê-las. Não pensemos que tais Divindades são frutos da imaginação, mas verdadeiras forças que atuam na natureza e que regem, ao seu modo, os mais distintos aspectos da vida. Assim, podemos não somente nos encantar com a mitologia, mas percebê-las em nosso dia a dia, a cada minuto, a cada alegria ou tristeza. 

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