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Os arquétipos femininos na mitologia

A mentalidade de uma civilização pode ser traduzida pela sua mitologia. O que queremos dizer com isso? Que o estudo dos mitos é essencial para entendermos melhor um grupo humano, seja qual for, afinal, não conhecemos alguém apenas pelas suas atitudes, mas principalmente pelos seus ideais de vida que, na grande maioria dos casos, explica o porquê de algumas ações que tomamos no nosso dia a dia. Assim, aprender sobre mitologia é, em síntese, aprender sobre ideias, seja no campo individual ou coletivo.

Dito isso, há vários tipos de mitologia dentro de uma sociedade. Mitos de criação do Universo, mitos de destruição do Universo, de origem do ser humano, de sua jornada e finalidade cósmica, entre outros tantos. Em meio a todo essa complexa teia que interliga um sistema de crenças e ideias, há deuses e seres que representam ideias e arquétipos. Quem de nós, por exemplo, nunca se encantou com Zeus, Poseidon, Deméter, Atena ou Afrodite? Todos esses deuses da mitologia grega guardam uma profunda relação com as ideias e atributos dados pelas narrativas mitológicas. Além disso, as ideias que representam podem ser vividas, em algum grau, por todos nós, o que inspira os seres humanos que entram em contato com esse legado da humanidade. Usamos o exemplo grego, porém, esse mesmo padrão pode ser compreendido nas demais civilizações humanas. Assim, podemos entender outras divindades também como aspectos da natureza, que podem, ao seu modo, servir de inspiração para todos nós. 

Considerando tais aspectos, é importante entendermos que outro símbolo que todas as civilizações usaram foi o do masculino e feminino. Usualmente relacionamos esses dois aspectos em nossa realidade como a dualidade “homem-mulher” ou “macho-fêmea” para os animais, entretanto, entender essas duas polaridades dessa maneira é limitante. De fato, quando se fala em “polaridades” ou ainda “dualidades” podemos considerar que esses dois aspectos (masculino e feminino) não se restringem apenas a uma questão de gênero, mas sim a forças da natureza. No Egito Antigo, por exemplo, encontramos essa polaridade em diversas divindades e suas relações com a natureza. Nut e Geb, por exemplo, é uma das parelhas divinas que representam as polaridades feminina e masculina, respectivamente. Porém, ao contrário de muitas civilizações, que no geral relacionam a Terra com o aspecto feminino, no Egito o feminino é o céu noturno e estrelado, enquanto a Terra é o masculino. Essa diferenciação nos mostra que as relações simbólicas produzidas pelas culturas humanas são variadas, e por isso não nos cabe restringi-las apenas ao aspecto do gênero, mas entender que toda a natureza, em seus mais diferentes níveis, é vista a partir dessa ótica dual.

Portanto, hoje falaremos sobre divindades que representam o aspecto feminino na mitologia e as ideias nas quais podemos nos inspirar. Antes de começarmos, vale apontar que não poderemos abarcar todos os arquétipos femininos, sendo assim importante ao leitor que queira aprofundar-se no assunto acompanhar as diversas postagens sobre deuses e mitos que existem em nosso portal. 

O primeiro arquétipo que separamos é a da deusa Deméter, uma das principais deusas agrícolas da mitologia grega. Associada à vida e à fertilidade, Deméter é uma mãe feroz que percorre o mundo inteiro para resgatar Core (Perséfone) das garras de Hades, o deus do submundo e que a raptou. No mito Deméter precisa garantir o plantio e as colheitas, mas, como passa grande parte do tempo procurando por sua filha, acaba gerando seca e fome pelo mundo. Quando descobre que sua filha se casou com Hades e que agora vive no submundo, Deméter cai em profunda tristeza, e sua dor só é aplacada quando Zeus, através do deus mensageiro Hermes, consegue um acordo para que sua filha passe 6 meses no mundo dos vivos e 6 meses no mundo dos mortos.

Esse é, em síntese, o mito de Deméter. Recomendamos que, para quem deseja conhecê-lo de forma mais profunda, leia o nosso texto “O que podemos aprender com Deméter, a deusa da agricultura?”, que se encontra em nosso portal. O que queremos aqui é entender esse arquétipo da deusa e sua relação com o feminino.

A primeira coisa a ser entendida, e a mais evidente, é o aspecto de vida e fertilidade. Em geral o feminino está diretamente associado à ideia de geração. Não por acaso, quando se fala

em “mãe natureza”, por exemplo, parte-se da ideia de que toda a natureza produz vida, em suas mais distintas formas. Também associamos a ideia do feminino com a vida pela própria natureza da mulher que, dentro de termos biológicos, é quem gesta e dá a luz a uma nova forma de vida. Nesse sentido, o primeiro arquétipo que Deméter representa é o da mãe que ama seus filhos e jamais desistirá deles. Em seu mito, ela percorre toda a Terra em busca de Perséfone, revelando o amor maternal que existe entre a geradora e sua prole. Podemos relacionar essa ideia diretamente com o amor de mãe, que conhecemos, porém, indo além do aspecto humano, há a ideia de que a natureza ama aquilo que produz e por isso sempre está a favor dos seres vivos.

Talvez essa seja uma ideia difícil de aceitar, visto que uma das leis da natureza é a de adaptação e sobrevivência, mas a própria natureza permite que sejamos capazes de aprender e nos desenvolvermos diante das dificuldades. Se entendermos a natureza como um sinônimo de “vida”, podemos entender que a vida sempre busca a evolução dos seus seres, ou seja, dos seus “filhos”, e jamais está contra eles. Por isso, Deméter não é apenas uma mãe, mas também uma divindade relacionada a agricultura e o florescimento de toda a vida, que conserva e alimenta todas essas formas existentes no planeta.

Outra divindade que representa o aspecto feminino é Ísis, a grande deusa do Egito Antigo. O senso comum a coloca como “esposa de Osíris”, porém, muito além dos papéis de esposa e mãe, Ísis também é conhecida como a deusa da magia e guarda uma relação profunda com os mistérios, aquilo que está oculto e que não pode ser conhecido de maneira direta. Devido a esses atributos, durante a Idade Média, sua imagem foi relacionada à bruxaria, mas em verdade essa divindade em nada se assemelha às criaturas malévolas do imaginário medieval.

A deusa Ísis também tem um texto em nosso portal e recomendamos ao leitor que pretende se aprofundar nos simbolismos dela que o leia. Sendo assim, aqui falaremos apenas dos símbolos que remetem ao feminino, porém, deixamos claro que a complexidade dessa deusa vai muito além desse arquétipo. Dito isso, devemos saber que Ísis guarda uma relação profunda com o amor, um dos principais atributos do aspecto feminino e que está ligado também ao vínculo da maternidade e do casamento. Enquanto mãe, Ísis dá a luz a Hórus, o deus-falcão que resgata o Egito das mãos de Seth. Enquanto esposa, Ísis reúne os pedaços do seu marido e com sua magia o leva para o submundo para que ele seja coroado rei do mundo dos mortos. Assim, Ísis tem uma importância fundamental em toda mitologia egípcia, sendo muito mais do que uma deusa que está em segundo plano.

Como detentora dessa magia, Ísis sabe o nome interno do deus Rá, o deus do sol, e por isso consegue tudo dele. Devido a isso, muitas vezes Ísis foi associada a sabedoria, pois conhece o que está oculto, a essência do mundo. 

Outras deusas egípcias também compartilham de alguns atributos de Ísis, principalmente no sentido de mãe. Podemos falar, por exemplo, de Hathor, a deusa representada como uma vaca e que foi símbolo da maternidade. Porém, essa mesma deusa já foi representada como uma leoa e nesse arquétipo se assemelha a Sekhmet, uma divindade guerreira e que protege as leis do Egito.

Como podemos perceber, o feminino tem diversas faces, representando tanto aspectos mais objetivos e visíveis, como a maternidade e fertilidade, quanto aspectos místicos, como a magia. Essa gradação de símbolos não é apenas uma prova da diversidade e plasticidade de como essa polaridade poderia ser vista pelas diferentes civilizações, mas também uma prova da própria percepção de como a natureza está inserida em um aspecto objetivo e subjetivo ao mesmo tempo.

Visto isso, não devemos limitar a compreensão destes símbolos apenas com o caráter formal que estes assumem, mas enxergar as ideias que habitam neles. O feminino na mitologia transpassa questões de gênero e se expande para além de uma conduta humana, percebendo-se assim uma relação com o cosmos. Se conseguirmos captar essa ideia, perceberemos, por fim, como a mitologia se torna atemporal e uma via de explicação filosófica para nossas questões mais existenciais. O feminino é, portanto, uma das grandes forças da natureza e que molda sua energia a partir de diferentes virtudes, condutas e forças. As deusas são representações de cada um dos lados desse prisma e que podemos enxergá-las por diferentes ângulos. Sejamos, enfim, capazes de ir além e integrar em nossa vida esses aspectos para que possamos, tal qual os antigos egípcios e gregos, nos inspirar nas ideias representadas por tais divindades.

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