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Resgatando o Valor dos Símbolos Nacionais

O dia 18 de setembro é, oficialmente, o dia do símbolo nacional. Essa comemoração convoca algumas reflexões, do tipo, por que temos símbolos nacionais, quais são esses símbolos, qual o sentido e por que há um sensível desprezo das gerações mais recentes a esse simbolismo?

A palavra símbolo vem do grego “sum” mais “ballo” que significa colocar junto, associar dois entes. Todo símbolo associa dois planos, o plano do significante e o plano do significado. O primeiro é concreto, físico, ligado à matéria, o segundo é abstrato, metafísico, ligado às ideias. Assim, um símbolo é uma ponte que liga duas ordens de realidade, a ordem concreta e a ordem ideal, ou das ideias.

(Créditos: Wikipédia)

No nosso caso, o ideal de Estado e a identidade nacional constituem o aspecto abstrato, metafísico e espiritual representado ou associado à figura física da bandeira, das armas, do selo e do hino. Desta forma, os nossos símbolos funcionam como um elo entre essas duas realidades. Logo, ao olhar para a bandeira, em fração de segundos, o conjunto de cores ali impressas deveriam, em condições antropológicas ideais, disparar um sentimento interior que refletisse a força e a beleza das matas e florestas que cobrem o país, da biodiversidade, da riqueza mineral e da união indissolúvel dos nossos vinte e seis estados, como uma constelação incrustada na esfera celeste brasileira, envolvidos na luta pelo ideal de ordem e de progresso.

Os acordes do hino nacional, associados à marcha rítmica e à letra são como pontes para um ideal de luta, de heroísmo, de sentimento nacional. A composição, em um primeiro momento, fala de liberdade, sonhos, conquistas com braço forte, futuro e grandeza. Já em um segundo momento, o hino se transpõe para um plano mais sereno, em que as batalhas dão lugar à ternura e a pátria surge como uma mãe que abraça seu filho-gigante deitado em berço esplêndido ao som das águas do mar e à luz do céu profundo.

(Créditos: Macaco Geográfico)

Os símbolos eram para provocar em nós esses sentimentos de Beleza, de Justiça, levando-nos a uma ordem interior de reconhecimento e conexão profunda com o nosso lar, com a nossa cultura e com o espírito da nossa História. Eram para nos conectar a um ideal transcendente de Estado, que é próprio da esfera humana.

Assim como um organismo vivo têm o seu esquema próprio de organização, uma sociedade de humanos também tem uma lei natural de organização que lhe é própria, e que quando aplicada, forma o que chamamos de Estado. Nesse sentido, um Estado humano surge a partir da manifestação no plano concreto de um conjunto de leis invisíveis que só existem no plano das ideias. Daí surge a necessidade dos símbolos, que funcionam como canais ou como pontes entre essas duas ordens de realidade. Quando rompemos com o simbolismo, obstruímos essa comunicação e essa ligação entre esses dois planos e caímos no abismo do anti-humano, da injustiça extrema, dos enormes equívocos, da percepção rasteira, do curto alcance do que é um Estado, pois a nossa conexão com o plano das idéias é que faz com que sejamos humanos, e busquemos alcançar as virtudes mais nobres. Todas as grandes civilizações da História são balizadas em símbolos. Imagine a vastidão de símbolos que já se descobriu nas investigações arqueológicas do Egito, a quantidade de símbolos da Mesopotâmia, dos acádios, babilônios, assírios, caldeus. Essa é uma lei inexorável, somos movidos a símbolos, porque nossa ordem de sentido não está na matéria, está nas ideias, e a matéria é apenas uma manifestação do que jaz essencialmente no plano das ideias.

A civilização ocidental começou a romper com os símbolos durante o processo de construção da modernidade, sem ter a menor noção do abismo em que estava mergulhando. Passou a olhar a simbologia antiga com desconfiança e a busca da verdade ficou atrelada aos resultados de experiências em laboratórios. Aos poucos, desenvolveu-se uma ideologia racionalista baseada no dogma de que somente se podia acessar a realidade a partir da razão. Desprezou-se toda forma de acesso à realidade que envolvesse intuição, sentimentos e símbolos. A evolução desse processo descarrilhou na ruptura com o sagrado, na “morte de Deus” e por conseguinte no estreitamento de ideais.

Sobre esse processo, afirma o filósofo Jorge Angel Livraga:

(…) a objetividade cartesiana pretendeu explicar todos os fenômenos com base na evolução da matéria, sem princípio que a justifique e sem nenhum fim essencial. Toda a axiologia e toda a teleologia converteram-se em trastes em desuso na grande arrecadação da História. (…) o antigo foi definido como “primitivismo” e a crítica apresentou os velhos símbolos teológicos como balbuciamentos infantis de uma mentalidade pré-lógica. A antropologia viu nas tribos selvagens atuais fósseis vivos sobre os quais realizou experiências, das que já se pretendia conhecer o resultado: a contradição entre a Fé e a ciência, entre a Religião e o Conhecimento, entre a Mística e a Realidade. ”

Isso explica o distanciamento e a frieza da atual geração diante do simbólico. Não por acaso, cospem-se em bandeiras nacionais, rasgam-se e queimam-se esses símbolos em praça pública como sendo algo progressivo, libertário, como forma de protesto. Sem se dar conta de que isso é o efeito de uma ruptura histórica com a filosofia antiga e com as tradições milenares, um esmagamento do próprio indivíduo.

(Créditos: Significados.com.br)

Em 1988, o cantor Cazuza cuspiu na bandeira nacional enquanto cantava “ideologia, eu quero uma pra viver”. Essa cena é o retrato exato de uma geração que se perdeu no meio do caminho, não encontra o caminho de volta e procura desesperadamente esse retorno.

Na aversão aos símbolos há uma sutil desesperança diante da vida. Uma espécie de suicídio humano, o movimento autodestrutivo do ser.

Hoje, podemos olhar para o resultado desse divórcio com o simbólico e podemos ver com os nossos próprios olhos a profundidade do abismo no qual estamos afundando.

Entretanto, já é perceptível o cansaço dessa ideologia de apego ao transitório, ao concreto, e já se vê movimentos humanos no sentido oposto a isso tudo. Há um sensível retorno ao mito, ao simbólico, como um necessário caminho de volta para casa. O futuro da humanidade está escrito na mensagem oculta dos mitos, mas as vendas da modernidade não permitem enxergá-lo.

É urgente a ruptura dessas vendas, o destampar dos olhos para a realidade. Esta geração precisa se reaproximar dos símbolos, reaprender a linguagem do sagrado, como meio de chegar ao transcendente. Só assim retomamos a luta pelos altos ideias e poderemos de novo sonhar com um mundo novo e melhor e com um homem novo e melhor.

(Créditos: Sandra de Andrade)

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