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Temos fome de quê?

Em uma entrevista, Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP), afirma que a situação em nosso país é muito preocupante, tendo em vista que no Brasil em torno de 10% da população está subalimentada. Essa informação nos choca, inicialmente, pois males como a fome, a miséria, e outras formas de sofrimento humano nos causa uma lástima profunda. A fome, por exemplo, é um problema que já devia ter sido superado, dadas as condições tecnológicas e científicas que dispomos na atualidade. É preciso nos perguntar por que ainda tem pessoas que passam fome, mesmo existindo tantas terras férteis sem ser utilizadas. Por que ainda existe tanta desigualdade social se toda a riqueza produzida é mais do que o suficiente para toda a população?

Se formos bem razoáveis em nossa reflexão, chegaremos à conclusão de que a fome física que devora o nosso povo é, em grande medida, um reflexo de um outro tipo de fome, mais sutil e pouco visível, mas que se alastra rapidamente: fome de humanidade.  Diferente da fome física, esse tipo de mal não será resolvido pela esteira da economia ou da política, uma vez que é um tipo de carência para além de nossas necessidades do corpo. Por isso, ao olharmos para um problema social, há que entendê-lo não só por suas consequências, mas buscarmos as suas mais profundas causas. E, intrinsecamente, cada um de nós tem uma parcela de culpa nessa conta, pois a sociedade é composta por indivíduos, logo, se estamos enfermos, ou seja, se nossos valores humanos estão em baixa, consequentemente, teremos uma sociedade carente desses mesmos valores.

Insistimos no ponto de que o indivíduo não começa e termina no seu físico, tendo em vista que a humanidade de um indivíduo é composta por uma dimensão física, emocional, energética e mental. Desse modo, cada um de nós carrega consigo necessidades emocionais, mentais e energéticas para além das necessidades físicas. Quem pode negar que os nossos estados de ânimos e humor não interferem em nosso bem estar? Pois, para considerar uma pessoa sã, deve-se levar em consideração não apenas as suas condições físicas, mas também o seu estado emocional e as suas capacidades intelectivas e energéticas.

Ao compreendermos a estrutura humana a partir dessas quatros dimensões, gostaríamos de ousar fazer análise sobre as origens da fome física. As ciências humanas têm buscado compreender e explicar a temática da fome ao longo da sua história, entretanto, é perceptível o estado de carência absoluta que os seres humanos vivem no que concerne nos seus planos mais sutis. Apesar de pouco discutidas, as carências emocionais e mentais são mais letais do que qualquer enfermidade física e acaba por matar não só o indivíduo, mas todas as próximas gerações.

Um outro aspecto ignorado quando se trata desse assunto concerne a nossa energia. Consideremos a energia como nossa capacidade e tempo de realizar atividades, seja para nós mesmos ou para os demais. Logo, quando falamos em energia estamos lidando com dois aspectos objetivos da vida humana: o tempo e o dinheiro. Se não temos tempo, não podemos dedicar nossa energia a algo, nem a nós mesmos. De igual modo, sem os recursos necessários para realizar uma atividade nossa ação no mundo torna-se limitada. Portanto, essas duas variáveis que se relacionam e se integram harmonizando ou desarmonizando a vitalidade de um corpo. 

Ao empregarmos energia em algum trabalho, por exemplo, investimos uma certa cota de nosso tempo em troca de dinheiro. Assim, nossa energia, contabilizada como tempo, gera dinheiro. Quando, porém, milhares de pessoas trocam grande parte do seu tempo por uma quantia mínima de dinheiro, naturalmente as carências físicas não serão atendidas em sua plenitude. O resultado disso é a fome.  Assim, essa lógica desarmônica entre dinheiro, tempo e energia que promove a escassez energética não só do indivíduo, mas de todo o corpo social.

Tratando da razão, aqui no Ocidente se costuma dizer que a nossa capacidade intelectual está diretamente associada ao nosso uso do raciocínio, característica esta que nos difere dos outros seres vivos. O problema é que na maioria das vezes a nossa capacidade de raciocínio e o uso da razão estão a serviço dos nossos desejos e instintos mais grosseiros, então, quando fazemos uso de nossa mente, a usamos em nosso benefício e propósitos egoístas. Logo, não pensamos na melhor maneira de acabar com a fome do mundo, por exemplo, mas sim em como conseguir mais dinheiro para alimentar-se melhor. Dentro dessa lógica egoísta somos capazes de tudo, pois nosso senso moral falha perante os desejos que queremos realizar.

Por fim, no que concerne a dimensão dos sentimentos temos um outro tipo de carência da qual padecemos. Pois, cada vez mais os instintos ganham e tem supremacia em relação ao desenvolvimento dos sentimentos profundos. Hoje perdemos o referencial do que são sentimentos e do que são emoções, colocamos tudo em um pacote como se fosse uma única coisa. 

É importante lembrar que os nossos instintos têm um papel importante em nossa personalidade quando colocados em seu justo lugar, porém, a importância do desenvolvimento de uma vida saudável afetiva passa por aprendermos a desenvolver sentimentos estéticos, valores altruístas e virtudes morais que nos ajudem na relação conosco e com o outro e com tudo o que nos cercam. Não custa muito a gente perceber que em nossas relações diárias faltam mais generosidade, bondade, fraternidade, mas sobra intolerância, criticidade, vaidades, egoísmos etc.  

Com todas essas carências sutis, onde vivemos numa sociedade em que cada vez mais os indivíduos padecem de misérias e males nas suas dimensões energética, mental e emocional não é de se admirar que no plano físico estejamos vivendo, lamentavelmente, esse panorama da fome que devora a cada dia nossos homens, mulheres e crianças em pleno século XXI. Certamente, na história sempre houve momentos difíceis e a humanidade já os superou. Entretanto, as evidências mostram que todas as saídas se deram a partir do bom uso da razão, organização dos pensamentos e sentimentos de acordo com lei universal que sirva a todos e não a si próprio. Quando o homem pensa, renova as suas energias, enobrece os seus sentimentos, tem grandes ideias e encontra as melhores soluções para responder às adversidades que a vida lhe traz. E quando não sabemos pensar sofremos as mais duras consequências como resposta. 

Portanto, é urgente olhar e cuidar do ser humano por uma visão holística que atenda as suas várias dimensões para que possamos resolver males pelas raízes e não atuarmos só nas consequências. Acreditamos que o maior problema que origina a temática em questão é que a nossa humanidade está cada vez mais debilitada porque não pensamos, não temos energia e perdemos a nossa capacidade de sentir. A máxima de mente sã, corpo são ainda é muito válida para os dias atuais!

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