Você considera a Gentileza uma Virtude importante? Geralmente essa pequena grande Virtude Humana está expressa nas pequenas coisas: cumprimentar as pessoas, ceder um assento para um idoso, abrir a porta do carro para uma dama, respeitar as filas, entre outras tantos gestos simples, mas que fazem toda a diferença no nosso cotidiano. Tudo isso nós aprendemos desde que nascemos, e somos educados a seguir essas regras de convivência. Mas será que apenas agindo dessa forma, cumprindo esse protocolo social, estamos verdadeiramente sendo gentis? Ou a Gentileza, como Virtude que é, exige algo mais do que essa formatação social para ser plasmada?
Para responder essa pergunta vamos buscar o verdadeiro significado da palavra em sua origem. A raiz da palavra gentileza pode ser buscada em duas fontes: no latim, ela vem da palavra “Gentilis”, que quer dizer “da mesma família ou clã”. Essa mesma denominação foi usada para os nativos americanos por parte dos Europeus, que chamavam nossos indígenas também pela expressão “gentios”. Nesse aspecto, essa palavra está ligada à ideia de clã, mas também denota uma inocência e ingenuidade, uma imagem que normalmente hoje o senso comum aponta para quem é, de fato, gentil. Quem nunca viu alguém que é muito educado, por exemplo, e com cortesia ajuda os demais ser tachado de “bonzinho” ou “ingênuo”? Como se o ato da gentileza gerasse em nós uma debilidade, quando na verdade essa Virtude revela nossa força em não deixar que o ambiente em que estamos inseridos nos roube nossa conduta interna.
Ainda assim, a Gentileza tem raízes mais profundas. No protoindo-europeu, uma língua ancestral e que remonta à pré-história humana, ela vem de “Gens” que significa “dar à luz”. Daí já podemos concluir que não basta apenas a forma para gerar a Gentileza, é preciso que exista também algo que brote de dentro do ser humano para que essa Virtude se manifeste. Essa etimologia aproxima-se muito mais do real significado da Gentileza, uma vez que não significa dar a luz apenas aos seus familiares, mas ser capaz de expressar a beleza humana nos atos em qualquer situação.
Refletindo sobre os dois conceitos acima, podemos concluir que a Gentileza, na sua concepção mais profunda e completa, consiste em trazer à luz, manifestar na vida tudo que de bom existe no Homem, todo o seu potencial humano e divino. Além de exigir do ser humano uma verdadeira abertura de coração, que possibilite ver o outro e sentir as suas necessidades, desprovidos das lentes dos interesses pessoais e do egoísmo. Pois, só assim, ele poderá sentir em seu coração que todos – homens e mulheres, crianças e idosos – são membros de sua família, e que todos os seres humanos juntos formam um único corpo, a Unidade.
Essa é uma ideia profunda, pois não é comum enxergarmos a humanidade sem distinção de etnia, idade, sexualidade, nacionalidade, gênero ou crença, como uma só. Infelizmente observa-se no mundo atual um fenômeno de separatividade profunda, em que cada vez mais nos fechamos em círculos partidários, defendendo pautas especializadas, que nem sempre ajudam a construir uma unidade entre todos os seres humanos. Com isso, forma-se verdadeiras facções que disputam uns com os outros direitos e benefícios que, no fundo, ampliam ainda mais o abismo entre os grupos.
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Entretanto, se enxergássemos a humanidade como uma só e fôssemos gentis sem distinção, o que isso poderia produzir em nossa alma? Sem dúvidas surgiria uma relação muito íntima entre a Gentileza e outra bela Virtude, o Amor, uma vez que a busca pela unidade é, em última instância, aprender a amar cada vez mais as pessoas, independente de qualquer condição adversa que nos seja imposta. Amar, nesse sentido, é um verdadeiro ato de heroísmo, pois nos coloca numa posição ativa, um combate entre o Amor que queremos fomentar e a dificuldade de superar as barreiras externas. Isso ocorre porque, de maneira sintética, podemos afirmar que o Amor está por trás de todas as Virtudes que precisamos desenvolver, pois só conseguimos acessar as pessoas à luz desse sentimento.
Conseguir perceber o que o outro necessita, o que o outro sente, como podemos ajudá-lo, qual seria o bem para ele, só é possível quando purificamos o nosso coração. Tendemos a olhar para coisas projetando sempre os nossos interesses, nossas expectativas e nossos desejos: se determinada pessoa ou coisa não se encontra nesse seleto círculo, elas simplesmente somem da nossa visão porque não conseguimos ver o outro em si, apenas a utilidade que ele tem para nós no momento.
Um exemplo claro disso podemos ver quando uma mulher se torna mãe, ou quando estamos para comprar um carro novo, ou até mesmo quando estamos com alguém doente em nossa família. Antes desses interesses surgirem, essas pessoas passavam pela vida sem ver nenhuma mulher grávida nos locais em que estavam e sem ter sensibilidade para as suas dificuldades, sem observar a quantidade de carros na rua do modelo que se pretendia comprar e, até mesmo, sem se sensibilizar com as pessoas que se encontravam doentes, internadas em hospitais e lutando para sobreviver. E por que isso acontece? Simplesmente porque a visão do Homem tende a se limitar unicamente ao seu círculo de interesses, reflexo do egoísmo exacerbado que vivemos hoje, que está por trás de todas as coisas que nos impedem de crescer.
Como podemos ver, o segredo para viver a Gentileza em sua plenitude está em desenvolver o Amor, a Empatia e o Altruísmo, pois, como tudo na vida, com essa Virtude não poderia ser diferente: para se plasmar exige uma forma e um conteúdo. A forma nós aprendemos bem através das regras sociais, mas só elas não são suficientes, pois de nada adianta você ceder seu lugar para um idoso, dar a sua vez na fila para uma grávida ou até mesmo levantar uma criança que caiu, se por dentro você está com o seu coração carregado de raiva e de críticas, e só foi capaz de realizar esses atos porque haviam pessoas lhe vendo ou porque a sociedade exige isso de você. Por isso, o conteúdo se torna essencial para que esses gestos se transformem em verdadeira Virtude, e ele consiste justamente no estabelecimento desse vínculo profundo de coração com o outro, em ver que o outro é tão importante quanto eu e que não estamos sozinhos no mundo.
Quando nascemos fisicamente, ganhamos um corpo físico, mas isso não nos garante que tenhamos despertado também a nossa consciência humana. Precisamos querer dar à luz a todo potencial de valores e virtudes que existem dentro de nós. Só é através da Vontade e do esforço diário que vamos conseguir trazer à tona na nossa vida essas potencialidades. E aí está a grande tarefa e o grande dever do Homem: desenvolver a sua natureza humana. Só é através desse movimento que seremos realizados, pois ser o que a Natureza espera de nós consiste no segredo da Felicidade.
Por isso, vale a pena começar a ser gentil no seu pequeno ciclo de convivência, com sua família, seus amigos, seus colegas de trabalho, e aí, depois de ter experimentado a felicidade que vai surgir dessa atitude, você mesmo vai sentir a necessidade de ampliar esse gesto para mais, e mais pessoas, até que um dia você possa englobar todas as coisas à sua volta. Não adianta termos piedade e querermos ser gentis e generosos com os povos africanos que sofrem a milhares de quilômetros de distância, se não temos esse mesmo sentimento com o nosso vizinho, nossos funcionários, nossos parentes, nosso chefe, nem com nossos amigos. Se a convivência gera atritos e dificulta a sua abertura de coração, aí está o seu maior desafio e o seu maior ponto de crescimento. Busque vencer essas barreiras! Veja e sinta o outro verdadeiramente, tenha Empatia e se coloque no lugar das pessoas. Esse exercício diário pode ser muito útil para o desenvolvimento da Gentileza em sua vida.
Mas, uma dica muito importante: não queira abarcar o mundo todo no início. Sabe por quê? Porque abrir o nosso coração para as pessoas não é fácil, e provavelmente, não vamos conseguir fazer isso tão rápido quanto imaginamos, e as nossas frustrações por não estarmos dando conta de fazer o que nos determinamos, pode nos dar a sensação de que se trata de uma meta inatingível, quando, na verdade, não é! Nós só temos que aprender os caminhos certos para vencê-la. Portanto, busque escolher algumas pessoas, ou algumas situações para você se comprometer a ser gentil com elas. Depois que você sentir que conquistou esse núcleo de pessoas, vá expandindo, e assim, sucessivamente. Com isso, você vai se sentindo cada vez mais capaz e com mais poder sobre si mesmo. Isso vai facilitar a expansão dessa Virtude.
Um grande filósofo chamado Sri Ram já dizia: “A evolução nada mais é do que a depuração do gosto”. Aprender a gostar de ser Gentil, Bom e de desenvolver Virtudes Humanas é o caminho para a Plenitude do Homem. Encontrar a Felicidade nisso, e agir dessa forma porque você é assim, e não porque os outros vão estar lhe vendo ou porque a sociedade lhe exige isso. Esta é a grande chave da vida.
Porém, muitas vezes nos perguntamos: Mas porque eu vou fazer isso se o mundo todo não pensa assim e não age assim? Que diferença eu vou fazer no mundo? A resposta é simples! Como já dizia Platão, o melhor que podemos fazer para ajudar as pessoas que amamos é: crescer! Pois só assim, garantimos a elas que estaremos juntos sempre, porque nos tornamos capazes de criar um vínculo maduro, de Amor profundo, que só pode ser desenvolvido quando trazemos à tona nossos valores humanos.
Além dos pontos que já abordamos, queremos destacar que “Gentileza gera Gentileza”, essa frase muito usada nos dias de hoje foi dita por um dos personagens mais icônicos do Rio de Janeiro: o Profeta Gentileza. Após um evento traumático na cidade, esse cidadão “comum” decidiu dedicar sua vida para levar a Gentileza até o coração de todos os cariocas e também do mundo. Hoje essa bela frase é usada como slogan em diversas campanhas e popularizou-se de tal modo que todos nós, em maior ou menor grau, a conhecemos. Sobre o Profeta Gentileza você pode conhecer mais profundamente a sua história em nosso portal, basta clicar aqui.
Ainda sobre a frase, ela nos diz justamente o que precisamos nesse momento: colocar em prática a Gentileza, pois o ensinamento só se dá através do exemplo. Portanto, para mudarmos o mundo e as pessoas, precisamos dar a nossa cota de sacrifício e batalha interna. Só através da nossa mudança, do nosso crescimento e do desenvolvimento das nossas Virtudes é que podemos impactar o mundo e gerar a verdadeira REVOLUÇÃO que precisamos, a REVOLUÇÃO HUMANA.
Para enriquecer a nossa reflexão sobre essa Virtude tão bela, uma grande compositora e intérprete brasileira, Marisa Monte, nos presenteou com uma canção que fala sobre a Gentileza no mundo. Deixamos agora o vídeo e a letra da música para que você possa acompanhar:
GENTILEZA
“Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de gentileza
Por isso eu pergunto
A você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
‘Amor: palavra que liberta’
Já dizia o profeta”
