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Como despertar Beleza e Simetria na alma a partir das obras de Bach?

Existem músicas que são apreciadas em um momento histórico por inovarem de alguma forma ou por se alinharem com os Valores da sociedade daquela época. Entretanto, existem músicas que vão para além de qualquer momento, qualquer circunstância, são atemporais e tocam no que há de mais profundo no Ser Humano, conectando-os aos sentimentos e às idéias elevadas. Johann Sebastian Bach é um desses geniais Seres Humanos que entram para a história por terem uma grande sensibilidade poética de olhar para a Vida, captar aquilo que há de mais Belo e traduzir em ricas composições. 

Começando com elementos biográficos, Johann Sebastian Bach nasceu na Alemanha, no fim do século XVII, mais precisamente em 1685, e nessa época a música da moda era a galante, muito diferente do estilo barroco, que ele genialmente dominava. Em vida, portanto, não foi reconhecido. Assim como tantos outros artistas dos quais só percebemos o valor quando os tempos mudam e nossa visão sobre suas obras deixa de ser influenciada pelo modismo, Bach começou a ser considerado um gênio da música somente um século depois de sua morte.

Nascido em uma família de músicos, desde pequeno o jovem Bach já apreciava a música erudita e aprendeu no seio familiar as primeiras notas musicais. Inspirado pela temática religiosa – sendo ele mesmo um fiel do cristianismo – Bach tocou em diversas igrejas e capelas e sua música retrata, em grande parte, o aspecto religioso. Talvez daí venha a grandiosidade de sua obra, sempre buscando a harmonia e simetria perfeita, para poder ser um elemento divino na vida humana.

O que se conta é que teve uma vida muito prosaica. Suas composições para cravo, órgão e clavicórdio, instrumentos da época, eram executadas em pequenas igrejas luteranas que frequentava. Dava aulas em algumas escolas e nunca saiu da sua terra natal. Entretanto, apesar de bastante humilde, alcançou através da sua arte aquilo que nem todos os Seres Humanos conseguem: uma elevação da Alma que toca o transcendente e que nos faz também ouvi-lo.

Bach foi um mestre em composições polifônicas e simétricas do estilo barroco que nitidamente mostram seu respeito às leis que regem o Universo, aos símbolos e ao Sagrado. Suas músicas sacras e seculares sempre abordam temas de encontro do Ser Humano com o Divino, de heroísmo, de superação, de Beleza e de contemplação da Vida, demonstrando sempre uma Serenidade e uma Temperança que fizeram Beethoven mais tarde chamá-lo de pai da Harmonia. Uma obra madura para ser apreciada em qualquer momento histórico.

Provavelmente, nenhum músico contribuiu tanto quando o assunto foi transmitir as Leis da Vida através da música como Bach. Suas composições parecem confirmar a ideia de que a Beleza está na Ordem, uma imagem do princípio arquetípico da criação. Esta premissa é uma lei presente em tudo que há, só nos basta ter ouvidos para ouvir e olhos para ver.

As polifônicas, melodias simultâneas que são harmonicamente ajustadas para nos fazer ouvir uma única canção, técnica muito usada na Alta Idade Média, nos lembra o quanto tudo que existe tem sua singularidade, mas que faz parte de um todo único que é a própria Vida. Assim como cada célula, cumprindo seu papel, contribui para o bom funcionamento do corpo; assim como cada Ser Humano, dando o seu melhor, constrói uma Humanidade mais Justa e Harmoniosa; assim é cada voz das músicas polifônicas de Bach, que em sua justa medida, guiadas pelo mestre, faz surgir uma bela canção.

Exemplo de polifonia:

“Em Bach, todas as células vitais da música estão unidas como o mundo está em Deus; nunca houve polifonia maior que essa!”.  Mahler

No fim de sua vida, Bach se interessou muito pela simetria musical, que consiste em uma possibilidade da música se transformar e, ao mesmo tempo, se manter a mesma.  Muitos costumam chamar as peças de Bach de uma espécie de palíndromo musical, lembrando que palíndromo é quando uma palavra ou uma frase diz a mesma coisa independente da ordem que se lê, da esquerda para a direita ou vice-versa, como o substantivo “asa”, ou o pronome “esse”. 

 Essa mesma simetria é percebida em muitas das músicas de Bach, semelhantes às estruturas simétricas que se encontram em diversos lugares na natureza, como no DNA, nas asas de uma borboleta ou no girassol. 

Pitágoras, um grande sábio, filósofo e matemático, nos deixou como legado a ideia de que todas as Leis da Vida, desde a Lei da Gravidade até a Virtude da Beleza, podem ser expressas em números. Desta forma, sistematizou as escalas musicais através do seu aprofundamento em matemática e da sua visão profunda da Beleza presente na própria Vida. Bach se mostra um grande herdeiro desta tradição. Sua busca por Beleza através das leis matemáticas e através das Leis da Vida nos faz entender com a mente aquilo que o nosso coração já compreendeu quando ouvimos suas belas composições. Bach, por sua vez, se utilizou desses conhecimentos para construir as melodias mais harmônicas e sinfonias que seu tempo presenciou. Sua tentativa era, como já apontamos, refletir a natureza divina na música para que, assim, fosse possível acessar Deus por meio dos sons. Essa Harmonia da Vida, que pode ser refletida em diferentes aspectos, demonstra a profundidade da música de Bach, que é a sua própria profundidade em relação à Vida e aos seus mistérios. Para apreciá-la, podemos tentar encontrar esses elementos quando nossos ouvidos forem tocados por suas músicas.

Para começar a apreciar sua obra, vai abaixo uma sugestão de roteiro:

  1. Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach. Você pode encontrá-lo no link abaixo:
  1. O Cravo Bem Temperado:
  1. As Suítes para Violoncelo:
  1. Variações Goldberg:
  1. A Arte da Fuga:

Essa Ordem expressa na obra de Bach nos lembra que devemos buscá-la em nossa existência. Ouvi-lo é uma forma de buscar essa Harmonia dentro de nós. Ainda destacamos que todas essas obras devem ser apreciadas ao longo do tempo e de nada adiantaria escutarmos tudo “de uma vez”. A verdadeira beleza nasce da apreciação harmônica, com constância e profundidade. Por isso, recomendamos fortemente que você, caro leitor, se deleite com essas obras escutando uma por vez, saboreando as notas e melodias que esse gênio da música criou com tanto empenho. 

Desse modo, podemos compreender que buscar maior profundidade na harmonia da música de Bach é um jeito de buscar a ordenação dos nossos pensamentos, das nossas emoções. Nesse aspecto, a música age como uma fonte externa que ensina a nós sobre todas essas virtudes. Além disso, ensina também que, se assim quisermos, poderemos entrar em sua divina frequência. Vale lembrar que tais aspectos agradam nosso espírito, uma vez que é próprio da  nossa Alma gostar da Ordem, da Harmonia e da Beleza, pois esse é o seu lugar de origem. Basta perceber como pensamos melhor quando estamos em um ambiente limpo, bem organizado e belo. 

Considerando essas premissas, devemos buscar implementar esses elementos em nossa Vida o tempo todo, desde nossas ações até o mais íntimo pensamento. Um bom caminho é refinar o ouvido e aprender a saborear obras tão bem ordenadas como essa de Bach, pois assim vamos educando nossa alma a cada vez mais vibrar com a beleza. Infelizmente, nos dias atuais, falar sobre tais aspectos pode causar desconforto em quem, por uma questão cultural, não tenha “paciência” em apreciar os arranjos e sinfonias de Bach, preferindo estilos mais simples e repetitivos. Cada tipo de música possui o seu valor, mas ao retratarmos os elementos aqui apresentados é inegável perceber a diferença dos gêneros e o que eles nos estimulam. 

Assim, parte de nossa educação musical também está ligada a compreender como somos afetados pelo que apreciamos. Nesse sentido, se queremos cada vez mais buscar a Harmonia, devemos procurar músicas e obras que reflitam essa ideia .Se assim o fizermos, poderemos compreender não apenas as nuances técnicas de cada estilo, mas também conhecer a nós mesmos através da arte. Eis a nossa tarefa, afinal, o grande propósito humano é conhecer a si mesmo, pois assim poderemos conhecer os mistérios divinos e a própria natureza. Que a harmonia de Bach cumpra o seu divino papel e se faça presente em nossa alma.

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