Bem-vindos a mais uma série do nosso portal Feedobem! Aqui você encontrará textos sobre um tema tão relevante em nossas vidas: as celebrações de Ano Novo! Sim, por mais que estejamos acostumados ao nosso tipo de festividade, com fogos, comemoração e muita alegria, o Ano Novo é celebrado em todas as culturas com tradições tão diferentes que podem nos assustar, mas que carregam um belo simbolismo.
Nosso objetivo, portanto, é apresentar a você, meu caro leitor, algumas tradições de Ano Novo que existem ao redor do mundo para que possamos ampliar nossa perspectiva sobre as ideias por trás desse belo momento da natureza e que marca o começo de um novo ciclo em nossas vidas.
Antes de começar a entendermos um pouco sobre como a comunidade judaica celebra o Ano Novo – que é o tema desse texto da série –, recomendamos fortemente, para aqueles que ainda não conhecem nossa série, que leiam o nosso texto de introdução, pois nele aprofundamos os nossos objetivos, o significado do Ano Novo e apontamos ideias gerais que são fundamentais para entendermos nosso ponto de vista e finalidade desses textos.
Dito isso, vamos agora mergulhar no Rosh Hashaná, o ano novo judaico!
Rosh Hashaná: uma celebração que evoca o perdão
O que vem à mente quando pensamos no Ano Novo? Em geral pensamos em festas, em música e um momento de recomeço, correto? Essa forma expansiva é própria da nossa cultura, mas nem sempre o Ano Novo é celebrado deste modo, apesar de ter como símbolo universal a renovação.
Um bom exemplo disso é o Rosh Hashaná, comumente conhecido como o Ano Novo judaico. Ele, assim como em outras culturas, não ocorre em Janeiro, como tradicionalmente se convencionou pelo calendário gregoriano, mas sim entre setembro e outubro. Isso ocorre porque no calendário judaico, que é baseado na Lua, existe uma variação de dias que acaba fazendo que essa data mude todos os anos.
Além dessa diferença na data de celebração, o Rosh Hashaná tem como principal símbolo a ideia da criação do mundo, sendo assim celebrado também a criação da humanidade a partir de Adão e Eva. Celebra-se, portanto, não somente mais um novo ciclo que se inicia, mas também o grande ponto de partida de toda a humanidade. Nesse sentido, para os judeus é fundamental que no Rosh Hashaná se reflita sobre os pecados do mundo e os próprios, pedindo perdão e uma nova oportunidade – por isso, um novo ano – para redimir-se dos seus erros.

Frente a esse poderoso símbolo, podemos perceber que o Rosh Hashaná não é uma celebração externa, chamemos assim, mas sim um momento de profunda introspecção individual e coletiva, levando à reflexão e ao compromisso de tornar-se um ser humano melhor. Apesar de não ter características tão vibrantes como a nossa cultura sugere que façamos, essa celebração marca um ponto importante de renovação para a comunidade judaica, fazendo com que mágoas ou ressentimentos gerados entre familiares e pessoas sejam perdoados e esquecidos, assim uma nova oportunidade surge nas relações sociais e na convivência mais íntima entre as pessoas.
Essa reconciliação universal, passando por Deus (quando se pede perdão pelos pecados) e pelo mundo (quando se pede perdão ao próximo), nos fala muito mais do que apenas uma tradição de um povo, mas nos ensina o valor de aprender a deixar as mágoas de lado e seguir evoluindo a cada novo ciclo. Renovar-se, afinal, é livrar-se do velho, do que se está gasto, e colocar uma nova roupagem, uma nova vida em marcha. Para os judeus – e podemos estender esse conceito a toda humanidade –, não há como renovar sem perdoar. Quando perdoamos, seja a nós mesmos ou a quem nos fez mal, abrimos mão de toda mágoa e rancor que estávamos guardando. Esse é o primeiro passo para um recomeço, uma nova chance de melhorar nossas relações.
No Rosh Hashaná também ocorre momentos de extremo valor para a comunidade judaica. Um deles é o tradicional toque do Shofar, um instrumento feito a partir dos cornos de carneiro e que é tocado em todas as sinagogas. O toque do Shofar marca o começo desse período de introspecção e arrependimento, em que todos os judeus devem refletir sobre os seus pecados no último ano e pedirem perdão a Deus. Junto a isso, as refeições nesta celebração são específicas como maçã com mel, romã, peixe e carneiro.

O valor do silêncio em meio a euforia
Visto todos esses símbolos e ideias acerca do perdão, introspecção e renovação, podemos fazer um paralelo rápido com a nossa cultura de Ano Novo. Chama atenção, de fato, a diferença entre as duas celebrações, uma vez que comemoramos o Ano Novo com alegria e muita festa. Porém, é válido pensarmos: será que o Ano Novo será realmente novo se fizermos apenas festas e soltarmos fogos?
O grande ponto de acréscimo do Rosh Hashaná está em nos fazer olhar para dentro de nós e perceber o que precisamos deixar continuar nesse novo ano e o que é necessário apagar de nossas vidas. Assim como renovamos nossas roupas e separamos as boas das ruins, deveríamos aprender com a comunidade judaica e ter um momento de interiorização, de refletir sobre o que realmente precisamos abandonar para começarmos um novo ciclo com mais entusiasmo. Não falamos aqui do entusiasmo como uma forma de alegria apenas, mas sim em seu sentido original, que significa “em Theos”, ou seja, em Deus.

Que essa força divina possa estar dentro de nós e renovar a nossa alma. Com isso, seremos capazes de olhar cada novo ciclo como uma renovação, sabendo separar o que devemos deixar no passado e o que pretendemos plantar para o nosso futuro. Para alcançar esse momento, é necessário o silêncio interno, a capacidade de silenciar para escutar nosso próprio coração. Não podemos fazer isso em meio aos fogos – e nem sugerimos que cada um de nós deixe suas celebrações de lado –, pois é necessário encontrar um momento para refletir e pensar sobre como podemos fazer nosso Ano Novo ser, de fato, melhor. Esse é o grande símbolo do Rosh Hashaná que podemos absorver em nossas vidas particulares.