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Por que Ética é Mais Importante que Religião

 

O que vem primeiro, Ética ou Religião? O livro escrito por Franz Alt, “Por que Ética é mais importante que Religião”, é um compilado de conversas e entrevistas que o autor promoveu com o atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, e lá nos dá dicas importantes de como responder a essa questão.

 

Tenzin Gyatso é o 14º Dalai Lama, Santidade maior do Budismo Tibetano, que hoje vive em exílio na cidade de Dharamsala, no norte da Índia, após a invasão chinesa no Tibet, nos anos cinquenta do século passado. De acordo com suas práticas pacifistas de resolução de conflitos sem violência, muitos tibetanos, em especial os monges, foram forçados a deixar o país em direção ao sul, e os que ainda vivem lá, se vêem obrigados a obedecer às duras regras impostas pela ditadura de Pequim.

A título de curiosidade, a escolha de um novo Dalai Lama só acontece quando seu precedente morre, já que o processo todo depende principalmente do ciclo de reencarnações. Quando os lamas – sábios – mais experientes do Tibet identificam, através de premonições e buscas entre as mais diversas fontes espirituais, crianças com sinais de que trariam a alma do último Dalai, eles lhes oferecem um misto de objetos do antigo mestre, dentre alguns outros artefatos sem valor. Somente a criança predestinada seria capaz de escolher precisamente o que pertencia à última Santidade, assumindo sua ligação com aquela Vida anterior.

 

As tradições espiritualistas mais ao Oriente costumam refletir que as formas religiosas, como as conhecemos hoje, são consequências históricas de Religiões Originais, ou Religiões Puras. Diz-se, por exemplo, que as palavras que Cristo ou Buda trouxeram são Puras o suficiente para salvar toda a Humanidade de suas mazelas e nos conduzir de volta ao sentido original de nossa existência. Durante séculos e séculos, no entanto, as religiões se transformaram e se moldaram de acordo com seus líderes e praticantes que, imperfeitos diante da mensagem que carregavam, distorceram sua compreensão. Os que lhes seguiram, provocaram mais mudanças sobre o que já se deteriorava e não correspondia mais à Verdade dos mestres, tornando, em muitos casos, a religião num “remendo” de Fé.

 

Alt conversa com sua Santidade sobre política, ciência e, é claro, religião e ética. Como líder espiritual, seria mais do que natural esperar que o Dalai Lama defendesse sua vocação acima de outras, no entanto, pondo-se nos pés de um defensor das Religiões Puras, ele nos traz um ponto de vista bastante curioso, e engrandecedor. Tanto a Religião, como a Ética sofreram intensos abusos ao longo dos últimos dois mil anos, apesar disso, todo Ser Humano traz dentro de si as sementes da Paz. Porém, elas nunca brotarão externamente, antes de brotar no nosso interior.

 

A religião deveria ser nossa ligação com Deus, com uma partícula Divina, ou com uma Entidade Maior por trás dos Mistérios do Universo, e não com aqueles que se colocam como seus intermediários. Deveria ser uma Religação aliás, já que essa é a origem mais aceita para a palavra. A religião precisa ser uma forma de tornar coerentes nossas Vidas em relação aos ensinamentos dos grandes Mestres Espirituais, não importa qual seja a crença. É transformar as peças de um quebra cabeça numa imagem que faça sentido.

 

Ética, segundo os principais pensadores clássicos, anteriores, inclusive, a diversos profetas e mestres religiosos, é o resultado do equilíbrio entre o que pensamos, sentimos e a forma como agimos. É também uma espécie de ligação com nós mesmos, é uma conduta que nos orienta a agir de acordo com os princípios que acreditamos. Parece óbvio, mas grande parte de nossas ações não se parecem em nada com o que acreditamos. Por exemplo, quando pensamos no ensinamento de Cristo, que dizia para “amar ao próximo como a si mesmo”, nós nos inspiramos e concordamos com a mensagem. Porém, quando lembramos que as pessoas que nos feriram, aqueles que nos enganaram e até mesmo aquele político que detestamos estão incluídas nessa lógica, nossa coerência se quebra e não conseguimos unir o ensinamento com a prática.

 

Existem no mundo mais de sete bilhões de pessoas, e infelizmente, muitas delas abraçam rapidamente uma religião, antes de se tornarem verdadeiramente éticas, o que aumenta ainda mais o desvio entre a mensagem dos grandes mestres, e o que chega aos nossos ouvidos. Em quase todas as situações onde se encontra o fundamentalismo religioso, se encontra também a guerra. A violência não vem da religião em si, mas das pessoas confusas que carregam bandeiras incoerentes, que não representam o que deveriam. Quando um grupo comete algum tipo de atentado contra símbolos de outra cultura, não é sua fé que ataca ou que é atingida, mas, seu orgulho nacional, ou pessoal. Assim como torcidas de futebol cometem atrocidades umas contra as outras após um resultado indesejado numa partida, infelizmente vemos o mesmo padrão se repetindo nos âmbitos religiosos, que deveriam ser muito mais elevados, voltados ao Cerimonial e ao Sagrado. E isso se repete há muitos séculos.

 

Os Mestres das Religiões Puras já não estão mais, em carne e osso, entre nós, mas não deixaram sua mensagem apenas em papel. Na verdade, esta mensagem está gravada na própria Natureza, especialmente na Natureza Humana. Lá encontramos tudo o que precisamos saber para fazer o Bem, para unirmos uns aos outros, e para contribuir com um legado de Pureza e Harmonia. E como é que conquistamos esta Pureza? Devemos adicionar mais elementos puros à equação? Claro que não. Este estado é alcançado quando eliminamos tudo aquilo que é excesso, que é sujeira, até que sobre somente a coisa como ela realmente é. Dentro desta lógica, devemos remover das mensagens originais dos Mestre fundadores das religiões todo tipo de manipulação criada por conveniência, toda camada de interpretação pessoal e também todos os véus que ocultam o verdadeiro sentido das Religiões Puras.

É como numa brincadeira infantil de telefone sem fio, onde nos divertimos transmitindo uma mensagem de um por um entre nossos colegas. Dessa mesma forma a mensagem original dos grandes Mestres passou por vários interlocutores até chegar aos nossos ouvidos, nos dias de hoje. Já não faz mais sentido procurar culpados, pois se muitas vezes a manipulação foi intencional, quantas outras vezes os ensinamentos não foram transmitidos erroneamente por ignorância daqueles que não eram capazes de compreender?

 

Gandhi, o líder pacifista que guiou a Índia em seu caminho de libertação e independência, dizia que se queremos mudar o mundo, devemos primeiro mudar a nós mesmos, depois nossa casa, nossa rua, e assim por diante. O processo de mudança não é somente intelectual, mas também Moral, e exige nossa participação prática, e não apenas teórica. 

 

Se a Ética nasce de uma coerência interna entre nossos Princípios e a nossa ação, não é possível viver a verdadeira religião, sem antes sermos éticos. Então, devemos resgatar as palavras que foram ditas no começo, refletir sobre o que escutamos com nossos ouvidos externos e compará-las com a voz que fala em nossos corações. E uma vez que elas se tornem claras e coerentes em nossas mentes, devemos mover as emoções e o corpo para vivê-las profundamente, e testemunhar Grandes Transformações. 

 

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