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Livro “A Revolução dos Bichos”

Um dos mais intrigantes livros já escritos sobre tirania, A Revolução dos Bichos, de Eric Arthur Blair, pseudônimo George Orwell, marca, de 1945 até hoje, as principais ebulições políticas desta civilização ocidental.

Considerada uma das críticas mais sofisticadas e profundas sobre a tirania no contexto da União Soviética, o livro, de autoria de um socialista convicto que chegou a lutar como voluntário na Guerra Civil Espanhola, intriga tanto a direita quanto a esquerda. Esta obra tem a estrutura de uma fábula, mas soa como uma sátira política; Parece situar-se em uma cosmovisão do passado, mas encaixa-se perfeitamente na reflexão sobre as tiranias do presente.

As I e II Guerras Mundiais suscitaram uma explosão de reflexões profundas no terreno da literatura sobre a natureza humana, as relações de poder, os sistemas de governo e o futuro da humanidade. Similar ao que se vê nas obras de Hannah Arendt, Adous Huxley, entre outros.

George Orwell

É nesse contexto, quando os círculos intelectuais da Europa apreciavam “La Vie en Rose” na voz de Édith Piaf, e liam “A Condição Humana” e “Admirável Mundo Novo”, que a fábula de Orwel começou a ganhar expressão.

O enredo é simples, parece uma história infantil: os animais da Granja do Solar rebelam-se contra seus donos e tomam a fazenda, embalados pelo lema de que os animais de quatro pés são melhores que os humanos de dois. Mas a cúpula de animais que se torna dirigente dos outros animais, no caso, os porcos, começam a se tornar tão tiranos quanto eram os humanos destituídos. Dessa forma, se instala furtivamente uma nova opressão com desaparecidos políticos, torturas e silêncios forçados dos animais dissidentes.

Orwell encontrou um jeito leve de falar de algo doloroso e controverso que foi a tomada do poder na Rússia em 1917, quando os trabalhadores mergulharam fundo em uma luta inexorável contra a ordem política vigente do czarismo (sistema político monárquico que imperava na Rússia desde 1547), deixando um rastro de sangue, lágrimas, dores e muitos cadáveres. Naquela Revolução Comunista, a classe dos trabalhadores conseguiu tomar o poder do czar e assumir o governo. Os primeiros dias foram um sonho, mas logo vieram “os porcos”, ou os dirigentes. Eles eram da mesma espécie, inicialmente da mesma classe, mas se tornaram opressores cruéis, e todos acabaram caindo em uma tirania ainda pior que o antigo regime, que submetia os governados a prisões inexplicáveis, castigos cruéis, a exemplo do que foi imortalizado no livro Arquipélago Gulag, de Alexander Soljenítsin.

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”

A Revolução dos Bichos, embora tenha a União Soviética de Stálin como pano de fundo, não se prende apenas àquele contexto, não se trata de um ensaio sobre um fato histórico, é mais que isso, é uma reflexão filosófica Universal, é um livro sobre a humanidade. Orwell constrói uma reflexão sobre tirania em qualquer contexto, seja de direita, seja de esquerda, em qualquer momento histórico e em qualquer lugar do planeta, entre homens e homens ou entre homens e bichos. Nas entrelinhas, é possível enxergar um nó de reflexões para todos os lados: a ilusão da luta de classes; O misterioso binômio igualdade e liberdade. É possível um Estado onde todos sejam iguais e livres?; Uma reflexão profunda sobre ética e poder. É possível um tipo de governante que não se corrompa? Ou somos essencialmente condenados à embriaguez do poder?

No fim da obra, Orwell sugere uma grande reconciliação entre os humanos e os bichos, e dos bichos entre si. Assim, toda a reflexão trazida pelo livro sobre a Humanidade acaba desaguando em um sonho de unificação de toda a espécie humana em torno de um centro. Nesta linha de pensamento, encontramos um excelente exemplo numa obra de mais de 2.400 anos, “A República” de Platão, que é considerada um alicerce da civilização ocidental. Ao idealizar uma sociedade perfeitamente justa, a partir de uma forma de governo em que os mais sábios e justos dos homens governam e todos os outros são governados, Platão ensina que essa sociedade se degenera quando os governantes não são mais aqueles movidos pelo dever e pela virtude, mas sim aqueles mais honrados, os que possuem muitos títulos e reconhecimento público. Na sequência, existem ainda mais três níveis de degeneração: quando a sociedade é governada pelos mais ricos, visando seus próprios interesses; quando a sociedade é governada pela maioria, porém sendo manipulada por ricos inescrupulosos; E por fim, o mais baixo nível de decadência social, a tirania, acontece quando a sociedade é governada pelos piores homem, por pessoas cruéis, vulgares e violentas. E é sobre essa forma de governo que o livro se debruça.

A reconciliação de toda a espécie sonhada em “A Revolução dos Bichos”, de Orwell, só será possível se houver uma reforma de toda a Humanidade. E isso tem que começar por dentro, a partir do despertar de ideias profundas. Não adianta mudar de governante ou mudar as leis. Só mudaremos o mundo quando mudarmos o nosso jeito de pensar. E, por uma questão de coerência, não podemos esperar que ninguém mude, se nós mesmos não começarmos essa mudança. Então… Que tal iniciar agora essa “revolução” interior?

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