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Podemos criar o Amor?

O Dia dos Namorados está batendo na nossa porta. Aproveitando essa ocasião, achamos interessante refletir sobre a temática a partir do curta-metragem “Invention of Love”. Essa não é uma grande oportunidade só para os enamorados, mas para todos nós que reconhecemos a importância dos sentimentos para além de nossa condição racional. O curta por hora apresentado é simplesmente lindo, profundo e de uma sensibilidade incrível. Os produtores conseguiram falar sobre os perigos da mecanicidade atrelados, principalmente, aos nossos sentimentos, sem ser chato, ideológico ou dogmático.

O drama abordado como tema central trata-se da reflexão sobre a possibilidade de criarmos ou inventarmos o Amor. Questão muito relevante para todos nós que vivemos num mundo cada vez mais construído por relações superficiais, em um mundo onde a racionalidade é cultuada como um dos valores culturais mais importantes, em detrimento dos sentimentos. E é nesse contexto que as relações humanas passam a perder sua força, desde as relações mais íntimas até os vínculos sociais mais amplos.

“Invention of Love” não foi só escrito, como também foi dirigido por Andrey Shushkov. É um filme que tem uma linda trilha sonora assinada por Polina Sizova, Anton Melnikov e que dá o tom triste e sutil que o enredo precisa como pano de fundo. Toda a animação é narrada com efeitos contraluz, o que traz sombras necessárias para criar o efeito melancólico e romântico que a produção quer mostrar. Em resumo, o curta trata sobre a história do encontro de dois jovens que se apaixonam e se casam. Ela, uma garota do campo, é ligada às coisas e Belezas da Natureza. Ele, um jovem oriundo de uma cidade futurista com aspectos retrô, que mesmo com personalidades tão opostas, decidem ficar juntos e vão morar na cidade futurista.

Ao se estabelecerem na cidade, logo a garota percebe que tudo o que se encontrava ao seu redor era um mundo construído por engrenagens de ferro, parafusos e outros mecanismos. Certo dia, ao sair de casa para dar uma volta na praça da cidade, ela percebe que tudo o que existia era fruto de uma artificialidade ou produto da mecanicidade, inclusive, os animais, as árvores, as pessoas e as relações que se estabeleciam entre si.

 Naquele mundo mecânico, sem cores e sem vida tudo era fadado a se mecanizar ou morrer e, desesperada pela constatação, a garota corre para casa para tentar salvar a sua rosa daquele destino inevitável. Vale ressaltar, que assim como ela, a rosa que trouxe consigo era a única coisa natural e que lembrava de seu antigo mundo. Porém, ao chegar a sua casa, percebe que a sua rosa morreu gradativamente e foi substituída por uma rosa mecânica construída por seu amado. Triste pelo trágico fim de sua rosa, a garota começa a desaparecer e a morrer da mesma forma que a sua flor. Entretanto, o jovem ao perceber o destino de sua amada passa a tentar reproduzi-la através de suas engrenagens e ferros na tentativa de aplacar a dor da perda.

Com uma metáfora profunda e sensível, o drama toca em pontos e dilemas cruciais de nossa sociedade contemporânea. Um deles, por exemplo, é o fato de vivermos condicionados por esquemas, métodos e perfeccionismos na tentativa de garantir um controle total das coisas e da vida. O curta vai descortinando a cada cena o nosso medo da finitude, o nosso esvaziar de sentimentos e a mecanização de nossas relações mais íntimas. O drama trata essas questões com um misto de tristeza e doçura, através de uma linguagem polida e diplomática, não cansando o telespectador com ideias já amplamente discutidas e pouco compreendidas.

Dentre as várias interpretações que podem ser feitas a partir desse filme, destaca-se a importância da mente e das emoções estarem harmonizadas dentro do Indivíduo. Quando esses dois campos estão em sincronia, é possível produzir pensamentos e emoções saudáveis capazes de expressar o que há de melhor em cada pessoa. Há um ditado que diz que compreendemos o mundo e as coisas que nele existem com a razão, mas, é através dos sentimentos que nos integramos e fazemos parte desse mundo. Por isso, estar e situar-se no mundo exige de nós mais do que a capacidade de raciocínio, necessita sentir e se integrar a cada coisa com um sentimento de Unidade.

Pois, uma pessoa que vive condicionada apenas por uma mentalidade racional e mecânica, assim como o personagem do curta, acaba por negligenciar os ciclos naturais da vida e das coisas permanentes e impermanentes que nos rodeiam. Infelizmente, vivemos em uma sociedade que está cercada por métodos e esquemas mentais que rompem bruscamente com as coisas mais simples da vida, desnaturalizando a possibilidade de nos relacionarmos com a essência das pessoas. Dessa forma passamos a ficar presos a formas e acabamos por valorizar mais a aparência do que a essência e, por fim, acabamos por objetificar não só as nossas relações, mas a nós mesmos.

E qual seria o caminho para não nos perdermos em nossos esquemas mentais e suas formas mecânicas? Educar a nossa mente e as nossas emoções, ordenar e dar a dimensão mental o espaço que lhe cabe assim como com os nossos sentimentos. Precisamos aprender a pensar e a construir pensamentos positivos, assim como é vital aprendermos a desenvolver sentimentos sinceros e profundos para compreender a Vida na sua inteireza. E assim, naturalmente, passamos a compreender a Beleza por trás de cada coisa que nos cerca. É o que os gregos diziam sobre a importância da coerência no pensar, no sentir e no agir para a condição da existência Humana. Ah! Se é possível inventar o Amor? Acreditamos que o Amor não se cria, não se inventa e não se explica, apenas, se sente com a mais profunda consciência de si, do outro e de cada coisa que nos cerca.

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