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Cupid Love is Blind: a cegueira do narcisismo

Você já se apaixonou? Sentiu seu peito quase saltar pela boca ao encontrar a pessoa pela qual está perdidamente apaixonado? Esse tipo de relação muitas vezes é confundida com o amor, porém, vamos deixar claro que trata-se de sentimentos distintos. A paixão nos atinge de forma abrupta, nos tira o fôlego e, muitas vezes, o sono. Nosso centro e sentido de vida passam momentaneamente a ser a pessoa pela qual nos apaixonamos, e isso, mesmo parecendo ser uma sensação muito boa, pode nos levar a terríveis erros.

Se você já se sentiu dessa maneira, recomendamos que veja o que o curta-metragem Cupid Love is Blind (Amor Cupido é Cego, em tradução livre) está falando. Produzido por alunos de uma escola francesa de artes em 2013, a animação que rapidamente se tornou um sucesso em todo o mundo traz de forma bem divertida uma reflexão sobre o Amor e o narcisismo, fazendo uso das mitologias romana e grega. 

No curta Cupid Love is Blind, um jovem cupido desajeitado se distrai olhando para uma borboleta e acaba atirando duas flechas, por equívoco, em um rapaz, de modo que o jovem se apaixona intensamente por si mesmo. A partir de então, ele não olha mais para ninguém senão para si mesmo. Nas imagens refletidas na vitrine, em qualquer pedaço de espelho que encontre pelo caminho, ele passa a cultuar sua própria imagem. E isso é gradativo, quanto mais se vê, mais se ama. Essa paixão por si mesmo chega ao ponto de entorpecê-lo, levando-o a perder a noção da realidade, até que ele sobe em uma abóbada de uma construção muito alta e se prepara para saltar lá de cima, achando que estaria mergulhando em sua própria subjetividade.

O que acontece quando ficamos desatentos e perdemos o foco? Quais as consequências de canalizarmos a força do Amor só para nós mesmos? O que pode nos acontecer se formos guiados apenas pelas paixões? Essas e outras perguntas podem ser extraídas do curta.

Primeiramente, deixamos claro um ponto: não estamos indo contra nos apaixonamos. A bem da verdade, a experiência de se apaixonar por alguém é única e quando nos acontece, tendemos a achar que é exclusivamente nossa, que ninguém nunca passou por algo igual, que é individual e irrepetível. Mas basta um olhar para a literatura e para a mitologia que veremos que estão repletas de histórias e mitos envolvendo o fenômeno humano da paixão: a destruição de Troia, por exemplo, é o resultado de uma paixão proibida entre o príncipe Páris e a rainha Helena, esposa do lendário rei Menelau; Romeu e Julieta, de Shakespeare, é uma história de dois adolescentes que se apaixonam intensamente, no entanto, o Amor termina em tragédia, pois tanto Julieta quanto Romeu acabam tomando veneno, por agirem de forma precipitada e passional, quando pensam que haviam perdido um ao outro; Tristão e Isolda, uma das mais famosas histórias de cavalaria, também nos apresenta um cavaleiro que descumpre seu código para viver a paixão por uma rainha.

Como podemos perceber, apaixonar-se é algo muito antigo na história humana e, de tanto acontecer, as civilizações foram aprofundando as reflexões sobre isso, foram fazendo descobertas e traduzindo-as em mitos e símbolos, os quais hoje servem de guias para entendermos e lidarmos com o fenômeno. 

Dos romanos, por exemplo, herdamos o mito do Cupido, o Deus do Amor, representado na figura de um jovem arqueiro com asas, cujas flechas, ao nos atingirem, imediatamente nos levam a um estado de paixão. Já dos gregos, temos o mito de Narciso, um jovem que se apaixona pela sua própria imagem refletida nas águas, ao ponto de perder a noção da realidade e mergulhar no rio até afogar-se em busca desse reflexo de si mesmo, inclusive a palavra narcóticos, que hoje é tão utilizada pela nossa civilização, tem uma raiz neste mito, já que essa paixão por si próprio é entorpecedora, assim como são as drogas. O que podemos aprender com isso?

Essa paixão, que confundimos com o verdadeiro amor, tem um caráter extremamente egoísta e quando canalizado apenas para si, pode nos ser um verdadeiro veneno. Deixamos de pensar em como podemos ajudar o outro e passamos a desejar as emoções que o outro nos causa. Enquanto o verdadeiro amor nos apresenta a face da doação e sacrifício incondicional, a paixão nos queima por dentro por sentirmos que o outro deve estar ao nosso serviço, a nos fazer sentir bem e realizar os nossos desejos. Esse tipo de relação é, infelizmente, comum nos dias atuais e se mostra cada vez mais perigosa, uma vez que, se levada às últimas consequências, acaba por machucar a pessoa “amada”.

Longe de ser uma inocente animação para divertir crianças, o curta Cupid Love is Blind nos convida a uma outra reflexão profunda sobre as consequências do narcisismo, que é esse culto a nós mesmos, algo que tanto reforçamos hoje em nossa sociedade. O outro Ser Humano é visto como um estorvo, como um pano de fundo fosco, enquanto que o meu “eu” é sempre o destaque, o centro de tudo. Isso é muito perigoso, pois nos deixa alienados, nos faz viver numa realidade paralela. A tendência, por fim, é a autodestruição.

Interessante perceber que tudo isso começa com um momento de desatenção por parte do cupido. Isso quer dizer que quando não estamos atentos à Vida, corremos o risco de cair no abismo do narcisismo. É preciso estarmos sempre conscientes das tendências que existem em nós, dos desvios, dos instintos e dos impulsos que tendem a governar o nosso comportamento o tempo todo. 

A nossa civilização precisa encontrar outro jeito de existir, que a desloque desse narcisismo entorpecedor e a conduza ao interesse pelo Ser Humano. É preciso aprender a amar as pessoas, visualizar a riqueza e a profundidade da Alma Humana no outro, e com isso se entender como uma parte da Unidade. Se há Beleza em mim é porque eu sou um participante de um grande ser muito Belo chamado Humanidade.

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