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Curta “Glued”: O Vício nas Telas

Vivemos em uma era digital. Por mais que sintamos nostalgia das décadas finais dos anos 1980 ou 1990, é indiscutível o valor agregado aos meios digitais em nossa sociedade atual. Agora mesmo, caro leitor, você está acessando esse texto por um dispositivo eletrônico. E eu, que nesse momento estou escrevendo o texto, o faço por meio de um computador. O mundo se tornou digital, e essa “nova era” está conosco desde a hora que acordamos até quando vamos deitar, o que nos ajuda a tornar a vida mais dinâmica, produtiva e rápida. É inegável que a tecnologia nos proporcionou grandes benefícios, capazes não somente de melhorar nosso dia a dia, mas também de nos ajudar a buscar respostas no Universo. E o melhor disso tudo é que podemos conhecer essas novidades de forma prática, pois está na palma de nossas mãos. Ter conhecimento nunca foi tão fácil na história humana. Entretanto, existe um velho ditado popular que diz: “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Será que sabemos utilizar os benefícios dessa tecnologia, ou criamos correntes que nos prendem cada vez mais em um mundo virtual?

O curta “Glued”, ou “Colado”, numa tradução livre, busca apresentar exatamente essa questão. A história mostra uma mãe que se preocupa com o fato do seu filho não interagir com outras crianças e sua única forma de entretenimento ser os jogos digitais. A mãe busca apresentar ao filho uma outra realidade, com brinquedos reais, mas o filho não responde a nenhum estímulo que a mãe tenta provocar. Na verdade, se acentua ainda mais a necessidade do meio eletrônico, que a cada vez que lhe é retirado, surge em um novo formato. Isso leva a mãe a tomar medidas drásticas, destruindo todos os aparelhos eletrônicos da casa. Essa atitude, exagerada muitas vezes, é uma tentativa de libertar o filho daquela realidade virtual à qual ele está “colado”.

Se quiser entender melhor essa história, é só assistir ao vídeo desse curta-metragem logo abaixo:

Apesar de ter sido lançado em 2012, a história apresentada em Glued é cada vez mais atual. O excesso de exposição aos meios digitais (e isso inclui videogames, computadores, celulares e tablets) causa danos à nossa saúde física e mental. É lugar comum comentar os prejuízos psicológicos que essa superexposição pode causar em nós, mas aqui se apresenta um fator agravante, que é a idade. Para crianças e adolescentes, inseridos desde o nascimento neste mundo digital, essa forma de vida e interação é praticamente a única conhecida. O mundo digital, durante a fase de formação social da criança, pode ser extremamente nocivo, pois afasta a criança da realidade e do convívio com os colegas, o que é extremamente necessário para o desenvolvimento de habilidades sociais. Nos casos mais graves, esse excesso de uso de meios digitais pode causar problemas psicológicos severos como depressão. 

Mais agravante que isso é o fato de que o mundo virtual – principalmente com as novas tendências –, a imersão na chamada “realidade virtual”, faz com que os jovens, e adultos, escolham viver nesse mundo ilusório, afinal, nele podemos escolher tudo que fazemos, diferente do mundo real, em que estamos limitados por uma série de questões, sejam elas sociais, econômicas ou da nossa própria personalidade. Nesse sentido, a atratividade do mundo virtual, em que podemos desenhar uma realidade em que nosso avatar é “perfeito”, faz com que se deseje viver nessa fantasia e não na vida real. Cada vez mais observamos jovens que crescem inseridos nessa dinâmica e se afastam do convívio social. Assim, as telas se tornam verdadeiras prisões em que os prisioneiros não percebem que estão condenados a viver nessa falsa liberdade.

Além disso, ficar horas em frente a uma tela pode causar problemas de saúde na visão, assim como ficar horas com fones de ouvido pode diminuir nossa capacidade auditiva. Um outro problema físico comum é a lesão por esforço repetitivo, tanto nas mãos (no caso de quem digita ou joga demais), como no pescoço, por se manter muitas horas na mesma posição. Esses efeitos, que para alguns aparentam ser pequenos, podem causar problemas graves se pensarmos que a nossa tendência é ficar cada vez mais tempo na frente das telas. Talvez para a geração dos anos 1970 ou 1980 esses sintomas não sejam tão graves, pois não fomos criados com tanta exposição, e ainda hoje, mesmo que passemos um bom tempo com nossos celulares e outros meios eletrônicos, nosso ritmo de vida nos torna mais dinâmicos. Porém, se pensarmos nas gerações mais jovens já é visível o impacto desses problemas em suas vidas. A longo prazo, a tendência é a piora na qualidade de vida associada ao alto nível de sedentarismo, o que torna o cuidado com telas não apenas uma questão de sociabilidade, mas de cuidados pessoais.

No caso das crianças, os videogames continuam a expandir sua área de influência, sendo não apenas atrativo para as crianças jogarem seus jogos, mas também para que elas assistam, no Youtube ou em outras plataformas, a outras pessoas jogarem. Desse modo, podemos compreender que os danos dessa exposição não afetam apenas a psique das crianças, mas a longo prazo, poderão prejudicá-las fisicamente e de forma permanente.

Se pararmos para pensar, é interessante perceber a dependência que se cria dos jogos, por parte das crianças, e da internet, por parte dos adultos. Se alguma vez você já esqueceu o celular em casa e sentiu que precisava voltar para buscá-lo, você sabe do que estamos falando. Existe até uma fobia associada a essa situação: a nomofobia. A nomofobia nada mais é que o medo de ficar sem celular, seja por esquecimento, ou porque ficou sem sinal, ou simplesmente porque a bateria descarregou. Parece absurdo, mas isso é bem real. Lembre-se da última vez que você passou um dia sem usar o celular ou qualquer dispositivo eletrônico. Provavelmente faz muito tempo, não é?

Apesar desses fatores, entendemos que nossa vida atual está na internet. É quase surreal imaginar alguém que não use celular, que não troque mensagens em redes sociais, ou que acompanhe sua agenda pessoal de forma física e não através de um aparelho eletrônico. Essa dependência física, no sentido de ser necessário para trabalho e tarefas objetivas do dia, acaba por se tornar também uma dependência psicológica, situação em que não conseguimos ficar bem se não estivermos conectados. Há quem não consiga sair de casa sem levar seu smartphone junto, mesmo que seja para realizar uma tarefa simples ou mesmo se exercitar. Como podemos melhorar essa relação?

A sabedoria Oriental pode nos ajudar. Diferentes doutrinas, como a hindu e o budismo, por exemplo, nos alertam sobre a busca pelo caminho do meio, a justa medida em toda e qualquer relação. Encontrar o caminho do meio é, em síntese, saber distinguir a necessidade e a finalidade de cada elemento em nossas vidas, sejam as pessoas, os nossos compromissos e aquilo que nos cerca. Usar a tecnologia não é um problema, afinal, ela é uma grande aliada que nos ajuda em tarefas comuns e também na busca de mais conhecimento. Logo, não é uma questão de excluir as telas, mas saber usá-las de forma consciente, entendendo-as como ferramentas e não como uma barca de salvação. Não devemos ficar reféns de nossas próprias invenções, mas sim usá-las para alcançar novos patamares. Isso é a justa medida entre a necessidade real e a dependência. Se hoje é difícil viver sem as redes sociais, pior ainda é acreditar que esse é o único modo de viver. Como é apresentado no curta, há toda uma vida luminosa lá fora, que podemos perceber sempre que nos desconectamos. É o momento em que podemos olhar para o mundo, se iluminar com a luz do Sol e ver as cores do mundo real. Que possamos, com serenidade, conviver entre esses dois mundos e saber extrair o melhor de cada um, sem jamais nos prendermos a uma dependência ilusória.

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