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Deus Shiva: A Destruição Que Traz o Novo

Sabemos que em diversas civilizações, os Deuses eram símbolos do que se entendia de maneira profunda sobre o Universo, a Vida e suas Leis. Para o povo Hindu, o aspecto cíclico da Natureza, o fato dela sempre se renovar, de sempre destruir aquilo que já não cabe mais, abrindo espaço para o novo nascer, é simbolizado pelo Deus Shiva. A profundidade deste entendimento é tamanha, pois temos muitos apegos e, por isso mesmo, muitas dificuldades de abrir mão daquilo que estamos acostumados, mas a Vida tem seu próprio fluxo e é necessário aprendermos que o fim é tão importante quanto o início de tudo.

A Trindade Trimûrti

Na Mitologia Hindu, Shiva faz parte da tríade de Deuses principais, sendo Brahma, a criação; Vishnu, a preservação; e Shiva, aquele que destrói. A história de como essa tríade de Deuses surgiu é bem interessante. O Padma Pura, um texto sagrado da cultura hindu, conta que no início dos tempos, antes que tudo existisse, o Ser Superior, que podemos entender como Deus, acordou de um profundo sono cósmico, e assim começou a criar o mundo a partir do seu corpo. Primeiro criou três Deuses para reger toda a ordem de realidade subsequente. Essas divindades são extraídas do próprio corpo do Ser Superior. Do seu lado esquerdo retira Brahma, do lado direito faz surgir Vishnu e do seu centro nasce Shiva. Não há possibilidade de haver criação se não se preserva aquilo que é necessário e não se destrói aquilo que já se degenerou. São etapas diferentes, importantes e igualmente necessárias, que juntas possibilitam uma Unidade harmônica, que é a Vida.

Deus Shiva

Mas vamos conhecer um pouco mais sobre a mitologia do Deus Shiva. Ele é casado com Parvati, que é a Deusa Mãe da religião hindu. Um casamento entre duas divindades tão poderosas assim só pode representar algo grandioso na Natureza. E representa mesmo, simbolizam as forças dinâmicas que existem no Universo inteiro.

Shiva e Daksha

Conta-se que muito antes de Parvati nascer, Shiva enamorava uma Deusa chamada Sati, mas o pai dela, o sábio Daksha, era contra esse casamento. Então, uma certa vez, Daksha preparou uma cerimônia para todos os Deuses e não convidou Shiva. Sati ficou tão ofendida que se atirou ao fogo sacrificial. Diante disso, Shiva fica furioso e cria dois demônios do seu próprio cabelo, que destroem a cerimônia e decapitam Daksha. Os outros Deuses, depois de muito esforço, conseguem acalmar Shiva que resolve devolver a vida à Daksha, e este retorna com cabeça de carneiro. Sati também reencarna em Parvati, com quem Shiva finalmente se casa.

Com o passar do tempo, Shiva vai se tornando um marido distante e Parvati sofre com a sua ausência. Até que resolve criar do seu próprio corpo um filho, e é assim que surge Ganesha, uma das divindades mais expressivas da cultura hindu. Mas, Ganesha não conhecia seu pai Shiva, até que um dia se depara com um estranho que adentra abruptamente seu recinto e inicia uma luta com ele sem saber que se tratava do seu pai. Shiva também não sabia que Ganesha era o seu filho e lhe corta a cabeça. Após tomar consciência da tragédia, sai em busca de uma cabeça para implantar em seu filho e encontra um elefante, decapita-o e leva a cabeça de elefante para colocar em seu filho Ganesha.

ilustração que apresenta os deuses Shiva, Parvati e Ganesha.

Shiva, ao longo dos anos, encarna várias vezes, assumindo formas diversas: em cor azul, vestido de pele de animal, em estado meditativo, com cabelos emaranhados, num aspecto dançante, etc. E isso tem um significado, se refletirmos sobre as “mortes” que ocorrem em nossas vidas diariamente, seja de um aspecto da nossa personalidade, seja de um comportamento que já não nos cabe mais, seja de um pensamento que perdeu a importância, seja de uma relação que chegou ao fim, ou até mesmo das células do nosso corpo que se renovam a cada instante, perceberemos que por trás de tudo isso, por trás de todas estas diferentes formas, existe a Lei do Fim. Tudo que está manifesto é transitório. Nós morremos constantemente para que outros aspectos dentro de nós surjam. E as mudanças constantes dos aspectos físicos de Shiva nos trazem esse ensinamento à tona.

Neste aspecto, Xiva aparece como o rei (raja) da dança (nata). Ele dança dentro de um círculo de fogo, símbolo da renovação e, através de sua dança, cria, conserva e destrói o universo.

Shiva desta forma dançante é conhecido como Shiva Nataraja. Esta representação simbólica, assim como toda a Mitologia Hindu, carrega profundos significados que nos ajudam a viver de acordo com a Natureza, com mais Harmonia, Bondade e Justiça. O Shiva Nataraja nos fala sobre a dança do Universo em seu imenso Mistério de destruição e renovação. A roda em que ele aparece inserido nos lembra o ciclo de reencarnações, o samsara do Budismo. Para esta tradição, o fim e o início dos ciclos, tão presente nas experiências vividas por nós o tempo todo, que nos ensinam a sermos cada vez melhores, apresenta-se como uma Lei da Vida. Portanto, esta mesma Lei também rege nosso nascimento e nossa morte, segundo a filosofia Hindu.

Na representação de Shiva acima, a chama de fogo em uma de suas mãos é uma representação da busca por se purificar em nome do que em si é mais Sábio, mais Divino. O cabelo se movimenta no fluxo do Rio Ganges, nos lembrando a importância de seguir o fluxo da Vida, de participar dela entendendo seus Mistérios. A serpente enrolada em seu pescoço simboliza o domínio da morte, ou seja, a capacidade de entendermos a morte como algo natural e inevitável e compreendermos isso tão bem a ponto de dominarmos o medo e os receios inerentes a essa ideia de finitude. O movimento das mãos e dos pés revelam a dança como símbolo da dualidade que existe no mundo que conhecemos. Ao dançar, Shiva se apoia sobre um anão obscuro, simbolizando a vitória sobre a escuridão. A lua crescente em sua cabeça remete ao nascimento de todas as coisas. Ele segura o fogo da sabedoria em uma mão e o tambor na outra, e este dita o ritmo do Universo. Por fim, o seu terceiro olho é um importante símbolo da sua Sabedoria advinda do olho do Coração, da Intuição.

Acostumamo-nos a pensar que os fins são ruins e difíceis. Tememos a morte, a perda, a doença, a passagem do tempo. Mas a Natureza a todo momento está nos ensinando que os términos também possuem sua Beleza, sua Necessidade e sua Bondade. Observamos o pôr-do-sol, em toda a sua sublime magnitude, e lembramos que o outro dia só amanhecerá por que este enfim terminou. Os Hindus sabiam da importância destes Ciclos da Vida, sabiam da importância dos inícios, mas também dos fins, e por isso representaram esta Lei da Vida na forma de um Deus: Shiva, o Deus da destruição que abre espaço para o crescimento e o desenvolvimento de todo o Universo.

Nossa vida é cheia de destruições e recomeços. Por exemplo, um adolescente ver morrer em si as formas anatômicas da criança, assim como o adulto ver morrer em si aos poucos as formas juvenis, os cabelos vão esbranquiçando e diminuindo de volume, a pele vai enrugando pouco a pouco e por mais que se façam intervenções medicamentosas, a destruição gradativa é inevitável, mas ao mesmo tempo conquista-se a bênção de não se fixar eternamente em uma fase, mas viver a maturação, dar saltos em direção à evolução. Essa dança de perdas e ganhos está simbolizada no Deus Shiva. Não conquistamos nada sem perder algo em função dessa conquista. Que este texto possa nos auxiliar a despertar nossa consciência sobre esse aspecto da evolução que acontece em cada um de nós.

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