A comunicação é uma das chaves para a evolução da humanidade. Para um leitor cético, essa frase pode parecer um pouco exagerada, entretanto, garantimos que ela transmite a verdade. Basta pensarmos na revolução que ocorreu nas últimas décadas, graças à comunicação quase imediata através da internet. Se antes uma mensagem poderia levar dias até chegar ao outro lado do mundo, ou depender de uma ligação, hoje é um fato que vivemos em uma era da comunicação global, e isso mudou a história da humanidade.
Se voltarmos ainda mais no passado, encontramos facilmente outros momentos em que a comunicação foi um divisor de águas em nossa espécie. A própria diferença marcante entre o homo sapiens e seus concorrentes diretos na evolução foi a capacidade cognitiva de comunicar-se melhor a partir de uma linguagem mais precisa e simbólica. Com essas ferramentas psicológicas avançadas, a sociedade pré-histórica dos homo sapiens foi capaz de organizar grupos de caça e coleta, dividir funções e organizar estratégias para obtenção de recursos e para a guerra.
Sendo assim, é inegável o valor da comunicação em nossa história humana, seja no momento em que vivemos ou em qualquer época do passado. Apesar disso, será que paramos para pensar como nos comunicamos? Como transmitir uma boa ideia ou pensamento sem ser mal compreendido?
A arte da comunicação e seu valor humano
Você já viveu a experiência de ficar sem energia elétrica e sem internet? É muito provável que sim. Nesses momentos, percebemos nitidamente o quão dependente nossa sociedade está da eletricidade. Para tudo, precisamos de energia: para conservar alimentos, para entreter e, não menos importante, para nos comunicar. Nos impressiona notar como rapidamente a sociedade para quando ficamos sem eletricidade e internet. Parece até que é impossível viver sem essas tecnologias. Nessas horas nós pensamos: como é possível viver sem smartphone? Como ir de um lugar para o outro sem Waze? Como se comunicar sem redes sociais, WhatsApp, e-mail etc? Por incrível que pareça, nós vivemos por anos e anos sem essas tecnologias e nos comunicávamos muito bem!
É irônico pensar que mesmo com todos os meios diferentes de que dispomos hoje, nossa sociedade passa atualmente por graves problemas de comunicação. Na internet, temos milhões de horas de vídeos publicados, bilhões de mensagens de textos trocadas, outra infinidade de imagens compartilhadas… Mas quantas dessas mensagens realmente comunicam algo importante e quantas delas são apenas o reflexo de vidas superficiais e vazias de sentido?
É evidente que todas as ferramentas que a tecnologia nos oferece atualmente são úteis e bem-vindas. Não queremos o retorno das cartas escritas à mão e de mensagens chegando após meses de espera. Não se trata disso. No fundo, percebe-se que ao mesmo tempo que a comunicação humana se tornou rápida e fácil, também perdeu, em grande parte, sua qualidade. É quase irônico, mas, no século da comunicação, vivemos o dilema de não entender uns aos outros, não devido à falta de habilidade em decodificar as mensagens, mas de interpretá-las e colocar-se no lugar do outro.
Sim, a comunicação é uma arte e poucos são os que a dominam. Não nos referimos aqui a técnicas de oratória e retórica, mas ao simples fato de sermos capazes de enxergar para além do que o texto nos diz. Caímos, infelizmente, em um mundo literal, e por isso as intenções, os símbolos e anseios que uma pessoa carrega em uma fala ou texto não são compreendidos com plenitude, quando não ignorados.
Urge ao ser humano moderno retornar a uma comunicação completa, que seja capaz de transmitir e entender muito mais do que as palavras. É evidente que essa perda na comunicação não é de hoje, mas decorre de um processo muito sutil, capaz de transformar a sociedade lentamente: o materialismo.
Chamamos de materialismo a ideia de que só é válido aquilo que conseguimos, de certo modo, mensurar. Nessa visão de mundo, não resta muito espaço para o metafísico, muito menos para deixar voar a sensibilidade e para refletir mais profundamente sobre a vida, pois esta não passa de uma série de probabilidades improváveis que, tendo tudo para não ocorrer, acabou ocorrendo tão perfeitamente que aqui estamos.
Retornar a um pensamento mais amplo, capaz de aceitar nossas limitações e entender que existe uma vida para além do material é, no fundo, refletir sobre a nossa condição humana e redescobrir valores até então adormecidos. Essa mudança passa, naturalmente, pela comunicação, uma vez que é o nosso principal canal de transmissão de ideias.
Como melhorar a nossa comunicação?
Essa é uma pergunta sobre a qual todos nós podemos refletir, afinal, sempre podemos aperfeiçoar nossas capacidades. Antes de entendermos essa ideia, devemos compreender o que significa, de fato, comunicação. Por definição, comunicação é a troca de mensagens entre alguém que a envia e outro que a recebe. Talvez um grande problema que exista hoje em dia, seja entender melhor este processo e prestar atenção em cada uma das etapas.
Precisamos cuidar para que a nossa mensagem seja bem transmitida, mas também precisamos tomar cuidado para que a outra pessoa a receba de forma correta. Para isso, precisamos desenvolver uma certa empatia, precisamos nos colocar no lugar do outro, tentar entender como o outro vive, como ele pensa, como ele fala e como ele “escuta”.
A empatia é fundamental nesse processo, afinal, devemos sempre nos colocar no lugar do outro e pensar como podemos nos comunicar de forma mais eficaz. Lembrando que o que chamamos de “eficaz” é, em linhas gerais, uma comunicação capaz de ressaltar valores humanos e gerar unidade. Ressaltamos esse ponto, pois há quem pense que falar “verdades” de maneira dura e ríspida, sem “rodeios”, é uma forma eficaz de comunicação, entretanto, no que resulta isso? Geralmente, esse tipo de comunicação causa mais dores às pessoas e criam-se rusgas difíceis de serem consertadas.
Ampliando ainda mais a nossa reflexão sobre a comunicação, podemos pensar um pouco se as nossas ações estão comunicando a mesma mensagem que nossas palavras. Existe coerência entre o que dizemos e como agimos?
De nada adianta palavras bonitas se estas não estão permeadas de ações que ressaltem o que comunicamos. Chamamos isso de autoridade moral. Se, por exemplo, nunca chegamos no horário para um compromisso, como poderemos cobrar das outras pessoas pontualidade? Se não somos generosos, como exigir que o outro seja? Muitas vezes, falhamos em nossa comunicação por não percebermos que, em nossa vida prática, deixamos de exercer tudo aquilo que cobramos dos demais.
Em níveis ainda mais sutis, será que as emoções que sentimos, e também os nossos pensamentos, não comunicam algo para a sociedade mesmo quando não os expressamos? Isso pode parecer uma ideia complexa, mas é fato que existe um imaginário coletivo que é alimentado por ideias comuns que são captadas por todos nós. Seja por meio da propaganda, dos filmes, dos jornais ou qualquer outro meio, esse conjunto de ideias que chamamos de “senso comum” nada mais é do que padrões de pensamentos que são vividos e reforçados por cada um de nós, consciente ou não.
Além disso, basta fazermos a seguinte reflexão: quando alimentamos a nossa mente com vídeos, filmes, séries e notícias que mostram cenas de violência, ódio, revolta e vingança, e isso fica vibrando em nossas emoções e pensamentos durante o dia todo, como nos sentimos? A maioria talvez responda que não sinta nada, que as cenas fortes acabam sendo “apagadas” em nossa memória, porém, pensar assim é um erro. Nosso cérebro não desperdiça informações e todas essas imagens continuam armazenadas em nós, seja em nosso subconsciente ou inconsciente. Assim, o consumo desses tipos de entretenimento, por exemplo, nos leva a uma forma mais violenta na fala, nos gestos e até mesmo nas ações físicas.
Assim, aquilo que consumimos a nível psicológico afeta, muitas vezes, a maneira como nos comunicamos. Será, portanto, que não deveríamos dar maior atenção aos nossos gostos? Será que, de maneira indireta, não colaboramos com o senso comum da violência na sociedade a partir dessa forma de se comunicar ou consumir tais elementos para nossa psique? Vale a pena refletir sobre isso!