Muitas vezes a Arte pode nos ajudar a lembrar o que de mais humano temos dentro de nós: a bondade, a justiça, a busca pela verdade e a beleza. Este é o caso da Obra Prima do Renascentista Rafael Sanzio, A Escola de Atenas.
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O afresco, técnica artística de pintar sobre a parede, está situado hoje no Museu do Vaticano, e é um dos quatro afrescos encomendados pelo Papa Júlio II ao pintor renascentista com o intuito de representar nas paredes da Stanza della Segnatura os 4 pilares de uma sociedade com valores humanos – a Justiça, representada por Rafael em uma das paredes através das Virtudes; a Beleza, simbolizada pelo Deus Grego Apolo e as musas; a Bondade, na parede oposta à da Escola de Atenas, trazida pela Teologia; e por fim a Razão, a busca pela verdade, a tradição do conhecimento humano, através da Filosofia.
Na antiguidade, no auge do Império Romano, a humanidade vivia um período de culto à Beleza, à Justiça, à Investigação Filosófica, tudo isso fortemente inspirado nos valores civilizatórios, morais e artísticos dos povos gregos. Após a queda do Império Romano, a Europa Ocidental entrou na Idade Média, e os valores se inverteram. Este período foi marcado por ser a idade das trevas, da ignorância, da violência e do fanatismo religioso. É daí que vem o nome “Renascimento” para o movimento que surge no fim da Idade Média e resgata aqueles valores da antiguidade na política, na ciência e principalmente na arte, como podemos ver muito bem representados nesta obra.
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Na pintura, Rafael homenageia filósofos, astrônomos, matemáticos clássicos e de grande relevância para o caminho da sabedoria humana, como Platão, Sócrates, Aristóteles, Pitágoras, Zoroastro, Hipátia, Epicuro, Plotino, Euclides, entre tantos outros personagens de diversas épocas e culturas, nos deixando pistas de quem de fato é cada um dos personagens através da forma, das cores, do gestual, das vestimentas com que se apresentam no afresco. Um fato interessante é que, apesar desta obra estar na parede da sala de estudos do papa, nenhum dos personagens representados é cristão. Mais um bela representação de algumas características dos renascentistas: ecletismo e tolerância.
A Escola de Atenas é tão cheia de símbolos, que é praticamente impossível esgotar todos os seus significados em apenas um texto, mas aqui citaremos os mais importantes:
Platão e Aristóteles
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Toda a obra é construída em torno desta dualidade. Platão carrega o livro Timeu em sua mão, uma das suas obras mais metafísicas e a que mais se aprofunda na sua Teoria das Ideias. Em síntese, essa teoria diz que tudo o que existe no mundo material, é apenas uma sombra imperfeita das coisas verdadeiras, que são as ideias. Por isso a prática da Filosofia consiste em usar a razão para compreender as ideias, pois elas são a fonte de tudo o que existe.
Do lado direito, carregando o seu livro mais famoso “Ética à Nicômaco”, está Aristóteles, que foi discípulo de Platão. Na sua visão, o mestre estava equivocado, pois a lógica teria um sentido inverso. As coisas não surgem das ideias, mas sim o contrário: toda a ideia que manejamos através da razão surgiu a partir da observação das coisas materiais.
À primeira vista, esta pode parecer ser uma discussão do tipo “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”, mas na verdade todas as linhas filosóficas e teológicas que existem são representantes de algum desses dois lados.
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Leonardo da Vinci
Talvez não exista nenhum tratado filosófico que represente melhor as ideias destes grandes filósofos quanto esta obra de Sanzio. Platão tem a face de Leonardo da Vinci, que era um mestre para Rafael, ele está apontando para cima, com o braço e dedos numa direção vertical, indicando que é para o mundo celeste, o Mundo das Ideias Perfeitas que devemos direcionar a nossa consciência. Suas roupas tem as cores lilás e vermelho, representando os elementos mais sutis: ar e fogo. Já Aristóteles coloca a sua mão espalmada para baixo, formando um eixo horizontal com o seu braço, indicando que é para a terra, para a matéria que devemos direcionar a nossa consciência se quisermos compreender a natureza das coisas e encontrar a sabedoria. Suas vestes tem as cores azul e amarelo, representando os elementos mais densos: água e terra.
Pitágoras e Euclides
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Na parte inferior, vemos dois grupos de pessoas, cada um deles observa um senhor trabalhando. Do lado esquerdo, está representado Pitágoras, um dos maiores filósofos do período Pré-Socrático. Toda a sua doutrina buscava explicar a Natureza através dos números, pois, segundo ele, por trás de tudo o que conhecemos, existe a perfeição das leis matemáticas. Inclusive, foi ele quem descreveu a harmonia das notas musicais através de precisas relações numéricas.
Já no lado direito está Euclides, o Pai da Geometria, que é a ciência que lida com as formas dentro de um espaço. Podemos entender a Geometria como a matemática visível, aplicada à matéria, ou seja, representa um aspecto mais voltado para o mundo material e não tão metafísico quanto Pitágoras.
Autorretrato
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De forma bem discreta, olhando diretamente para nós, está representado o próprio pintor. Ao mesmo tempo que ele se coloca ao lado de grandes homens, como Zoroastro (com uma esfera escura na mão) e Ptolomeu (com o planeta Terra na mão), ele ocupa pouco espaço dentro da obra. É como se ele representasse uma postura de humildade, por se reconhecer pequeno, mas, ao mesmo tempo, de admiração, por desejar estar entre eles.
Isto o que foi descrito é apenas uma pequena parte do mar de conhecimento transmitido por esta obra. Considerando que ela é apenas uma das obras de Rafael, que foi apenas um dos grandes pintores do Renascimento, isso nos faz refletir sobre o Universo de Sabedoria que foi presenteado ao mundo por estes grandes personagens históricos. A característica comum entre eles é que todos romperam com as velhas crenças medievais, em que se vivia com medo de um Deus caprichoso e não se sabia de nenhuma forma de se relacionar com ele. A grande evolução dos renascentistas foi que eles trocaram isso pela ideia de que há algo de divino em todo ser humano, e que este, fazendo parte da Natureza, está também sujeito às suas leis, e é assim que podemos compreender a Deus, através da contemplação e conhecimento da sua obra, inclusive de nós mesmos.
Essas ideias são muito mais antigas que as medievais, porém jamais ficam velhas, pois são sempre válidas, são clássicas, são atemporais. E isto nos deixa o convite para buscarmos aplicá-las e vivê-las no nosso dia a dia.
No vídeo abaixo, podemos ver mais informações sobre esta obra impressionante.