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Jogos Olímpicos e a Arte de Superar a Si Mesmo

Todos nós já ouvimos falar dos Jogos Olímpicos, não é verdade? A grande competição em que os melhores atletas disputam e superam seus limites nas mais distintas modalidades. Mas o que sabemos sobre o simbolismo desses jogos? É possível que, para a maioria das pessoas, esse período olímpico se trate apenas de uma competição, tal qual outros campeonatos, porém sua origem e história guardam momentos e ideias belíssimas. 

Começando pelo seu símbolo, os famosos anéis olímpicos, que retratam a união entre os continentes. Cada anel corresponde a uma região do globo, e não por acaso estão unidos, pois a ideia principal dos jogos é mostrar que, acima de tudo, somos uma só espécie. A competição, nesse caso, não deve ser com os demais, mas principalmente consigo mesmo. Mas por qual razão o enfoque dos jogos olímpicos se dá com essa tônica?

Ao observarmos nossa vida cotidiana, perceberemos que somos seres competitivos. Basta observarmos crianças brincando que logo perceberemos que isso é uma verdade, uma vez que elas tendem a disputar em praticamente tudo. Isso ocorre porque a competitividade é um atributo do nosso instinto de sobrevivência. Na natureza, como diz a teoria da evolução de Darwin, a sobrevivência depende de quem adapta-se melhor ao ambiente, logo, seguindo a mesma lógica, aquele que dentro de uma competição sabe os caminhos para a vitória ganha.

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Nosso lado instintivo, portanto, nos leva naturalmente pelo caminho da competição. Entretanto, o Ser Humano não é uma espécie como tantas outras na natureza. Por sermos os únicos a usarmos a razão e termos autoconsciência, nos reconhecemos enquanto indivíduos, e portanto, somos capazes de tomar decisões baseadas na lógica e não apenas em instintos. 

Graças ao nosso lado racional podemos ter consciência para escolher em quais momentos usar a competição a nosso favor. Isso significa que, a grosso modo, sabemos controlar nossas emoções durante um jogo ou uma disputa qualquer e, acima de tudo, não queremos vencer a qualquer preço. Infelizmente, nos dias atuais é muito comum percebermos que a competitividade exacerbada está cada vez mais presente em nossos ambientes. Nas escolas, por exemplo, desde cedo os alunos competem para tirar as melhores notas e ter seu lugar garantido em universidades; no trabalho, há quem faça de tudo por promoções e bonificações, mesmo que isso signifique prejudicar o colega que trabalha ao seu lado. 

Por vivermos em um mundo que premia atitudes competitivas, acabamos por considerá-la um modo de vida comum. Mas isso pode ser diferente? A resposta é sim! Um ótimo exemplo disso são os Jogos Olímpicos, que por mais que seja uma competição, em sua origem buscava-se ressaltar a ideia de que a principal disputa do Ser Humano era consigo mesmo. E qual a origem dos jogos?

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Para contar essa história precisaremos voltar à Grécia Antiga, até a cidade de Olímpia. Lá encontra-se o registro mais antigo sobre os jogos, que teria ocorrido em 776 a.C. Entretanto, em alguns mitos conta-se que essas disputas foram criadas pelo próprio Hércules após este concluir seus doze trabalhos. O intuito dos jogos era homenagear Zeus, o principal Deus do panteão grego. Com isso, em diferentes modalidades os atletas de todas as cidades-estado gregas dedicavam seu esforço em nome do Sagrado, mostrando que poderiam, cada vez mais, superar-se.

Uma das primeiras reflexões que podemos fazer sobre os Jogos Olímpicos está justamente no fato de não ser apenas uma competição. Antes de tudo, os gregos consideravam-na uma forma de adorar os Deuses, dando um sentido religioso para suas disputas. Esse detalhe é interessante pois, em última instância, não se competia para si, mas sim para algo que está além do aspecto humano. Comparado aos dias atuais, em que competimos para demonstrar que somos os melhores e para receber os louros da vitória, o verdadeiro objetivo dos Jogos Olímpicos não era pensar em si, mas dedicar o seu melhor a algo Divino.

E em que modalidades se competiam nesses jogos? Certamente alguns esportes da antiguidade não permaneceram os mesmos, mas destacava-se a corrida de bigas, o arremesso de peso e as lutas. Nesses jogos, entretanto, não se destacavam apenas as atividades físicas, tendo também concursos de oratória e declamações de poesia. Assim, tal como comenta o filósofo Platão em seu livro, A República, a Música, no sentido de Arte, e a Ginástica caminhavam juntas dentro dos jogos.  

Infelizmente, após quase um milênio de celebração dos jogos, no ano de 426 d.C, a mando do imperador Teodósio II, os jogos foram cancelados por serem considerados uma cerimônia pagã. O espírito olímpico, por mais de 1.400 anos, ficou adormecido. Somente no final do século XIX, mais precisamente em 1890, um francês iria reviver a prática dos Jogos Olímpicos. O barão de Coubertin, um aristocrata da sociedade francesa, inspirado na tradição grega, fundou a Comissão Olímpica Internacional (COI) e organizou a primeira Olimpíada da era moderna, em 1896, em Atenas.

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Pensando nas Olimpíadas modernas, o interesse por trás de reviver os jogos era o de  preservar e viver um pouco do espírito que inspirou os atletas do passado. Talvez hoje não tenhamos um culto necessariamente aos Deuses, ou mesmo ao Sagrado em si, mas certamente cada atleta busca superar seus próprios limites físicos. Talvez por isso acompanhar os Jogos Olímpicos seja tão inspirador para nós, pois reconhecemos naqueles atletas nossa capacidade de vencer obstáculos, o que nos mostra que somos capazes de melhorar a cada dia.

Podemos, por exemplo, tomar como inspiração o lema Olímpico: Citius, altius, fortius (em português: mais rápido, mais alto, mais forte). Advindo dos nossos jogos modernos, ele nos relembra exatamente isso: que possamos ser cada vez mais ágeis, altos e fortes. Refletindo sobre o lema, podemos carregá-lo como uma meta em nossa vida cotidiana. Podemos ser, em nossas atividades diárias, mais rápidos na resolução de problemas e na ação; mais altos, para observar e tomar melhores decisões frente aos dilemas que vivemos; e mais fortes para superar as adversidades que, naturalmente, se colocarão à nossa frente. Não se trata, portanto, de sermos fisicamente melhores, mas principalmente de forjarmos nosso espírito para que consigamos sobressair frente aos desafios que a vida nos impõe. 

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Portanto, as Olimpíadas são um excelente momento para refletirmos sobre nossa condição Humana. Para além de uma competição entre nações e de uma busca pela medalha de ouro, é fundamental entendermos que a nossa verdadeira disputa não está fora, ou seja, na competição com o outro, mas sim conosco. Se nos comprometermos a treinar para superarmos nossas adversidades, seja ela no campo físico, emocional ou racional, podemos aprender mais sobre nós mesmos, e assim, desvelamos um pouco do Mistério que é o Ser Humano. Os Jogos Olímpicos, por fim, não são competições comuns. Para essas existem diversos torneios, campeonatos e ligas mundo afora. Acima disso, há um Espírito Atemporal, advindo desde a antiguidade, que busca expressão nos homens e mulheres que dedicam-se cotidianamente a superar suas próprias limitações. Que os jogos que se aproximam sejam vistos, enfim, com esse olhar transcendental, assim poderemos nos inspirar para viver o Espírito Olímpico em nossas vidas.

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