Cada um de nós tem uma história a contar, tem algo a contribuir e somar com a humanidade. E, ainda bem que é assim, já pensou como seria tedioso se nos bastássemos a nós mesmos? De certo, não suportaríamos a monotonia que seria as nossas vidas. Por isso, cada desafio assumido, cada perda ou conquista, cada frustração ou dor são relevantes para somar no menu de nossas experiências nesta existência. Vale lembrar que tal importância não se dá só para nós, mas para todos os demais que crescem juntamente conosco.
Fonte: imagens retiradas do freepik
Portanto, nada de se sentir sozinho nesta caminhada, pois, direta ou indiretamente, partilhamos as nossas alegrias e as nossas dores com os demais, seja através das sínteses positivas, seja através dos processos maldigeridos que carregamos. Aqui, cabe uma reflexão importante, embora o resultado dessas experiências seja inevitavelmente compartilhado com todos que cruzam o nosso caminho, a responsabilidade de viver e vencer cada experiência cabe, exclusivamente, a nós e não ao outro.
A autorresponsabilidade é a chave que nos abrirá as portas para a maturidade. Pois, sem assumir esse compromisso consigo e com seus processos psíquicos, nenhum indivíduo consegue caminhar de maneira independente e livre. Do contrário, corre-se o risco de transferir para os outros a tutela de nossas vidas e de entrar num ciclo vicioso de carências e exigências pesadas demais para ser levadas a quatro, a seis ou se sabe lá a quantas mãos.
Nunca devemos esquecer que viver bem é entender que nem sempre há alegrias e compreender, acima de tudo, que a dor pode ser sim um veículo de consciência que nos ajuda, e muito, a nos posicionar diante dos fatos e das pessoas. Dessa forma, curar-se de suas feridas é um pré-requisito para se ter uma vida emocional sadia. Neste sentido, vale resgatar aqui a velha máxima, não importa muito o que nos fizeram, mas o que podemos fazer do que fizeram conosco.
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Mesmo assim, incrivelmente, quando sofremos um desapontamento, uma decepção ou mesmo quando somos feridos, muitas vezes não assimilamos, não digerimos bem as situações e, insistimos em ser reativos ao invés de sermos ativos ou propositivos. Quantas vezes não ficamos cegos ou assumimos o papel de vítimas e nos tornamos passíveis diante dos fatos? Quando nos sentimos feridos, queremos que o mundo todo pague um valor alto por nossas dores. Quantas vezes não repassamos as nossas mágoas e tristezas ou fazemos projeções para os demais? Quantas vezes condenamos o outro a uma morte emocional porque em algum momento tentaram nos matar também?
E o mais triste é que quando agimos dessa forma não só ferimos a uma pessoa, mas também a várias pessoas direta ou indiretamente. Como numa espécie de corrente nefasta, em fração de segundos é possível que possamos machucar muitas pessoas. Uma coisa é certa: quando estamos doentes, é muito provável que contaminemos ou adoecemos os outros e, inevitavelmente, passamos a construir um emaranhado de relações adoecidas, propagando um ciclo vicioso de egoísmos, egocentrismos, dores e mágoas. Nunca devemos esquecer que somos um nó de relações para todos os lados, ou seja, somos e fazemos parte de uma única humanidade, partilhamos dessa mesma existência e o que afeta um afeta todos.
Porém, o inverso também é verdadeiro. Quando agimos de maneira virtuosa, a potência de nossas atitudes tem uma força incalculável. Pois, sempre nos ensinou muito aquele ser humano que diante de uma injustiça, uma decepção, uma frustração ou uma covardia sofrida age de maneira bondosa, fraterna ou altruísta, por exemplo. A condição e estatura moral de consciência dos que assim procedem, tem o poder não só de constranger mas de convocar de dentro nós uma força descomunal que, por hora dorme, diante da mecanicidade da vida.
Poderíamos citar aqui uma lista enorme de belos exemplos, onde homens e mulheres não foram definidos pelo seu meio, mas que se impuseram diante de seus aspectos mais instintivos, mesmo em situações extremas. Não podemos deixar de lembrar do exemplo de serenidade de Gandhi diante do Império Britânico ou do exemplo de bondade e união de Nelson Mandela na África do Sul. Vale lembrar que Mandela, após ter tido a sua vida destroçada e sua liberdade restringida, optou por uma África unida e não fragmentada pelo ódio e desejo de vingança. Ou seja, quando foi liberto, poderia ter alimentado ódio e vingança na nação, mas optou pela bondade e unidade de seu país.
Isso é um exemplo de saber viver, saber se curar e aproveitar inteligentemente as experiências de vida. Quando se vive por inteiro, acontece magia a cada passo dado, se cria ponte entre a razão e os sentimentos, além de nos ajudar a desenvolver graus de virtudes. E é por isso que viver vai além de existir e de suas necessidades instintivas, tendo em vista que, como humanos, a vida nos exigirá sempre respostas humanas e não animalescas.
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Por fim, é importante lembrar que a vida em si nos aponta para uma direção, nos indica que tudo encaminha para um movimento evolutivo e acaba nos despertando para duas grandes ideias: a primeira é que nada está parado, mas pelo contrário, tudo está em movimento e em mudança o tempo todo. É assim no macrocosmo ou no microcosmo. Desta feita, sendo o ser humano um sujeito pertencente a esse cosmos, não poderia ficar parado, estático ante o fluxo da vida. A segunda ideia é que só há uma única humanidade, mesmo que essa se apresente de forma múltipla, por isso que cada indivíduo é único e deve estar consciente que carrega consigo uma parte do todo. Quanto mais conscientes estivermos disso, mais responsáveis nos tornamos não só por nós, mas por todos. Portanto, estamos juntos nesta caminhada e podemos muito somar na vida do outro. Assim, nada de desânimo, vamos juntos, como disse Jesus: “os homens se libertam em comunhão!”