Diversos tipos de histórias já foram contadas através dos livros e dos filmes, algumas nos encantam e outras nem tanto. Algumas delas superam o tempo, são contadas e recontadas ao longo dos anos e alcançam várias gerações futuras: os famosos clássicos.
No clássico “O Mágico de OZ”, o Homem de Lata, junto com seus amigos, o Leão, o Espantalho e a pequena Dorothy, buscam a ajuda do magnífico mago que dá nome ao filme, de 1939, para conseguir algo em especial que cada um deseja. Dorothy sonhava em voltar para o Kansas, o Leão pedia Coragem, o Espantalho um cérebro e o Homem de Lata acreditava que lhe faltava um Coração.
Na animação “After Oz” (Depois de Oz) publicada pela escola de filmes de Vancouver no YouTube, encontramos nosso querido personagem de metal, alegre e saltitante pelas ruas da cidade, carregando seu tão sonhado Coração. Com ele, o Homem de Lata podia não apenas andar, olhar, tocar, mas definitivamente podia sentir várias emoções, em especial, a paixão.
Quando se depara com uma robozinha que cruza seu caminho, o homem de chapéu de funil se encanta, e logo dá a ela seu Coração, que tantas desventuras enfrentou para conseguir, e que tanto amava, como símbolo dessa magnífica emoção que lhe tomou de surpresa, e calou nele tudo mais. Sem entender bem o presente, a garota de metal investiga o Coração (também de lata), mexe para lá, mexe para cá, até contorcê-lo completamente e transformá-lo em qualquer coisa sem sentido. No entanto, cada sacudida gera uma dor em nosso amigo, que sofria sendo jogado de um lado para o outro, como se mantivesse uma conexão invisível com aquela parte de si.
O amor à primeira vista fez tão mal ao homem de lata…ou seria uma paixão? Pensamos sempre sobre a paixão como algo sublime e poderoso, que nos eleva, e, como vemos em muitos outros clássicos, nos arrebata de maneira implacável, sem chance de escapar. Nesse caso, entretanto, isso não significa que essa emoção será mútua, ou mesmo saudável. Sem que percebamos, nos apaixonamos acreditando que o que sentimos é Amor, mas existe uma grande diferença entre eles.
Nossas paixões calam as outras vozes que soam dentro de nós, e posiciona um holofote sobre nosso objeto de adoração, colocando-o acima de tudo e de todos em nossa vida. Invade nossa Alma de assalto, toma o controle sobre nós e nos faz de refém; curto e grosso, rápido mas, potencialmente muito doloroso.
Platão, através da voz de Sócrates em seu livro “A República”, discute sobre a Justiça e a Felicidade, e ao final da obra chega a conclusão que só pode ser verdadeiramente feliz aquele que governa a si mesmo. Aquele que mantém sua consciência equilibrada, vigilante e não permite que emoções tendenciosas sobreponham-se aos verdadeiros sentimentos e nos impeçam de praticar nossas Virtudes. Isso quer dizer que, em uma situação de grande conflito, por exemplo, encontramos um atalho para a raiva, o desprezo, mas, podemos escolher segui-lo, ou não. Se deixarmos a raiva chegar de fato até nós, imprevisível e devastadora como é, certamente ela assumirá os controles de nossa mente, e fará uma enorme bagunça, com sequelas que podem levar uma vida inteira para curar.
Assim são as paixões. Elas nos cegam para os defeitos e perigos que aquela relação certamente esconde, afinal, nada é perfeito nesse mundo material. Envolver-se com algo ou alguém de forma sóbria, equilibrada, nos mostra tudo isso, e nos dá a chance de escolher entre seguir, e recuar, e isso está mais próximo de ser Amor, e não paixão. Dar para alguém tanto poder assim, é talvez o maior risco que corremos na vida, pois lhe entregamos a chave para acessar tudo o que temos, o que somos, e o que seremos.
Como em uma acalorada discussão em que alguém defende algo pelo qual é apaixonado, de outra pessoa que o critica, não há vencedores, ambos se magoam, mas o maior sofredor sempre será o apaixonado. Pois, não desfrutamos de um lindo dia de sol, por exemplo, durante um jogo de futebol com os amigos, e deixamos que tudo desmorone, o dia se torne amargo e infeliz, simplesmente se alguém apontar más qualidades do nosso time do coração. Quando deixamos palavras, e paixões nos dominarem, não estamos mais à frente de nossas decisões.
Na animação, a garota robô provavelmente não sabia o que era aquele presente tão singular que havia ganhado, e não o tratou com o devido respeito e carinho com que lhe foi dedicado. Não sabia quanto poder aquele coração, aquela paixão, podia ter sobre seu dono. Então, mesmo que uma relação seja plena de boas intenções, ainda assim, estamos em zona de grande risco, se nos entregarmos de forma desenfreada as nossas paixões. Isso, no entanto, não pode nos impedir de confiar, de conhecer, de Amar.
Controlando nossos corações de lata, um metal simples, pouco resistente, temos a oportunidade de dar ouvidos à nossa razão, de ouro, um metal puro e que representa simbolicamente o que há de mais valioso, transformando assim uma mera emoção em um sentimento sublime. Podemos ver o mundo como ele realmente é, através das lentes do Amor. Trocar as emoções de lata por um único sentimento sublime e transcendental, sempre será a melhor escolha.