Você, com certeza, se considera uma pessoa inteligente, não é verdade? Muitas vezes, confundimos esse conceito, achando que o fato de ser alguém instruído, de ler ou conhecer teorias de qualquer área do conhecimento o faz ser considerado como “inteligente”. Porém, o que de fato isso significa? A rigor, uma de suas definições mais precisas diz que “inteligência” é a capacidade de compreender e resolver novos problemas, adaptando-se às mais distintas situações.
Dentro dessa perspectiva, a inteligência pode ser vista como essa faculdade de conseguir discernir entre duas escolhas e optar, naturalmente, pela mais benéfica. Assim, uma pessoa inteligente que caminha por um bosque, por exemplo, irá escolher o caminho que mais lhe traga benefícios, sejam eles de ordem física ou psicológica. Porém, será que somente os Seres Humanos são capazes de usufruir dessa capacidade?
Vamos aprofundar um pouco mais quanto a essa questão da inteligência. Levando essa mesma concepção para a natureza e seus mais distintos reinos, é possível observar que outras espécies também possuem essa mesma característica de adaptação e de discernimento quanto a uma situação. Um girassol, por exemplo, tem a sensibilidade de voltar-se ao Sol e o faz através de uma decisão, que é a direção a qual o astro-rei está. Assim, em algum grau, ele também possui a capacidade de discernir entre uma posição e outra. De igual modo, os animais também possuem esse recurso, pois através do seu instinto, buscam escolher suas presas mais frágeis, sabem a hora de se esconder e se mostrar e assim por diante. Nessa perspectiva, até mesmo os vírus, que muitos ainda não são considerados nem mesmo como seres vivos, possuem a inteligência necessária para se adaptarem aos mais diferentes organismos e sobreviverem a partir de suas mutações.
É evidente, contudo, que todas essas formas de inteligência são bem distintas da nossa. Todos esses seres, em maior ou menor grau, são movidos por um instinto e por isso sua capacidade de adaptação é limitada. Um leão, por exemplo, por mais que seu instinto busque por alimento para sobreviver, jamais irá se alimentar de uma fruta, ou conseguirá controlar o seu apetite e escolher a hora “certa” para sua refeição. Do mesmo modo que o girassol busca a luz de forma natural, apenas seguindo seu curso, assim, podemos dizer que o grau de inteligência desses seres está pautado puramente pelo instinto, que garante sua adaptação para a sobrevivência.
No caso humano, nossa inteligência está diferenciada pelo fato de possuirmos consciência e, desse modo, poder escolher nossa maneira de agir. Além disso, nossa capacidade cognitiva superior nos possibilita aprendermos com mais rapidez e, consequentemente, nos adaptarmos com mais facilidade aos problemas que surgem à nossa frente. Graças a essa capacidade, quase infinita de aprendizagem, criamos a ideia de que a inteligência seria, a priori, apenas uma característica humana.
Considerando esses pontos, um grupo de astrobiólogos começaram a ponderar a possibilidade de que o nosso planeta possa ser inteligente, ou seja, que a Terra seja, de fato, um ser vivo e que também se adapte às adversidades em seu caminho. Essa talvez seja uma ideia difícil de compreendermos inicialmente, então vamos por partes. Primeiramente é fundamental entendermos o conceito de “Biosfera”, que nada mais é do que o conjunto de ecossistemas que existem em nosso planeta. Cada ecossistema, a grosso modo, pode ser visto como um ambiente no qual convivem de maneira harmônica animais, vegetais e minerais, no qual se auto regulam através de diferentes recursos como a cadeia alimentar, mutualismo etc.
Se cada ecossistema tem por si só uma auto regulação, a biosfera da Terra tem a tendência a se manter em equilíbrio, correto? Em parte sim, mas também deve-se considerar que elementos externos podem causar alterações nesse meio. A ação do Ser Humano, por exemplo, é um dos maiores desafios de adaptação que o nosso planeta vive atualmente, uma vez que acabamos poluindo, desmatando e, consequentemente, destruindo grande parte deste equilíbrio.
Outro tipo de desequilíbrio causado na biosfera do planeta está no impacto que meteoros causam aos habitantes da Terra, levando-os a extinções em massa. Tais eventos já ocorreram repetidas vezes ao longo da vida do nosso planeta, mas ainda assim as formas de vida sobreviventes encontraram um meio de se adaptar e de se manterem vivas, do mesmo modo que a própria dinâmica da Terra. Neste sentido, o que os astrobiólogos se perguntam é se é possível que exista uma inteligência planetária que regula todos esses sistemas e que consegue sobreviver, mesmo após essa série de impactos à natureza.
Uma característica que apontaria para essa inteligência planetária seria a capacidade das formas de vida (em seus mais diferentes níveis) serem capazes de se perpetuar, como ocorre hoje. Um excelente exemplo disso são os fungos que, através do mutualismo com diferentes árvores, criaram uma rede subterrânea de comunicação que não somente serve a sua espécie, mas também faz a ligação entre as mais diferentes árvores. Colocando em exemplos, se uma planta necessita de nutrientes, os fungos são capazes de transmitir essa necessidade em sua rede e redirecionar mais nutrientes para quem precisa, gerando assim um novo equilíbrio. Para os fungos, é interessante que haja vida vegetal, logo, eles garantem que exista essa comunicação sutil entre os elementos da natureza e a preservação da vida.
Esse é um pequeno exemplo de como o planeta tem seus meios de garantir a preservação da vida. Em geral, achamos que a terra é, a grosso modo, um conjunto de matéria combinada que, por acaso, resultou na vida e sua diversidade que conhecemos. Porém, basta pensarmos por um momento e perceberemos que todos os processos físicos, químicos e biológicos não podem ser somente fruto do acaso. Assim como nossa casa não se mantém harmônica por si só, nada na natureza pode ser vista como fruto de um jogo de possibilidades.
Sobre esse assunto, a tradição Tibetana nos fala algo similar. Segundo os ensinamentos de Helena Petrovna Blavatsky, a terra seria, de fato, um ser vivo e inteligente, capaz de doar seus elementos para abrigar uma infinidade de seres vivos. Assim, ela estaria muito além de uma grande rocha que flutua no espaço, mas doaria sua energia para garantir que outras formas de vida evoluam.
Em linhas gerais, quando observamos essa doutrina, temos a tendência à rejeição, uma vez que possuímos uma mentalidade científica e limitada a entendermos a vida somente como o que conhecemos. Desse modo, acreditar que nosso planeta seria uma entidade consciente, capaz de tomar decisões e ter atributos como a inteligência não nos é, a princípio, algo normal. Ainda assim, não podemos negar o fato de que os ecossistemas fazem um processo inteligente e que, ao seu modo, conseguem perpetuar a vida.
Ainda assim, do mesmo modo que a inteligência animal é diferente da humana, como discorremos por aqui, é fundamental entendermos que, ao falarmos de uma inteligência do planeta, também estamos diferenciando-a da nossa, uma vez que os processos biológicos da terra e sua diversidade de situações exigem, necessariamente, uma capacidade de discernimento ainda maior. É evidente que não podemos afirmar que tais ações são conscientes tal qual as nossas decisões, mas devemos estar abertos para entender a inteligência nesse aspecto mais amplo.
Ainda assim, a teoria da terra inteligente ainda precisa de mais fundamentos. Segundo o astrofísico Adam Frank, nem sempre os ecossistemas trabalham para o benefício do planeta e nem todas as espécies garantem isso. Basta tomarmos nossa própria espécie e suas decisões ambientais para termos uma noção dessa verdade. Assim, ao que parece para o astrofísico, estamos em uma fase imatura, no sentido de que apesar de existir uma inteligência, esta ainda não consegue tomar as melhores decisões. Assim, tal qual a teoria da evolução das espécies de Darwin, abre-se o pressuposto de que nosso planeta também está em evolução. Neste sentido, aproxima-se mais uma vez a doutrina do Oriente com a lógica científica, que nos fala que todo o Universo, do mais simples ser até os grandes corpos celestes, está em um processo evolutivo, no qual diferencia-se em suas etapas e formas, mas não pretendemos entrar neste assunto por agora.
O fato, enfim, é de que, por diferentes vias, seja a moderna ciência ou a tradição filosófica de diversas civilizações, parece-nos que caminhamos para uma conclusão similar: a de que a vida está inteiramente conectada e que não podemos fugir disso. Essa inteligência que rege o planeta e seus processos também faz com que estejamos vivendo dentro da natureza e seguindo suas leis. Talvez seja nossa tarefa compreender o nosso papel e atuar, de maneira inteligente, na preservação da Terra, tal qual os demais seres que nela habitam.