Algumas perguntas nos parecem tão óbvias que simplesmente não pensamos em respondê-las. Por exemplo, durante muito tempo a Humanidade conviveu com a luz e não percebeu a imensidão de possibilidades que ela carregava. Até que nos perguntamos “o que é a luz?” e descobrimos várias outras coisas, inclusive sobre a composição de estrelas há milhões de anos-luz de distância. Stuart Bartlett, pesquisador de ciência planetária do Instituto de Tecnologia da Califórnia, e Michael Wong, pesquisador no Laboratório de Exoplanetas da NASA, decidiram fazer uma dessas perguntas. Aliás, como cientistas, seus trabalhos são exatamente estes: fazer perguntas e tentar respondê-las. E considerando o fato de que eles são astrobiólogos, é possível supor que tenham feito a mesma pergunta que eu e você nos fazemos continuamente desde que Danilo Gentili, no extinto programa CQC, entrevistou o ET Bilu em Jataí, Goiás: “ainda existe Vida inteligente na Terra?”.
Se você não conhece o ET Bilu e não entendeu do que estamos falando, pode ter certeza que você não perdeu nada. Brincadeiras à parte, o homem sonha há muito tempo em saber se há Vida em outros planetas. E já investimos bilhões de dólares procurando ao menos um microbiozinho fora da Terra, que nos faça sonhar com vizinhos cósmicos. Há pouco tempo, voltamos a sonhar com essa possibilidade quando Jane Greaves e sua equipe da Universidade de Cardiff descobriram a presença de Fosfina na superfície de Vênus. Ele é um gás tóxico e com cheiro de peixe podre, mas que pode indicar alguma atividade biológica na estrela da manhã.
Porém, o que Bartlett e Wong propõem é algo muito mais revolucionário. Para eles, talvez nós não tenhamos encontrado Vida em outros ambientes extraterrenos e até aqui mesmo, porque estamos partindo de uma definição errada. A definição que a NASA usa para o termo é essa: “A vida é um sistema químico autossuficiente com a capacidade de ter uma evolução darwiniana.” Os cientistas afirmam que este conceito define bem a forma de Vida que conhecemos na Terra. Consumimos e processamos energia autonomamente e,
utilizamos processos químicos e carregamos informações em nossos RNA e DNA que nos permite evoluirmos e nos adaptarmos ao ambiente. Mas, e se considerarmos ambientes totalmente diferentes do nosso? Por que lá, em outro local, a Vida teria se desenvolvido de forma igual a nossa? Eles afirmam que não é possível comprovar que todas essas características próprias da Vida como a conhecemos hoje, estivessem presentes no início das aventuras dos seres viventes. Então, é possível que outras formas muito diferentes de Vida, estivessem atuando aqui neste planeta, e elas tenham dado origem à forma que conhecemos. Ou ainda, talvez nesse exato momento existam aqui na Terra outras formas de Vida que também estão em evolução, mas o seu mecanismo de aprendizado deve ser de alguma forma não material, diferente dessa que conhecemos, através de moléculas de RNA e DNA.
Portanto, ao invés de basear a busca de Vida em características que reduzem todo o Universo ao nosso padrão, eles propõem quatro pilares para a nova definição que chamaram de Vyda (como tem sido frequentemente e livremente traduzida). Para ser Vyda, o sistema, ou organismo deve:
1 – Dissipar energia – Os autores afirmam algo muito interessante: não pode haver Vida (ou Vyda) em equilíbrio estático. Tudo aquilo que é Vyvo interage com o ambiente e com outros seres. Dessa forma, ele captura e processa energia.
2 – Realizar alguma forma de autocatálise – Toda forma Vyvente cresce em tamanho, ou em população. É aquilo que observamos em uma cultura de fungos nos laboratórios de biologia, por exemplo. Se pegarmos o relato bíblico, podemos entender que aquela ordem do criador que dizia “Crescei e multiplicai-vos” valia para toda a Vyda, e não só para os Humanos.
3 – Buscar a homeostase – A homeostase é a característica que um sistema tem de buscar manter suas variáveis importantes entre faixas que lhes garantam a sobrevyvência. Considerando que no Universo tudo se relaciona com tudo, é aceitável pensar que variações do ambiente ameacem o equilíbrio que mantém algo Vyvo, e que esse algo possua instrumentos de defesa para manter-se Vyvo, da mesma forma que os mamíferos possuem mecanismos biológicos que regulam a sua temperatura do corpo, independente da temperatura do ambiente.
4 – Aprender – Para que seja considerado Vyvo, o sistema deve registrar informações sobre seu ambiente externo e interno, processar essas informações e realizar ações que retroalimentem positivamente sua probabilidade de sobrevivência / proliferação. Aqui na Terra, os seres vivos que conhecemos fazem isso através de suas moléculas de DNA e RNA.
Com essa nova forma de ver a Vyda, eles defendem que talvez encontremos novos seres vyvos aqui mesmo na Terra, bem debaixo de nossos narizes.
Foi impossível não lembrar de James Lovelock e sua hipótese de Gaia, em que ele faz uma relação do nosso planeta com o mito grego de Gaia, a deusa da Terra. Embora ele nunca tenha dito que a Terra era um ser vivo, talvez agora mude de ideia. Vejamos… Nossa nave-mãe captura e processa energia do cosmos, assim passou no primeiro teste; De acordo com a hipótese de Gaia: “a biosfera e os componentes físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de modo a formar um complexo sistema interagente que mantém as condições climáticas e biogeoquímicas preferivelmente em homeostase” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3tese_de_Gaia). Mais um ponto para Gaia; Todavia, não é possível afirmar, mesmo após horas de navegação no Google, que nossa Mãe-Terra aprenda, ou que cresça em tamanho e população. Desta forma, ficam faltando os pontos 3 e 4.
Mas, e se ampliarmos a busca? O Universo poderia ser considerado um grande ser vivo? Culturas tradicionais e antigas nos disseram há muito tempo que nosso Universo é um grande ser com Vyda. E há cientistas que defendam até que ele possua consciência. Talvez, nossa busca por um novo conceito de Vyda possa nos levar a desvendar esse Mistério.
Se há Vida, ou Vyda nesse enorme Universo não há quem possa afirmar, ou negar isso com veemência. Se você é adepto do método científico, cultivará dúvidas quanto a isso; Se prefere a visão espiritualista, talvez aceite com mais facilidade, afinal de contas, praticamente todas as tradições espirituais acreditam na Vida além do corpo. Não é objetivo deste texto, nem deste portal, encerrar esse dilema. Deixaremos para você, abaixo, duas visões acerca do assunto e esperamos que exerça sua liberdade em escolher aquela que mais fizer sentido para você.
“Conseqüentemente, a universalidade do termo “vida” é derivada da expectativa razoável de que ele pode ser aplicado a sistemas ainda não descobertos (ou não inventados) que existem em inúmeras escalas em todo o universo. Pode até haver uma classe de sistemas, ainda não descobertos e não descritos, que executa todos os quatro pilares da vida e algum quinto pilar também. Esses sistemas podem ser considerados superlegais. Embora a descoberta da super-vida certamente representasse uma mudança de paradigma, continuamos agnósticos sobre sua existência por enquanto.”
Bartlett e Wong, 2020
“Imagine esta quantidade de estrelas e de planetas que existem por aí… devem haver inúmeras formas de vida e nessas inúmeras formas de vida, deve haver seres tentando puxá-los, como há aqui, como houve aqui, como sempre será aqui. Onde houver vida haverá seres mais adiantados tentando puxá-los para a evolução. Eu não sei a forma dessas vidas, eu não sei que língua elas falam, mas eu sei o que eles dizem: eles chamam todos os seres de volta para Casa. Ecoa pelos quatro cantos do Universo, um chamado - ’De volta para a Casa do Pai, de volta para a Unidade!’”
Helena Petrovna Blavatsky