O Que é Ciência e Por Que Confiar Nela?
Nos últimos meses, a pandemia levou o conhecimento científico para o centro do debate. Nunca as pessoas deram tanta atenção para uma curva traçada em um plano cartesiano, como quando nos foram apresentados, ainda nos primeiros meses, as estimativas de morte que ameaçavam ser de até 1,4 milhões no Brasil. Média móvel, platô da curva, reinfecção, entre outros termos do jargão acadêmico, invadiram o cotidiano dos brasileiros do dia para a noite. Nossos telejornais e programas de entrevistas estão se tornando um lugar comum para cientistas, fisiologistas, estatísticos e médicos das mais variadas especialidades. A corrida pela vacina contra o coronavírus começa a rachar o senso comum, inclusive já se fala até em movimento antivacina.
Diante desta conjuntura, nunca foi tão oportuno se perguntar o que realmente é a Ciência? Por que devemos confiar nela?
Em primeiro lugar, é preciso entender que existem várias formas de adquirir conhecimento: Arte, Música, Literatura, Esporte, etc., sendo a Ciência um desses métodos, com características próprias, voltada para a investigação dos fenômenos da Natureza.
Uma das características que faz esse tipo de conhecimento ser classificado como científico é a ausência de dogmas, ou seja, nenhuma Verdade é absoluta ou incontestável. O verdadeiro cientista está disposto a mudar de ideia se as evidências indicarem que sua previsão estava errada. Sua meta é chegar à Verdades cada vez mais profundas e abrangentes, ainda que para isso tenha que voltar atrás, desconstruir teses, refazer pesquisas, etc.
Assim, o mundo científico nunca chega a Verdades absolutas, mas faz progressos e chega a Verdades provisórias através da observação, experimentação e argumentação, as quais serão no futuro atualizadas em novas descobertas. Após testes exaustivos, com métodos rigorosos e argumentos bem robustos, chega-se a um consenso científico a respeito de um dado problema. Então, nesse sentido, a Ciência, em tese, é uma construção coletiva que acontece à medida em que há uma concordância entre estudiosos do assunto, mas está sempre aberta à discussão e à crítica.
No entanto, hoje, como tudo tem sofrido muitas degenerações, perda de Valores Humanos e existe muita avareza e ambição, esses aspectos tendem a contaminar a Ciência. A busca fundamentalista pelo poder econômico, a vaidade, o egoísmo, são fatores que contaminam o processo científico. A bomba nuclear é um exemplo de instrumentalização da Ciência para criar uma arma de guerra com um poder muito destrutivo, mas opor-se à Ciência por esse motivo é fruto de um equívoco, já que a Ciência em si é amoral, ou seja, é apenas um instrumento, o coração Humano é que precisa estar limpo para lidar com uma ferramenta tão Nobre, do contrário a utilizará para o mal.
Apesar disso, a Ciência ainda vem se mostrando um caminho com muitos efeitos positivos para a nossa civilização. A expectativa de Vida, por exemplo, antes no Brasil era de 50 anos, hoje é de 80. Os métodos sofisticados de tratamentos de doenças na área da medicina, como os transplantes cardíacos, aliados com as inovações tecnológicas são outros exemplos do avanço da Ciência.
Podemos dizer que a marca maior desta civilização ocidental é o espírito científico e inovador. Hoje vivemos mais, nos comunicamos com muita velocidade e eficácia, nos transportamos em longas distâncias dentro de um curto espaço de tempo, estamos avançando nas descobertas aeroespaciais e aprimorando cada vez mais nossas técnicas de produção.
Esses resultados positivos nos sinalizam que o conhecimento científico é uma potência extraordinária para compreendermos e lidarmos com a Natureza. De sorte que não há uma ferramenta melhor para lidarmos com as adversidades nesses campos, a exemplo da pandemia que ora atravessamos. A experiência nos mostra que não temos uma alternativa mais eficaz para fazer uso na erradicação deste mal que vivemos atualmente do que o conhecimento científico. A economia, a política e a religião são áreas muito necessárias para a gestão da crise, mas o epicentro do problema está na Natureza, e suas leis somente são desvendadas pelo método científico. Uma boa vacina, eficientes modelagens matemáticas e estatísticas e um avançado tratamento médico são ferramentas salvadoras da Humanidade neste momento.
Claro que não podemos transformar a Ciência na “Religião” desta nova idade média em que estamos vivendo. Assim como, no passado as pessoas acreditavam e seguiam cegamente os sacerdotes, por eles possuírem uma suposta autoridade Divina, muitas vezes as pessoas seguem cegamente as palavras de indivíduos que possuem o título de cientistas. Da mesma forma que a Religião, na sua forma Pura é muito benéfica para a Humanidade, o método científico é a melhor ferramenta que possuímos atualmente. Porém, não podemos nos esquecer de que o Ser Humano é capaz de manipular, de mentir e de se aproveitar da desgraça alheia para lucrar com isso. Por isso, devemos também ser bastante céticos e não aceitar cegamente a informação que vem de somente uma fonte. Um pouco de ceticismo também se faz necessário.
Considerando esses alertas, devemos confiar na Ciência estando baseados na experiência. Não somos incipientes em matéria de pandemias e todas que já vencemos na história conhecida foram erradicadas com o método científico. Devemos confiar nesse tipo de conhecimento, pois ele sintetiza uma busca voraz do Espírito Humano pela Verdade. Então, que possamos receber as descobertas científicas de braços abertos e cheios de Esperança, pois é nesta aventura do Espírito Humano que mora a sua maior potência diante da Natureza.