Todo ser humano busca por respostas. Porém, nem sempre conseguimos encontrar o caminho da sabedoria sozinhos, afinal, se fosse fácil se tornar um profundo conhecedor da natureza, toda a humanidade já seria sábia. Assim, ao longo da história foi muito comum que indivíduos passassem a se organizar em escolas de filosofia, doutrinas espirituais e outros tantos meios para que, coletivamente, fosse buscado viver de modo mais harmônico com as ideias que os guiavam.
Podemos dizer que em praticamente todos os momentos históricos, em todas as partes do mundo, existiram pessoas que buscavam este caminho, ou caminhos, mesmo quando estes pareceram estar fechados. Durante a Idade Média, período que é conhecido como “idade das trevas” pela imposição de uma forma de pensar e em que a liberdade foi duramente cerceada, um grupo de pessoas se reuniu em torno de uma organização de construtores para continuar investigando os mistérios da humanidade e suas ideias. Estamos falando da maçonaria, que de forma velada seguiu trilhando os rumos do saber.
De forma geral, pode-se falar que a Maçonaria é uma instituição discreta, filosófica, filantrópica, educativa e progressista. Apesar de historicamente surgir na Idade Média, mais precisamente no século XV, é certo que sua antiguidade se dá em uma data anterior, visto que essa instituição foi por muito tempo tida como “secreta”. Sendo assim, não se sabe ao certo qual é a sua verdadeira origem ou antiguidade, mas este movimento tem como objetivo investigar as Leis Naturais da Vida, estimular a Moral, a Ética e as Virtudes transmitindo sua tradição para os que querem se tornar Seres Humanos melhores.
Apesar de não necessariamente seguirem oficialmente uma religião, seus membros acreditam em uma Força Superior que rege toda a existência, chamada de “Grande Arquiteto do Universo”. Comumente, pode-se associar esse “grande arquiteto” com o deus cristão, mas vale ressaltar que ambas são percepções distintas uma da outra. Também é interessante notar que a maçonaria, como organização, nasceu na França, local em que mais ganhou força ao longo dos séculos XVI e XVII, e por isso é comum que seus membros estejam vinculados à religião cristã. Porém, com o avanço da globalização e a integração de outros membros de diferentes culturas participando ativamente da organização, entende-se que a fé não é um impeditivo para quem deseja ser maçom.
Outro ponto que nos chama atenção é a forma administrativa da maçonaria. Os maçons se reúnem em células autônomas, chamadas de oficinas, ateliês ou lojas, todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si. Apesar disso, todas as lojas de um país respondem à Grande Loja, que se apresenta como um centro e que exerce sua autoridade e apoio às lojas menores. Apesar de não sabermos exatamente quantos maços há no mundo, visto que sua participação em alguns países ainda hoje é velada, estima-se que existam no mundo aproximadamente 6 milhões de integrantes, espalhados pelos 5 continentes.
Mas esses dados não são suficientes para abarcarmos a importância da maçonaria no mundo; por isso, vamos mergulhar um pouco mais em sua história e símbolos para compreender o valor desse movimento que atravessa os séculos.
HISTÓRIA
Há relatos de ritos cerimoniais característicos desta sociedade em meados do século XV; por isso, estima-se que desde essa época já existiam lojas maçônicas. Os historiadores buscam as origens do movimento em uma série de documentos conhecidos como Manuscritos Maçônicos, que datam de cerca de 1425 até o início do século XVIII, e se supõe que pertenciam a uma loja de pedreiros operativos.
Ainda não se sabe, porém, como essas organizações comerciais locais se tornaram as lojas maçônicas de hoje. Uma das principais teorias nos aponta que sua origem remonta a outros movimentos, sendo que um deles seria o Rosacruz e até mesmo os Templários. Uma das principais evidências está na relação entre o último dos templários, Jacques Demolay, e o título dado aos jovens aspirantes a maçons, que carrega o mesmo nome.
Sabe-se que eles sempre se apresentavam publicamente como confrarias de trabalhadores, especialmente construtores, arquitetos e pedreiros. Por isso, um dos seus principais símbolos é o esquadro e o compasso, instrumentos amplamente utilizados até hoje na construção civil. A guilda, porém, era a forma que os maçons tinham de se apresentar ao mundo e também de se protegerem, uma vez que a associação e suas funções gozavam de prestígio e de um importante papel social para a Europa que começava a sair das sombras da Idade Média. Isso acontecia por questões de segurança, já que no passado eles eram acusados de heresia e eram perseguidos por autoridades políticas e religiosas.
PARA SE TORNAR MAÇON
Para ser membro da maçonaria é necessário um convite formal feito por outros maçons, cumprir os juramentos e obrigações, e estar integrado a uma Loja, uma Grande Loja ou um Grande Oriente – nome dado a uma federação com pelo menos três Lojas maçônicas. Sendo assim, podemos dizer que a maçonaria não é uma organização aberta, pois só pode integrá-la quem for convidado. A seletividade pode afastar a maioria das pessoas, porém, ao mesmo tempo protege a maçonaria há séculos, pois é graças a esse sistema que se evita pessoas indesejadas no seio maçônico, além de garantir por meio dos laços de confiança que o membro da organização será acompanhado por pessoas próximas. Com isso, os segredos e princípios da maçonaria vem sendo preservados até então.
É importante entendermos que toda instituição que busca a longevidade passará pelo desafio de se manter íntegra aos seus princípios. Quanto mais as gerações avançam, mais fácil é distorcer ensinamentos, ideias e regras. Basta lembrarmos da brincadeira “telefone sem fio” e percebermos como uma mensagem pode, ao passar por diferentes pessoas, chegar errada até o seu ponto final. Com a seletividade, a maçonaria tentou – e ainda tenta – minimizar esses problemas e manter sua essência.
Os maçons se organizam em graus, como se fossem patamares de uma escada, cujo objetivo é estimular cada integrante a chegar ao seu topo. Esses títulos são símbolos que demonstram a conquista Moral de cada membro. Os três graus recebem nomes inspirados nas guildas de artesanato medievais, são eles os de “aprendiz”, “companheiro” e “mestre maçom”. Ao candidato destes três graus, são progressivamente ensinados os significados dos símbolos da maçonaria e são confiados os segredos dos cumprimentos, sinais e palavras usados como códigos para indicar a outros membros que ele foi iniciado. É através dos ritos cerimoniais que os ensinamentos Morais são passados e assimilados pelos membros.
SÍMBOLOS MAÇÔNICOS
Além dos ritos, a maçonaria também possui vários símbolos que trazem mensagens profundas. O “Olho que tudo vê” é um dos mais fortes e conhecidos símbolos da maçonaria. Ele é a representação da presença da Força Criadora do Universo e está presente em todas as lojas maçônicas para relembrar o olhar atento do “Grande Arquiteto do Universo”.
Este símbolo, inclusive, está presente na nota de um dólar, pois os principais personagens por trás da independência dos EUA eram maçons, por exemplo, George Washington e Benjamin Franklin.
Outro símbolo bastante conhecido é a sobreposição do compasso sobre o esquadro, tendo a letra G no meio. Além de fazer referência aos ofícios de arquiteto e construtor, cada uma das ferramentas tem um significado mais profundo. O compasso simboliza a possibilidade de se desenhar o círculo, símbolo da Alma Eterna, que não tem começo nem fim. O esquadro, instrumento usado para medir ângulos retos de quadrados ou retângulos, representa o corpo físico. E o “G” é o símbolo do Grande Arquiteto do Universo.
MULHERES NA MAÇONARIA
Historicamente, a maçonaria era composta apenas por homens, com algumas poucas exceções ao longo dos séculos. Apesar das esposas frequentarem alguns jantares e eventos, ou participarem de ordens paramaçônicas, elas eram proibidas de entrar em certos espaços das lojas ou participarem de qualquer cerimônia. Os Maçons entendem que tudo foi criado pelo Grande Arquiteto do Universo a partir de uma manifestação dual, semelhante ao princípio Yin-Yang / Masculino-Feminino da tradição taoísta. Os maçons alegam que os seus ritos são adequados para fortalecer a polaridade masculina, por isso a proibição de mulheres.
Mas algumas lojas maçônicas femininas ganharam maior popularidade no Século XX e, assim como os homens maçons, as mulheres conduzem rituais, cerimônias e iniciações com os princípios da maçonaria. Algumas pessoas discutem a modernização da maçonaria através de uma maior integração entre homens e mulheres nas lojas. Este, no entanto, é um tema que ainda gera muitos debates.
MAÇONARIA NO BRASIL
A primeira loja maçônica brasileira surgiu em Pernambuco no ano de 1796: o Areópago de Itambé, instalado por Manuel Arruda Câmara, um padre carmelita que deixou a batina para estudar medicina na Universidade de Montpellier na França. Após se especializar em Botânica, ele retornou a Pernambuco, e fundou esta loja, que viria a influenciar, anos mais tarde, a Conspiração dos Suassunas e a Revolução Pernambucana. O que os historiadores nos contam é que a maçonaria esteve presente em momentos fundamentais da história do mundo e também da do Brasil, como a Independência, a Proclamação da República e a Abolição da Escravatura.
ALGUNS MAÇONS FAMOSOS
Entre políticos, músicos, juízes de alto escalão e cientistas, ao longo de tantos anos de história, a maçonaria teve membros de destaque na sociedade, que deixaram um profundo legado para a humanidade. Entre eles, podemos destacar Beethoven, Napoleão Bonaparte, Henry Ford, Oscar Wilde, Fernando Pessoa, Mozart, Churchill, José Bonifácio, Dom Pedro I e tantos outros.
OS CAMINHOS EM BUSCA DO QUE É MAIS HUMANO
Por trás de todo esse movimento maçônico e de tantas personalidades que passaram e ainda passam por sua Lojas e Templos, percebemos uma necessidade humana de buscar por respostas mais profundas para a Vida, um Ideal Humano que dê sentido à nossa existência. E independente do caminho que escolhemos, precisamos perceber que, apesar das diversas sociedades que promovem os Ideais de Fraternidade, Igualdade e Liberdade, é importante sempre estarmos atentos a este impulso que existe dentro da nossa Alma, pois essa vontade de se torna um ser humano melhor e contribuir com a sociedade, sempre partirá de cada um de nós.
Logo abaixo, você pode ler um poema de Fernando Pessoa, inspirado na maçonaria:
O Verdadeiro Segredo Maçônico
É um segredo de vida
e não de ritual
e do que se lhe relaciona.
Os Graus Maçônicos comunicam àqueles que os recebem,
sabendo como recebe-los,
um certo espírito,
uma certa aceleração da vida
do entendimento
e da intuição,
que atua como uma espécie
de chave mágica dos próprios símbolos,
e dos símbolos
e rituais não maçônicos,
e da própria vida.
É um espírito,
um sopro posto na Alma,
e, por conseguinte,
pela sua natureza,
…incomunicável.
(Fernando Pessoa)